O espaço é um fator essencial na constituição da narrativa. O discurso em si mesmo é também uma espacialidade linguística, já que também se estende por uma dimensão espacial enquanto estrutura material transcrita, impressa em um artefato sólido, concreto, e visível por meio de um registro gráfico.
O panorama cultural e histórico em que a obra é produzida engloba alusões e informações fixadas em pontos determinados do tempo que igualmente estabelecem um espaço interativo com a narrativa. Sem falar no fator espacial institucional, o qual inclui símbolos de autoridade, a espacialidade social, e o cenário em seus aspectos regidos pela Natureza, e outros próprios de uma região, da psique e da configuração física.
Somam-se a esses espaços o do mito, que traz consigo representações e significações metafóricas; e o pictórico, seja no sentido imagético, ou na tessitura da escrita, na qual o autor utiliza igualmente recursos de modelagem da forma. Assim, o próprio texto, em sua estruturação, manifesta e torna compreensível o fenômeno espacial.
Na análise estrita da narrativa, porém, é possível identificar quatro espacializações:
O espaço ou ambiente físico compõe o âmbito autêntico, o qual é utilizado como a cena onde se desenrolam as atuações dos personagens ou a paisagem na qual eles se movimentam.
O espaço ou ambiente social é configurado pelo universo social; nele estão inseridos os personagens secundários, totalmente decorativos.
O espaço ou ambiente psicológico é definido como a esfera interna dos seres fictícios. Ele abrange as experiências, os pensamentos e as emoções dessas criaturas.
O espaço ou ambiente se refere a um núcleo físico, geográfico. Neste sentido é amplamente diversificado, podendo constituir um cenário campestre, uma praia, uma floresta, e daí por diante. É nesta paisagem que os eventos narrativos se desdobram.
Na literatura brasileira contemporânea as histórias normalmente se desenvolvem em um centro urbano, ou seja, nas metrópoles. O universo literário encenado no campo e nos povoados do interior cede seu lugar, agora, para as tramas que evoluem nas grandes cidades. A urbe é uma alegoria da vida em sociedade, um ponto de reunião das pessoas e da existência no plano coletivo. Porém é igualmente uma metáfora da multiplicidade da flora humana. Nela coexistem aglomerados de seres desconhecidos, os quais não se identificam e até mesmo trocam agressões. Se no sentido comunitário a cidade imita o padrão da Grécia Antiga, nesta acepção lembra mais a ancestral Torre de Babel.
Esta representação do caos é, acima de tudo, a característica urbana que mais exerce atração sobre as pessoas, a qual se estende ao leitor. Daí os centros urbanos configurarem esferas que traduzem todas as probabilidades. A produção literária em nosso país também reverencia este espaço físico; as metrópoles deixam de ser somente pano de fundo da história e se convertem em personagens.
Fontes:
http://omelhortrabalho.blogspot.com.br/2009/04/elementos-da-narrativatempoespacoperson.html
http://www.culturaacademica.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=112http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/9619/1/ARTIGO_SombrasCidadesEspa%C3%A7o.pdf
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/literatura/o-espaco-na-literatura/