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Judas, o Obscuro - Thomas Hardy
A trajetória de Judas aqui narrada no estilo trágico, porém de uma forma serena, tradução de uma dócil angústia, não desperta a compaixão do leitor. Ele não demonstra empatia com o protagonista, pois o autor, com a recorrência a um texto que se revela natural, desprovido de ímpetos sonoros ou de impulsos referentes ao conteúdo, o leva a acatar a dor do personagem como algo intrínseco a ele e, portanto, essencial para a trama que se desenrola. A tragédia está presente na aflição que irrompe do interior das criaturas de Hardy, algo realmente entranhado nelas.
A Moreninha – Joaquim Manuel de Macedo
Este livro narra o envolvimento afetivo entre Augusto e Dona Carolina, conhecida como A Moreninha. A trama se inicia quando Filipe, irmão da protagonista, chama seus amigos do curso de Medicina para se hospedarem na residência de sua avó durante o feriado de Sant’Ana. Os quatro vão para a Ilha de Paquetá e aí Augusto e Carolina se conhecem. O irmão dela faz uma aposta com o amigo, um Don Juan inveterado; se ele retornar da viagem apaixonado, terá que escrever um romance. Augusto passou por uma grave decepção amorosa na infância, e isso dificulta seu envolvimento com as mulheres. Mas Carolina parece não se importar com a fama do rapaz.
Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida
Esta é uma obra que, apesar de ser considerada integrante do movimento romântico, destoa nitidamente das características desta escola. Para conquistar a atenção do leitor, o autor criou uma narrativa que lembra muito as notícias de um jornal, composta com o discurso do povo, típico das camadas baixas e médias, exposto em capítulos concisos e de certa forma autônomos, cada um deles representando, normalmente, um evento integral. Leonardo é o protagonista desta história, o típico malandro carioca, concebido durante uma travessia marítima que conduz seus pais de Portugal ao Brasil. Desde criança ele revela seu mau gênio e antevê os desafios com os quais irá se deparar em sua existência. Rejeitado pelos pais, só lhe resta o amparo do padrinho, proprietário de uma barbearia. A forma ilícita como este profissional conquistou seu capital simboliza o famoso ‘jeitinho brasileiro’, já comum na vida social deste período.
Senhora – José de Alencar
Esta obra, lançada em 1875, enfoca a questão do matrimônio como alavanca para se alcançar um status social mais elevado. Nela o autor critica determinados princípios morais e a forma de agir dos integrantes da seleta sociedade do Rio de Janeiro no século XIX. Assim, tópicos mais comuns nas histórias realistas do que nas românticas são aqui já apontadas por Alencar: a intensa condenação do comportamento superficial; dos padrões burgueses inconsistentes, frutos do sistema capitalista nacional em ascensão nesta época; e um nível de intimismo psicológico. Aurélia Camargo, jovem criada sem pais e pertencente a uma classe social inferior, mas de personalidade íntegra, é a noiva de Fernando Seixas. Ele corresponde ao seu amor, mas se deixa levar pelas ilusões da sociedade, assume dívidas de grande proporção e deixa sua família na miséria. Diante da primeira oportunidade ele rompe com sua amada e se une a uma garota rica, Adelaide. Aurélia passa a detestar o sexo masculino, mas ao receber uma herança vê nela a oportunidade de se vingar de Seixas.
Clarissa – Érico Veríssimo
Esta é a obra de estreia do autor e com certeza fica impressa em sua vida, já que sua filha receberá o mesmo nome da protagonista, e na sua produção literária, voltando a aparecer em mais dois romances de sua autoria, Música ao Longe e Um Lugar ao Sol. Aqui a personagem aparece aos 13 anos, aprendendo a ver tudo que a cerca com o olhar da imaginação. Em alguns momentos ela chega a ter medo dessa visão de mundo. Ela veio há pouco tempo do interior para se hospedar em uma pensão de Porto Alegre. Junto aos habitantes do lugar a menina conhece pouco a pouco as várias nuances da existência, em alguns momentos de forma serena, em outros no susto.