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Relato de um Certo Oriente
A obra de estréia do escritor amazonense nasceu em 1989, quando o autor apresentou à Companhia das Letras o manuscrito de seu livro. Aprovado por Luiz Schwarcz, proprietário da Cia das Letras, o romance foi finalmente publicado, depois de um longo percurso de escrita, iniciado em 1982, na capital francesa. Neste romance o escritor navega em torno das veredas da memória, do universo da tradição oral tão bem preservada no Amazonas, das dificuldades da convivência familiar e da esfera das vivências cotidianas entre amigos no universo dos imigrantes de origem árabe, tecendo desta forma um drama sem igual, baseado mais nos conflitos interiores dos personagens, especialmente da protagonista.
Dois Irmãos
O livro Dois Irmãos, lançado em 2000, é marcado pela questão da identidade, que perpassa toda a cultura pós-moderna, especialmente a literatura, pois representa a busca do próprio ser humano, que se sente, hoje, como um nômade, um incessante exilado, onde quer que esteja. Este traço é ainda mais acentuado nesta obra, povoada por personagens que deixaram sua pátria para tentar no Brasil uma vida nova, e por seus descendentes, que ainda não se sentem à vontade no lugar que ocupam. O fio que guia a construção desta identidade é a memória, praticamente a protagonista da produção literária deste autor, pois é ela, bem como sua eventual ausência, que orientam esta narrativa. Dois Irmãos é a obra mais explorada e analisada deste autor, que aqui desenvolve os temas já presentes em Relato de um Certo Oriente, embora de uma forma menos rebuscada e mais singela, o que propicia ao leitor uma compreensão maior de sua temática.
Cinzas do Norte
Esta terceira ficção do autor conquistou também o Jabuti, como os dois anteriores. Aqui o cenário urbano é Manaus, mais precisamente a Zona Franca de Manaus. O autor retrata a criação deste região no início do regime militar no Brasil. Ele apresenta igualmente o nascimento do bairro da Cidade Nova, paisagens preferidas da artista plástica Mundo. Milton se vale destes eventos para reproduzir os relacionamentos conflituosos entre vida cultural e progresso, movimento regionalista e escola provençal, alunos e militares. O protagonista representa o próprio desterro.
Órfãos do Eldorado
Aqui a trama é conduzida por Arminto Cordovil. Lembrando um pouco os personagens de Guimarães Rosa, o idoso solitário, recluso nas margens do Rio Amazonas, conta a um personagem de passagem a sua própria jornada existencial. Ele tece os fios de suas memórias e com eles compõe um trajeto determinado pela presença da morte. No caso, o falecimento de sua mãe no momento do nascimento dele. O pai não perde uma oportunidade de atribuir a partida de sua mulher ao filho. Ele nem parece um descendente autêntico e sim um bastardo. Portanto, ele é órfão duas vezes. Ao receber o legado do patriarca, acumulado durante a era áurea da Borracha, o protagonista se revela incapaz de gerir esta fortuna e acaba mergulhando na miséria. Essa perda e mais sua paixão obsessiva pela índia Dinaura, também sem pais, o leva a sonhar com uma espécie de Eldorado.
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