O termo soneto indica um processo literário que significa pequeno som, canto ou melodia. Alguns estudiosos acreditam que a sua origem seja um dos desdobramentos da poesia provençal, iniciada pelos trovadores franceses. Para outros pesquisadores, o soneto nasce na Itália, especificamente na Sicília, na primeira metade do século XIII.
Segundo a vertente que defende a origem italiana, o poeta Giacomo da Lentini pode ser considerado o criador do soneto, mas o nome comumente atrelado à criação das produções em formato de soneto é o poeta Francisco Petrarca, pois é a partir dele que acontece a grande difusão do tipo textual.
No que diz respeito ao seu formato, o soneto é composto de 14 versos divididos em quatro estrofes, sendo dois quartetos e dois tercetos, organizados pela métrica, isto é, número igual de sílabas poéticas. Normalmente os sonetos são compostos por dez sílabas poéticas, denominados versos decassílabos. A rima é estruturada por um esquema abba abba cdc (cde) dcd (cde).
O ritmo e a sonoridade ficam por conta da tonicidade demarcada nas sílabas. São chamados de heroico os versos decassílabos com sílabas tônicas nas posições 6 e 10, os que contém as sílabas tônicas nas posições 4, 8 e 10 são chamados de sáfico e os versos com sílabas tônicas nas posições 4, 7 e 10 são denominados provençal.
A formatação do soneto admite algumas nuances ao longo da trajetória da literatura. Surgem poemas que contém doze sílabas poéticas, versos chamados de dodecassílados ou alexandrinos. Os versos alexandrinos apresentam as sílabas tônicas nas posições 6 e 12. Além disso, poetas como o inglês William Shakespeare, o português Luís Vaz de Camões e o brasileiro Luiz Delfino dos Santos produzem sonetos que não negam a tradição, mas não seguem a forma fixa à risca.
Shakespeare produz sonetos com três quartetos e um dístico (dois versos) no final e normalmente seus poemas não apresentam divisão estrófica. Camões, embora adepto da tradição italiana, experimenta ao menos uma vez escrever um soneto de cauda, acrescentando ao modelo original um terceto com rima diferenciada, criando um soneto com 17 versos. Delfino mistura a ordem dos quartetos e dos tercetos.
Se a origem do soneto é discutível, o seu propósito também é contestável. Há os que acreditam que o soneto é uma forma muito engessada e os que defendem que é possível sim captar a inspiração em uma forma literária fixa.
A grande questão é que o soneto cai na graça dos poetas medievais e permanece inabalável entre os escritores contemporâneos. A sua aproximação e familiaridade com a música permite, para citar um exemplo do Brasil, que se criem poemas altamente líricos e com rigor “parnasiano”, é o que faz o poeta Vinícius de Moraes em Soneto de Fidelidade, Soneto de Separação, dentre outros.
É por meio do soneto que inúmeros escritores cruzam os séculos cantando as mais diversas temáticas: o amor, a História, a crença ou a descrença, a mulher, o homem, o universo interior, dentre outras. Merecem destaque alguns dos poetas sonetistas:
- Cecília Meireles
- Charles Baudelaire
- Dante Alighieri
- Edgar Allan Poe
- Fernando Pessoa
- Florbela Espanca
- Francisca Júlia
- Frederico Garcia Lorca
- Gregório de Matos Guerra
- Giordano Bruno
- Jorge Luis Borges
- José Saramago
- Lord Byron
- Machado de Assis
- Mário de Andrade
- Manuel Maria du Bocage
- Miguel de Cervantes
- Olavo Bilac
- Oscar Wilde
- Stéphane Mallarmé
Referências:
RECH, Solange. Teoria do Soneto de Giacomo da Lentini ao século XXI, 2018, 168. Dissertação (Mestrado em Ciências da Linguagem). UNISUL, Palhoça, 2008.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/literatura/soneto/