A Literatura Comparada é o ramo da Literatura que relaciona a obra de um escritor, com suas particularidades culturais, sociais e históricas, com a de outros escritores e áreas do saber e das artes, como a Filosofia, a Psicologia, o Cinema, o Teatro, etc.
A comparação é um procedimento integrante da estrutura do pensamento humano, o que a torna um hábito generalizado em diferentes áreas do saber e também na linguagem corrente. A crítica literária, por exemplo, quando analisa uma obra é quase sempre levada a estabelecer comparações, pelo menos, com as obras de outros autores, refletindo sobre semelhanças e diferenças. A comparação é utilizada como recurso analítico e interpretativo, de modo que consiste em um meio e não em um fim.
Os estudos comparados são amplamente utilizados na Europa nas áreas de ciências e linguística, entretanto, a expressão literatura comparada surge e se estabelece mais especificamente na França. Lá, o termo “literatura” costuma ser empregado para designar um conjunto específico de obras, de acordo com o Dicionário Filosófico de Voltaire, enquanto em outros países, como a Inglaterra e a Alemanha, o termo demorou mais a se encaixar nesse conceito.
Dessa forma, a literatura comparada preservou a denominação francesa, mesmo sendo um tanto imprecisa, ambígua e muitas vezes confundida com a expressão “literatura geral”, também de uso corrente no país. Por esse motivo, a distinção precisa entre as duas expressões tem se apresentado como um ponto controverso e de permanente discussão.
Alguns autores consideram a literatura geral como um campo mais amplo, que, assim, abarcaria o dos estudos comparados. Alguns outros não estabelecem qualquer diferença entre elas. A denominação “literatura geral” ou “literatura mundial”, Weltliteratur, foi cunhado em 1827 por Goethe, designando uma literatura de “fundo comum”, composta pela totalidade das grandes obras mundiais de todos os tempos. Entretanto, ainda de acordo com o pensamento de Goethe, a expressão pode ser estendida a uma possibilidade de interação das literaturas entre si com o objetivo de se corrigirem e elaborarem para as futuras produções.
O uso do termo por Goethe ganhou inúmeras interpretações ao longo do tempo, transparecendo o espírito do cosmopolitismo literário presente na mentalidade dos intelectuais do século XIX. Assim, por meio do estudo das relações entre diferentes literaturas nacionais, fica patente que a literatura é produzida por um diálogo intertextual perene, marcado por retomadas, empréstimos e trocas entre autores na elaboração de suas obras.
Nessa perspectiva, cada obra é sempre uma continuação de uma série praticamente infinita de obras anteriores, gêneros e temas já existentes, tornando o ato de escrever um constante diálogo com as produções do passado e contemporâneas. Esse viés é bastante defendido pelo escritor argentino Jorge Luís Borges, tanto em seus ensaios críticos como em suas produções literárias, contos e poemas, nos quais defende o aspecto universal da literatura, baseado no diálogo, em contraposição a uma visão nacionalista predominante na época e local em que vivia, a Argentina até a primeira metade do século XX.
Nos últimos anos, a Literatura Comparada vem ganhando estatura de disciplina reconhecida, tornando-se disciplina de ensino regular nas grandes universidades europeias e norte-americanas, assim como nas dos países periféricos, ganhando uma bibliografia específica e publicações especializadas.
Referências bibliográficas:
BORGES, J.L. O Escritor Argentino e a Tradição. In: Obras Completas de Jorge Luis Borges, volume I. São Paulo: Globo, 1999, p. 288-296.
BRUNEL, P.; PICHOIS, C.L.; ROUSSEAU, A.M. O que é Literatura Comparada? São Paulo: Perspectiva, 2012.
SILVA, M.G. da. O que é Literatura Comparada?. http://lerliteratura.blogspot.com.br/2012/03/o-que-e-literatura-comparada.html