Lista de questões de vestibulares sobre Guimarães Rosa e suas obras. Ler artigo Guimarães Rosa.
De Sagarana, obra de J G Rosa NÃO É CORRETO afirmar que:
compõe-se de nove contos de tamanhos diferentes, inseridos todos já na matéria do sertão.
apresenta linguagem da maturidade roseana, baseada na oralidade sertaneja, com aproveitamento de regionalismos e arcaísmos.
recebeu o nome Sagarana, termo de origem puramente tupi e que indicia o rol de atos heroicos praticados por valentes guerreiros no combate às injustiças sociais e de fundo político.
opera uma gama diversificada de enredos que envolvem personagens características do sertão de Minas Gerais.
Leia o excerto de “O Burrinho Pedrês”, publicado em Sagarana (1946), de Guimarães Rosa, e ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
“Apuram o passo, por entre campinas ricas, onde pastam ou ruminam outros mil e mais bois. Mas os vaqueiros não esmorecem nos eias e cantigas, porque a boiada ainda tem passagens inquietantes: alarga-se e recomprime-se, sem motivo, e mesmo dentro da multidão movediça há giros estranhos, que não os deslocamentos normais do gado em marcha – quando sempre alguns disputam a colocação na vanguarda, outros procuram o centro, e muitos se deixam levar, empurrados, sobrenadando quase, com os mais fracos rolando para os lados e os mais pesados tardando para trás, no coice da procissão. – Eh, boi lá! ... Eh-ê-ê-eh, boi! ... Tou! Tou! Tou... As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado Junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...
‘Um boi preto, um boi pintado, cada um tem sua cor. Cada coração um jeito de mostrar o seu amor.’
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito... Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...” (ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 37)
O processo estético literário de Guimarães Rosa se constrói por meio da propensão à representação genérica e desindividualizadora de cenas e personagens, baseada no senso de desumanização da existência, revitalizando não só o regionalismo brasileiro como também os recursos da expressão poética;
A narrativa se constrói por meio do registro das impressões que a realidade sertaneja desperta no espírito do narrador no momento em que a mesma se verifica. Nesse caso, as impressões conduzem a repercussões afetivas profundas, que levam a um estado de nostalgia;
A narrativa se constrói por meio da abolição das fronteiras entre narrativa e lírica, por isso há uma imersão na musicalidade da fala sertaneja, que o autor procura fixar no ritmo de uma construção frasal na qual soam cadências populares, folclóricas e medievais, demonstrando que em Sagarana já é perceptível o trabalho elaborado da linguagem e o inventário dos processos da língua;
O processo estético literário de Guimarães Rosa se constrói por meio da teoria de que a imaginação é a faculdade essencial do artista, porque lhe permite recriar a realidade segundo um novo plano. Assim, revitaliza não só o regionalismo brasileiro como também os recursos da expressão poética, com a crença de que as imagens são o ornamento essencial para revelação da realidade profunda das coisas;
A narrativa se constrói por meio da elaboração de uma linguagem simples e próxima da realidade, que visa representar a oralidade da fala sertaneja. Dessa forma, a realidade é interpretada como um todo orgânico em que a natureza e o homem estão intimamente associados e sujeitos aos mesmos princípios, leis e finalidades, demonstrando que em Sagarana já é perceptível os fundamentos estéticos da obra de Guimarães Rosa.
Na coletânea Sagarana (1946), de Guimarães Rosa, há uma unidade resultante do ordenamento e da disposição dos elementos estéticos e contextuais constitutivos da narrativa, que revelam a circularidade das histórias e, ao mesmo tempo, a unidade da obra como um todo.
