Concretismo (1940-1960) é um movimento artístico-literário da geração Pós-Modernista. Consiste em uma arte de vanguarda que busca refletir a realidade pelo ponto de vista racional e em consonância aos avanços tecnológicos. Seu referencial estético é marcado pela diversidade de temas e dos modos de expressão da realidade a partir da exploração poética do espaço e da valorização da forma e da comunicação em detrimento do conteúdo.
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Contexto histórico-social do Concretismo
O Pós-Moderismo surgiu em meio a uma crise de valores e angústias humanas provocadas por Grandes Revoluções e Guerras. Assim, as fronteiras ideológicas entre direita e esquerda, bem e mal, certo e errado, belo e feio tornaram-se pouco nítidas para os artistas da época, sensíveis ao contexto de incertezas, os quais começaram a questionar os modelos estéticos da época.
O Concretismo tem suas origens em um movimento chamado Neoplasticismo, iniciado na Holanda, e impulsionado com a circulação da revista De Stijl (1917-1928), criada pelos artistas Piet Mondrian (1872-1944) e Theo van Doesburg (1883-1931).
O movimento, que exalta as necessidades de clareza, certeza e ordem, inicialmente, limitou-se às regiões da Holanda, Suíça e França, mas foi ganhando força por toda Europa e alcançou status de estilo reconhecido internacionalmente na década de 1950.
O Neoplasticismo tem relação com o Abstracionismo. A ideia defendida por Theo van Doesburg era criar uma arte semanticamente abstrata mas concreta em suas formas geométricas; assim, opta pelo nome de “Concretismo”, derivado de “concreto”, por considerar pejorativo o termo “abstrato”.
Esse conceito influenciou e continua influenciando e inspirando tendências nas áreas da arquitetura, design gráfico e artes plásticas. Outros artistas precursores deste movimento são Max Bill, Pierre Schaeffer e o poeta Vladimir Mayakovsky.
Observe o estilo de Theo van Doesburg em uma de suas telas pintada em 1916:
Agora, veja o exemplar de um número da revista De Stijl:
Na arquitetura, observe o conceito estético de Max Bill:
Características do Concretismo
Os princípios do Concretismo foram publicados na revista De Stijl, em 1930, através de um manifesto assinado por Theo van Doesburg, Carlsund, Doesbourg, Hélion, Tutundjan e Wantz. Nas palavras dos artistas:
“A arte é universal. A peça de arte deve ser inteiramente concebida e formada na mente antes de sua execução. Ela não deve receber nenhuma informação da natureza, da sensualidade nem do sentimentalismo. Queremos excluir o lirismo, o drama, o simbolismo, etc. A pintura deve ser inteiramente construída com apenas elementos plásticos, ou seja, superfícies e cores. O elemento pitoresco não tem nenhuma intenção além de 'si mesmo'; como consequência, a pintura não tem nenhum significado além de si mesma. A construção da pintura, bem como a de seus elementos, deve ser simples e visualmente controlável. A técnica de pintura deve ser mecânica, isto é, exata, anti-impressionista. Um esforço em direção à clareza absoluta é obrigatório”.
No Concretismo, é comum que os artistas recorram a noções e fórmulas das áreas da matemática e da física para a formulação das obras artísticas, como na tela Max Bill, Variation 14 (1938), em que o infinito é representado.
Como vimos, o Concretismo foi um dos caminhos estéticos trilhados no Pós-Modernismo atribuindo destaque à “matéria” no mundo contemporâneo. O destaque à matéria, revela-se na certeza de que as coisas podem ser tocadas, cheiradas, fazer barulho, que elas refletem a luz, projetam sombras.
A “consciência material” nas obras de arte permite que os artistas explorem diferentes possibilidades de criação e interação com o público. Em contrapartida, o sentido deixa de ser algo preexistente para se definir em um processo que se inicia com a concepção de uma obra quando ela é “lida” pelo público. A experimentação, por assim dizer, torna-se o princípio norteador da estética Concretista.
Na década de 1960, a arte é aliada à mídia, que busca atingir o grande público com a recriação de imagens de produtos como sopas enlatadas e esponjas de aço, originando a pop art; no cinema, Jean-Luc Godard investe no experimentalismo, explorando a associação e a sobreposição de imagens nas telonas.
Concretismo na literatura
A partir da década de 1940, a produção literária também mudou suas bases conceituais e estilísticas. Os poetas desejavam devolver aos poemas o rigor formal, rejeitado pelos primeiros Modernistas, e passaram a privilegiar o trabalho com a materialidade do texto poético (sons, ritmos, rimas, disposição dos versos, formas) retomando algumas formas fixas e modelos estéticos.
A preocupação com o resgate da valorização da forma poética pode ser percebido na escolha da palavra exata, muitas vezes desdobradas em metáforas, que contribuem para a ampliação de sentidos de um poema para uma infinidade de campos semânticos. As principais características da poesia concreta são:
- aproveitamento do espaço em branco da página;
- a abolição do verso tradicional;
- disposição geométrica do conteúdo;
- conteúdo voltado aos aspectos visual e fonético (sonoro);
- uso de figuras de linguagens como aliterações, assonâncias, metáforas e paronomásias;
- emprego de caracteres tipográficos, desenhos, formas;
- uso de neologismos;
- comunica-se por meio da relação estrutura-conteúdo;
- ruptura com a sintaxe;
- abolição do eu-lírico;
- rejeição à expressão subjetiva.
Veja a seguir dois poemas do poeta brasileiro Augusto de Campos, um dos precursores e maiores incentivadores do Concretismo no Brasil:
É possível observar que a temática do poema Luxo é atemporal. O poema é composto por um única palavra “LIXO”, escrita em cores douradas, e formada pela repetição da palavra “LUXO”. Neste texto há um forte apelo social e teor crítico em relação a uma sociedade dominada pelo consumo/consumismo, que favorece o luxo e abandona o essencial. A poesia concreta veio para combater a exclusividade do verso, promovendo a expansão dos sentidos da poesia. Além disso, incorpora o signo visual como elemento carregado de significado que interage com as palavras, criando sentidos e multiplicando as possibilidades de leituras.
Referências
https://pt.wikipedia.org/wiki/Theo_van_Doesburg
https://en.wikipedia.org/wiki/Endlose_Treppe
https://www.wikiart.org/en/max-bill/fifteen-variations-on-a-single-theme-v-14-1938
CAMPOS, Augusto de. Poesia – 1949-1979. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p. 119.