O conceito de romance psicológico nasce diretamente atrelado aos estudos de psicologia realizados entre os séculos XIX e XX. Ao aprofundar as pesquisas em torno da psicologia, a humanidade começa a dar atenção especial ao eu, ao indivíduo.
Na esteira dessa significativa mudança, os escritores passam a produzir textos que privilegiam o monólogo interior em sua transcrição para a narrativa. Isso significa que os pensamentos das personagens são material fundamental para o desenrolar das estórias.
As produções passam a ser em primeira pessoa, fator que coloca em evidência a individualidade do sujeito ficcional com suas sensações, emoções e pensamentos. Trata-se do protagonismo da consciência, da memória e da personalidade do personagem que conduz a voz narrativa, num enredo que é despreocupado com as marcações temporais.
O escritor russo Fiódor Dostoiévski é considerado um dos precursores do romance psicológico. Em seu livro Memórias do subsolo, o artista mostra a experiência cotidiana do personagem e, mesmo em meio à obscuridade da vida, o seu fluxo de consciência fica aparente pelo trabalho com a linguagem literária. Outro romance de Dostoiévski que merece destaque é Crime e Castigo que apresenta os meandros da memória e da subjetividade de alguém que comete um assassinato.
Como grande representante do romance psicológico inglês se destaca a escritora Emily Brontë com o livro O Morro dos Ventos Uivantes que trabalha com as instâncias psíquicas do ego e suas derivações.
Já escritor irlandês James Joyce revoluciona a literatura do século XX e o seu jeito único de produzir literatura perdura como novidade até os nossos dias. Em sua obra Ulisses, Joyce incorpora ao romance psicológico as intermitências do monólogo interno e sua elevada complexidade é sinalizada no próprio texto a partir de uma estrutura sintática mínima.
No tocante ao Brasil, alguns autores empreendem sua escrita pelas veredas do romance psicológico, citando apenas um exemplo de cada autor e apenas alguns desses escritores: Graciliano Ramos com a obra Angústia; Clarice Lispector com o romance Perto do Coração Selvagem; o Dom Casmurro, de Machado de Assis.
A produção romanesca psicológica se configura como terreno fértil para o desvelamento do eu por meio de um mergulho profundo e individual de cada obra ficcional. A partir do seu ponto de vista, o narrador conduz a visão do leitor ao centro da subjetividade da voz narrativa.
Para que o eu narrativo consiga colocar o leitor na esteira das experiências narradas e da memória, ele usa como recurso literário o mosaico da temporalidade. O tempo não é mais apresentando em sua linearidade, ao contrário, a noção temporal é vinculada ao fluxo contínuo do tempo psicológico e não mais cronológico.
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Referências:
PINTO, Ubiratan Machado. O surgimento do romance psicológico e o retrato da vida interior. v. 2, n. 1, p. 353-360. Revista Letrônica. Porto Alegre, 2009.