Nessa perspectiva, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
Os episódios, cenas e personagens de uma história repercutem, atuam, influenciam ou modelam os de outra história, resultando na unidade de Sagarana. Como, por exemplo, o pretinho de “O Burrinho Pedrês”, que de certa maneira se une ao pretinho Tiãozinho de “Conversa de Bois”, ou no caso do burrinho Sete-de-Ouros, de “O Burrinho Pedrês”, que se liga à mula ruana de “Corpo Fechado” e ao jegue que aparece em “A Hora e Vez de Augusto Matraga”;
Em Sagarana há um regionalismo marcado por uma dimensão primitivista. Nesse sentido, o que dá unidade a obra é um primitivismo temático, que valoriza histórias características de uma determinada região brasileira, marcadas pelo humor, pela paródia e pela exaltação do folclórico e do popular;
O regionalismo presente em Sagarana é marcado pela dualidade estilística predominante entre os regionalistas brasileiros. Guimarães Rosa escreve como homem culto nos momentos de discurso indireto (narrador) e, nos momentos de discurso direto (fala das personagens), procura reproduzir não apenas o vocabulário e a sintaxe, mas o próprio aspecto fônico da linguagem do homem sertanejo. Assim, a unidade da obra se dá por meio de um narrador culto e personagens sertanejas;
A unidade de Sagarana se dá pela libertação da palavra das regras sintáticas, tornando-a mais solta e independente. Isso motiva associações e resulta na superexposição de ideias e de imagens, sem perspectiva nem lógica intelectual, possibilitando a representação da vida sertaneja;
A unidade de Sagarana se dá pela reformulação do regionalismo e por uma nova conceituação de brasilidade como postura ideológica. Isso liga a obra à tradição literária brasileira, principalmente ao Romantismo, pois retoma com intensidade a preocupação com a realidade brasileira, notadamente na área da problemática social das grandes camadas do povo.
Leia o excerto de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, publicado em Sagarana (1946), de Guimarães Rosa, e ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
“E, páginas adiante, o padre se portou ainda mais excelentemente, porque era mesmo uma brava criatura. Tanto assim, que, na despedida, insistiu: – Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.” [p. 356] [...] “Quando ficou bom para andar, escorando-se nas muletas que o preto fabricara, já tinha os seus planos, menos maus, cujo ponto de início consistia em ir para longe, para o sitiozinho perdido no sertão mais longínquo [...] que era agora a única coisa que possuía de seu. Antes de partir, teve com o padre uma derradeira conversa, muito edificante e vasta. E, junto com o casal de pretos samaritanos, que, ao hábito de se desvelarem, agora não o podiam deixar nem por nada, pegou chão, sem paixão. Largaram à noite, porque o começo da viagem teria de ser uma verdadeira escapada. E, ao sair, Nhô Augusto se ajoelhou, no meio da estrada, abriu os braços em cruz, e jurou: – Eu vou p’ra o céu, e vou mesmo, por bem ou por mal!... E a minha vez a de chegar... P’ra o céu eu vou, nem que seja a porrete!... E os negros aplaudiram, e a turminha pegou o passo, a caminho do sertão.” [p. 357-358] [...] “E o povo, enquanto isso, dizia: – ‘Foi Deus quem mandou esse homem no jumento, por mór de salvar as famílias da gente!...’” [p. 385] “Mas Nhô Augusto tinha o rosto radiante, e falou: – Perguntem quem é aí que algum dia já ouviu falar no nome de Nhô Augusto Esteves, das Pindaíbas! [...] Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue, e de seu rosto subia um sagaz contentamento. [...] Depois, morreu.” [p. 386] (ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984)
A narrativa é constituída pela presença constante da religiosidade, vista como a possibilidade de salvação do homem por meio da fé cristã, ou seja, é uma religiosidade marcada por valores ideológicos de uma determinada religião. Tal situação é perceptível na presença do padre e na transformação de Nhô Augusto no herói santificado que salva a comunidade;
A narrativa é constituída pela presença constante da religiosidade, vista como a possibilidade de salvação do homem por meio do aperfeiçoamento da consciência individual, ou seja, é uma religiosidade que deve ser pensada para edificar valores como coragem, alegria e amor. Tal situação é perceptível na trajetória de Nhô Augusto em busca da redenção;
A religiosidade representada na narrativa está marcada pela presença de Deus em conflito com o hedonismo, que teima em se manifestar. Dessa maneira, a visão de transcendência não constitui necessidade fundamental, pois o vago e difuso religiosismo de Nhô Augusto, expresso na frequente menção a Deus, é mais categoria idealizante ou exclamação de socorro emitida por uma sensibilidade carregada do sentimento de culpa, do que profissão de fé;
A religiosidade representada na narrativa está marcada pela busca do apaziguamento, revelada por meio da tentativa de fusão ou identificação do amor humano e do amor divino. Por isso, na trajetória de Nhô Augusto, a ideia central é alcançar o arrependimento, tanto que o tema da morte, igualmente presente, corre paralelo com um intenso impulso de autopunição;
A narrativa é constituída pela presença constante da religiosidade, vista como concepção filosófica que preconiza as leis científicas sobre a natureza como válidas. Sendo assim, a trajetória de Nhô Augusto representa a busca do perene humano no drama da existência, mas sem preocupações de ordem transcendente, pois o objetivo é apresentar elementos essenciais e universais da realidade por meio da constituição de uma ação moral.
