Romantismo

Mestra em Letras e Linguística (UFG, 2016)
Licenciada em Letras-Português (UFG, 2009)

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O Romantismo foi um movimento artístico-literário iniciado na Europa, no século XIX, período marcado pelos ideais de liberdade do povo, de valorização do indivíduo e pela onda de progressos consolidada pelas revoluções burguesas do século XVIII. Por essa razão, o Romantismo pode ser definido como uma arte da burguesia. Consiste em uma estética que retrata as transformações sociais ocasionadas pelas ascensões econômica e política da burguesia e que rompe com a postura racional do Arcadismo, interpretando a realidade pelo filtro da emoção.

Os princípios da arte romântica são a combinação entre a expressão das emoções à originalidade e ao subjetivismo. Livres da influência e da imitação das obras Clássicas, o artista romântico prioriza a imaginação em detrimento da beleza e da razão, e encontra nas emoções individuais as referências para a interpretação da realidade.

Os escritores românticos investiam em sua capacidade criativa para determinar a forma e o conteúdo de uma criação artística, e se negavam a seguirem formas e padrões estéticos já consagrados. Os textos eram divulgados sob forma de folhetins e, assim, conquistaram um grande e heterogêneo público, com destaque às leitoras, formado sob a influência dos filósofos iluministas.

Características do Romantismo

Leia a seguir uma lista com as principais características que marcaram a estética romântica:

  • Valorização do indivíduo;
  • Divulgação dos valores burgueses: trabalho, esforço e sacrifício;
  • Idealização amorosa;
  • Subjetivismo;
  • Resgate de temas medievais;
  • Valorização do passado heróico;
  • Nacionalismo;
  • Exaltação da imaginação, dos sentimentos e dos símbolos nacionais;
  • Reconhecimento de símbolos nacionais;
  • Fuga da realidade;
  • A morte vista como fuga da realidade, portanto, é idealizada, considerada um alívio aos males do mundo;
  • O sonho como espaço de fuga e projeção das utopias;
  • Preferência pelo exótico;
  • Liberdade formal dos textos.

Autores consagrados do Romantismo

Na França, destacaram-se escritores como Honoré de Balzac, autor de Pai Goriot (1835), Victor Hugo, autor de Os miseráveis (1862), Alexandre Dumas Filho, autor de A dama das camélias (1848), e poetas como Chateubriand, Lamartine e Alfred de Musset.

Na Inglaterra, Walter Scott foi o precursor do romance histórico e a tradição do romance gótico surge com a publicação de Frankenstein, de Mary Shelley, em 1818, e ganha destaque em O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson, em 1886. A influência do romance gótico inglês pode ser observada nos contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe e, na poesia, a delicadeza da poesia de Emily Dickinson.

Na Alemanha, destacam-se E. T. Hoffman e Goethe, que retrata a pátria idealizada em textos dramáticos como em Fausto, com a publicação da parte I em 1806, e da parte II, em 1832.

Romantismo no Brasil

No Brasil, o Romantismo é estudado em três distintas gerações.

Primeira geração romântica: O indianismo

Os artistas da primeira geração romântica tinham o propósito de fazer da literatura um instrumento de afirmação da identidade brasileira e de resgate da figura do índio e da natureza exuberante como símbolos de nacionalidade. Esse projeto foi declarado em 1836, nas páginas da revista Nitheroy, Revista Brasiliense de Ciências, Letras e Artes, organizada por Gonçalves de Magalhães e outros poetas. Mais tarde, as concepções indianistas foram divulgadas em outras revistas, como a Minerva Brasiliense (1843-1845) e Guanabara (1849-1856).

Gonçalves de Magalhães é considerado o fundador do Romantismo no Brasil, com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, em 1836. Para o poeta, escrever era como plantar a árvore da literatura brasileira, garantindo que ela frutificasse.

A poesia romântica da primeira geração

O grande nome da poesia romântica da primeira geração é Gonçalves Dias (1823-1864). Sua obra é de grande relevância à literatura brasileira. Nela o autor aborda temas como a natureza, a pátria e a religião. Alguns poemas indianistas de destaque são Os timbiras, Canto do piaga, Deprecação e I-Juca Pirama. Nesses poemas, Gonçalves Dias traz a selva intocada como cenário, onde acontecem caçadas, feitos de guerra, os quais corroboram com a imagem do índio heroico e nobre da nação brasileira.

Na poesia indianista, o índio sempre surge associado a virtudes como coragem e lealdade. Os versos indianistas não exploram a liberdade formal característica do Romantismo, são marcados pelo controle da métrica e pela escolha das rimas. Uma estratégia para aproximar os leitores dos costumes indígenas era fazer com que o ritmo dos versos se assemelhasse ao toque dos tambores usados nos rituais indígenas.

A prosa romântica da primeira geração

Na prosa, os textos foram muito influenciados por tendências europeias. Os escritores dedicaram-se à publicação de obras em que o passado histórico do país fosse reconstituído, quando possível, ou inventado, quando necessário. O índio é elevado à condição de herói representante do povo americano e se comporta de acordo com princípios nobres da sociedade burguesa: honestidade, bravura, paixão, humildade – tão valorizados pelos artistas românticos.

A apresentação dos protagonistas é associada às características da natureza exuberante e ao passado glorioso que dignifica a identidade de seu povo. Os romances indianistas eram publicados sob forma de folhetins e fizeram o gosto do público leitor. A linguagem empregada nos textos aproximou os leitores às tradições dos índios a partir de palavras e expressões de muitas línguas nativas dos povos indígenas brasileiros.

O romancista indianista de maior relevância da literatura brasileira é José de Alencar, com a publicação da trilogia O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).

Segunda geração romântica: Ultrarromantismo

O interesse por temas como o amor, a morte e a idealização absoluta da realidade são definidores do projeto literário ultrarromântico. Os poetas levaram ao extremo a expressão da natureza sombria, de sentimentos como medo, solidão. Incompreendidos e isolados da sociedade, os artistas incorporam a imagem de um herói romântico que defende valores incorruptíveis como a honestidade e o direito à liberdade, em nome dos quais estão dispostos a sacrificarem a própria vida. Essa postura exagerada associada ao arrebatamento sentimental conferiu aos artistas da segunda geração o “título” de ultrarromânticos.

A natureza e suas incontroláveis forças são os cenários preferidos dos poetas, entre os quais encontra, simbolicamente, acolhimento para seu sofrimento. A morte é vista como um alívio para o sofrimento, para as desilusões e para o pessimismo dos poetas ultrarromânticos. A linguagem empregada nos textos poéticos é marcada por termos de essência depressiva (virgens pálidas, imaculadas, longo pesadelo, imagens de anjos...) e também pela musicalidade das palavras.

O poeta Casimiro de Abreu é considerado o mais lido e declamado da segunda geração. Outros artistas de destaque são Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e Junqueira Freire.

Terceira geração: Condoreirismo

Condoreirismo é o termo empregado para caracterizar a abordagem abolicionista da poesia da terceira geração. Inspirados pelos ideais de liberdade, os poetas utilizavam a produção literária como instrumento de reflexão social e mostravam-se conscientes do contexto brasileiro daquela época. Os textos eram publicados em jornais impressos e atingiram um grande número de leitores, os quais eram convocados a adotarem uma postura social mais efetiva.

A poesia condoreira deve ser declamada considerando a expressividade atribuída ao uso recorrente de hipérboles, de vocativos e de pontos de exclamação. Os poetas mais aclamados da terceira geração romântica são Castro Alves, Tobias Barreto, Victoriano Palhares e Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade).

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