A sátira não é um artifício de linguagem exclusivo da literatura, por isso a sua definição abarca inúmeras classificações. O fenômeno satírico nas produções literárias assume duas veredas críticas: dos que consideram a sátira um gênero e os que classificam a sátira como um aspecto inserido no texto.
O gênero satírico ganha espaço e força em três grandes momentos da história literária, na Antiguidade Clássica em forma de verso – hexâmetros ou prosa – menipeia e durantes os séculos XVII e XVIII, com a retomada e reformulação da menipeia. Já a sátira como uma faceta literária ganha cada vez mais espaço entre a crítica contemporânea, uma vez que não requer uma delimitação para a sua inserção nos textos.
Traçar o percurso da sátira por meio de sua origem, sua forma ou seus assuntos é algo dificultoso. Por isso, muitos pesquisadores focam no elemento satírico como um objetivo a ser explorado pelo poeta, seja ele a manifestação do desvio cômico elevado ao seu exagero (gargalhada), seja com a intenção de provocar a crítica exponencial (cinismo).
A punição ou a ridicularização são artifícios recorrentes nas obras satíricas. É por meio desses componentes que os autores conseguem retirar o véu que encobre a realidade dos princípios da conduta humana ao promover a moralização, a conversão, a restauração, dentre outros.
Por isso que tanto a crítica quanto o público leitor dos textos satíricos precisam sempre considerar que somente os recursos formais não garantem um bom entendimento do objetivo expresso, embora o trabalho artístico com a linguagem seja fundamental em qualquer criação literária. É necessário considerar o contexto de produção, a intenção retórica do escritor e o código moral da época.
Pode-se dizer que a sátira tem um caráter efêmero porque sua matéria principal é o tempo presente, ainda que possa resgatar elementos do passado e ter seus desdobramentos num futuro muito próximo. Ela se torna ostensivamente um traço perene da capacidade humana de olhar para a realidade prosaica e lançar, pelo viés da criação artística, a crítica ácida ou espalhafatosa que todo satirista precisa ter.
O satirista é um desconstrutor de imagens (pessoas, deuses, normas sociais, regras políticas, entre outras) e um construtor de novos significados. É ele quem atualiza e traz o frescor da atualidade para a vivência social, enxergando o que a maioria não consegue notar ou perceber.
Isso se aplica aos demais suportes comunicacionais que fazem uso de mecanismos satíricos em sua composição: a charge, o artigo político, a tirinha e uma infinidade de tipos textuais, inclusive expandindo para a linguagem publicitária.
Referências:
ROCHA, Rejane Cristina. Da utopia ao ceticismo: a sátira na literatura brasileira contemporânea, 2006, 234f. Tese (Doutorado em Estudos Literários). UNESP, Araraquara, 2006.