Leia atentamente o trecho a seguir, retirado do conto O burrinho pedrês, parte do livro Sagarana, de Guimarães Rosa, e marque a única alternativa correta.
E Sete-de-Ouros, que sabia do ponto onde se estar mais sem tumulto, veio encostar o corpo nos pilares da varanda. Deu de cabeça, para lamber, veloz o peito, onde a cauda não alcançava. Depois esticou o sobre-beiço em toco de tromba e trouxe-o ao rés da poeira, soprando o chão. Mas tinha cometido um erro. O primeiro engano seu nesse dia. O equívoco que decide o destino e ajeita caminho à grandeza dos homens e dos burros. Porque “quem é visto é lembrado”, e o Major Saulo estava ali: - Ara, veja, louvado tu seja! Hô-hô...Meu compadre Sete-de-Ouros está velho... Mas ainda pode agüentar uma viagem, vez em quando... Arreia este burro também, Francolim![...] O Major dera de taca no parapeito, muitas vezes, alumiando raiva nos olhos verdes e enchendo o barrigão de riso. Depois voltou as costas ao camarada, e, fazendo festas à cachorrinha Sua-Cara, que pulara para cima do banco, começou a falar vagaroso e alto, mas sem destampatório, meio rindo e meio bravo, que era o pior. (p.13) ROSA, Guimarães. O burrinho pedrês in Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1956.
Sagarana é um livro de contos, publicado em 1946, no qual o autor privilegia a cultura nordestina. É um marco no regionalismo brasileiro, que se manifesta pela primeira vez no Romantismo, mas está presente também no Modernismo;
Durante a viagem de que Sete-de-Ouros participa, muitas histórias são contadas pelos vaqueiros; são representantes da tradição oral e trazem a marcada cultura mineira. Apesar dos aspectos regionais, as obras de Guimarães Rosa têm caráter universal;
O fato de Sete-de-Ouros ser solicitado para a viagem torna-se fundamental para o desenvolvimento da narrativa, que tem como substrato a idéia de que o mais esperto sempre vence;
A linguagem, em Sagarana, tem grande destaque. No trecho selecionado, por exemplo, encontram-se a onomatopéia, a paronomásia, a metáfora e a anáfora, figuras de linguagem muito utilizadas na poesia, mas presentes na prosa roseana;
Badú, o condutor de Sete-de-Ouros, consegue sobreviver à enchente graças ao fato de saber levar o burrico por caminhos que só ele conhecia, enquanto os outros vaqueiros pereciam diante da força da correnteza.
Sobre o conto Conversa de bois, presente no livro Sagarana, de Guimarães Rosa, e marque a única alternativa correta.
Conversa de bois é um conto que tem ligações com a fábula, pois nele os personagens animais falam e quando é necessário ajudam o condutor da carroça a encontrar o caminho de volta para casa;
As relações entre o homem e os animais são estreitas no conto, uma vez que há uma cooperação mútua, pois Agenor, percebendo as necessidades dos animais, dá-lhes o que precisam: água, capim e carinho;
Os principais personagens do conto são: Timborna, que narra o caso, e o ouvinte, que anota a história para recontá-la, destacando os aspectos memorialísticos do que ouve;
A presença da frase em Latim, no início do conto, dá o tom da narrativa, em que prevalecem as citações em língua estrangeira sobre os neologismos, desprezados por Guimarães Rosa, como se percebe também no trecho acima;
O interlocutor de Timborna, ao propor o reconto das histórias ouvidas, remete o leitor à figura do próprio Guimarães Rosa, que tinha por hábito, em suas viagens, anotar as histórias que ouvia e transformá-las em material literário.