Literatura barroca no Brasil

Mestra em Letras e Linguística (UFG, 2016)
Licenciada em Letras-Português (UFG, 2009)

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O Barroco foi um movimento cultural e artístico iniciado na Itália no final do século XVI e perdurou até o início do século XVI, alcançando vários países da Europa e algumas de suas colônias, como o Brasil. A arte barroca refletiu um período de instabilidade e incertezas, marcado pela dualidade entre a racionalidade e a fé cristã.

A reação católica ao protestantismo influenciou as característica do Barroco, cujo objetivo era a fusão de duas visões opostas: o antropocentrismo renascentista e o teocentrismo resgatado pela Contrarreforma. Essas posturas conflitantes fizeram com que a arte barroca focalizasse as agústias e crises existenciais humanas.

O desafio dos artistas era representar um mundo instável, cheio de contrastes, que traduzisse a tensão entre a aspiração à harmonia e à felicidade eternas e a beleza da luta e do sofrimento humanos. Por toda Europa, o surgimento de academias e agremiações de poetas possibilitou o intercâmbio de estudos sobre poesia e sobre tratados de retórica dos clássicos latinos, mas a circulação dos textos ainda era pequena, restrita às elites.

Barroco no Brasil

No século XVII, o país ainda era uma território pouco explorado, à exceção de alguns centros urbanos como Salvador e Recife, tornando a produção, a circulação e o consumo de obras literárias ainda era muito restritos. A publicação do poema épico Prosopopeia, em 1601, do escritor Bento Teixeira, é considerado o marco inicial do Barroco no Brasil.

Outros grandes nomes da literatura barroca no Brasil são padre Antônio Vieira e Gregório de Matos.

Padre Antônio Vieira

Os sermões de padre Antônio Vieira são famosos pelas engenhosidades argumentativa e retórica. O impecável trabalho com as palavras possibilitou a entrada do jesuíta nas cortes europeias e influência com o rei português. Vale destacar que o mesmo domínio das palavras também fez com que padre Antônio Vieira fosse vítima e perseguido pelo Tribunal do Santo Ofício. Podemos destacar dois importantes sermões que tratam sobre a vida na colônia:

  • Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, pregado na Bahia, em 1640, convocando a população a reagir contra a invasão dos holandeses e a doutrina protestante.
  • Sermão da primeira dominga da Quaresma, pregado no Maranhão, em 1653, a partir do qual tenta convencer os colonos a libertarem os indígenas escravizados.

Em seus sermões, o jesuíta empregava estratégias discursivas oscilando entre a formalidade da língua e a descontração da oralidade para persuadir seus interlocutores. A utilização de metáforas e de analogias permitia que as passagens mais obscuras da doutrina católica fosse repassada aos fiéis sem grandes questionamentos.

Gregório de Matos

Para alguns estudiosos, Gregório de Matos é considerado o primeiro grande poeta brasileiro. Ficou conhecido pelos perfis lírico, sacro e satírico de seus textos. Na lírica, o autor compara a beleza feminina às maravílias da natureza, retoma temas clássicos como a dualidade entre o espírito e a matéria, e matém a qualidade estética sem a artificialidade da linguagem cultista. Na poesia sacra, Gregório aborda temas como a fragilidade humana frente ao pecado, à morte e à condenação na vida eterna. Na poesia satírica, o autor denuncia, com irreverência, aspectos negativos da vida na Bahia e em Pernambuco, como a corrupção de políticos e de mebros da igreja católica. Por isso, foi chamado de “boca do inferno”.

Características do Barroco

A poesia barroca é fruto de muito estudo e trabalho, considerada uma arte feita por poetas para poetas. As disputas literárias promovidas nas academias estimularam a sofisticação dos textos, a partir dos quais os artistas demonstravam o melhor domínio da retórica clássica no desenvolvimento de temas já consagrados na literatura. Veja algumas das características mais marcantes da literatura barroca:

  • Fusionismo: a busca incessante pela união entre os opostos (razão x fé) leva os escritores a utilizarem figuram de linguagem como antíteses e paradoxos.
  • Utilização de imagens que simbolizam a indefinição e o contraste, como o crepúsculo e a aurora.
  • Visão pessimista da vida: tristeza e sofrimento em contraste à felicidade e à glória da vida celestial.
  • Valorização da estética do feio: exploração das condições de miséria, da dor e do sofrimento da vida humana.
  • Linguagem rebuscada: o trabalho minuncioso e detalhista dos artistas barrocos revelam a preferência pela ornamentação excessiva, cheia de imagens, figuras de linguagem e jogos de palavras.
  • Dinamismo e teatralidade: os traços hiperrealistas atribuem às obras um caráter exagerado destinado a chocar o público.
  • As temáticas escolhidas pelos autores abordam a fragilidade da vida humana, a efemeridade das coisas, a destruição da beleza pela ação do tempo e as contradições do amor.
  • Utilização de sinonímias, antonímias, figuras de linguagem como metáforas, antíteses, paradoxos e hipérboles para o desenvolvimento dos temas e criação de imagens nos poemas.
  • Cuidado com a organização e estrutura dos textos: a complexidade dos poemas barrocos exigia que o leitor realizasse várias leituras para compreendê-los.

As correntes do Barroco: Cultismo e Conceptismo

O Cultismo é predominante nos textos poéticos e caracteriza-se pelo emprego de linguagem rebuscada, jogos de palavras (trocadilhos, perífrases, sinonímias, antonímias, homonímias), jogos de imagens e jogos de construção (figuras de linguagem e de sintaxe). Os poetam procuram explorar os sons e as cores para criarem imagens e alcançar estímulos sensoriais dos leitores.

O Conceptismo predomina nos textos em prosa, a partir dos quais os autores buscam seduzir o leitor pela intelectualidade, pela valorização do conteúdo e da essência da significação. Para tanto, o escritor conceptista apresenta comparações ousadas, metáforas, hipérboles. Os sermões de Padre Antônio Vieira são considerados os maiores exemplares do Conceptismo Barroco no Brasil.

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