Aristóteles é um dos mais conhecidos filósofos gregos. Ao contrário de Sócrates, que nunca registrou suas ideias, Aristóteles deixou uma obra extensa, sendo que nem todas chegaram aos nossos dias. Algumas permanecem desconhecidas até hoje por terem se perdido através dos séculos, e de outras, são conhecidos apenas fragmentos.
O termo grego que dá nome à obra significa literalmente "fazer", uma alusão ao fazer da arte, a composição artística, e incluía originalmente os gêneros cultuados pelos gregos, como o drama, a comédia, a tragédia e a sátira, além da poesia lírica, a poesia épica, e o ditirambo. Note-se que muitos destes termos hoje são aplicados a campos diferentes como a poesia ou o teatro. A grosso modo, os gregos não estabeleciam diferenças entre a criação artística, tudo se misturava para entreter os sentidos em geral. A poesia, por exemplo, além de estar ligada ao teatro, não era recitada, mas sempre cantada, geralmente com acompanhamento instrumental.
Na verdade, a Poética foi elaborada por Aristóteles como um conjunto de cadernos destinados à educação, uma espécie de “livro do professor”, ou guia do mestre na orientação dos discípulos em aula. Seu conteúdo foi designado para ser ouvido e não para se tornar leitura, como um tratado em si. Por essa razão, Poética se encaixa nos trabalhos de Aristóteles que costumam ser classificados como esotéricos ou internos.
Importante notar ainda que a expressão “cadernos” deve ser entendida como conjuntos de rolos de papiro, forma usual que o livro ou qualquer documento em geral assumia na Antiguidade. É bastante provável que em algum ponto o trabalho original de Aristóteles foi dividido em dois, e cada um "livro" constituía um rolo de papiro separado. A razão dessa suposição é que hoje se sabe que a obra não está completa, falta uma segunda parte, toda dedicada à comédia. Há suspeitas de que um documento chamado Tractatus Coislinianus traga o conteúdo resumido do livro perdido. Já o conteúdo que sobreviveu também ficou perdido por um bom tempo, até que na época da Renascença descobriu-se uma versão em árabe composta por Averróis.
Por Emerson Santiago Silva
Ilustração: http://www.library.usyd.edu.au/libraries/rare/medicine/aristotlepoetics.html