Capitães da Areia é um clássico na temática das crianças desprovidas de qualquer amparo social, legadas ao destino incerto dos que são propositalmente marginalizados, erradicados do convívio social. A trajetória dos meninos, que enfrentam os representantes do poder e roubam dos ricos para partilhar o produto do furto entre os companheiros pobres e abandonados, constitui uma das principais obras de Jorge Amado.
Jorge Amado aborda este universo de uma forma cruel, sem maiores concessões ou sentimentos compassivos. Ele os revela exatamente como são e vivem, com vibração, guiados por uma estrita racionalidade e altas doses de arbítrio e firmeza, virtudes não restringidas pelo contexto adverso em que vivem.
Personagens como o líder dos Capitães, o loiro Pedro Bala, surpreendentemente rápido, o que justifica seu codinome; Pirulito, constantemente obcecado com a purificação dos pecados; o sensual Gato, que acalenta o desejo de se transformar em cafetão; e Professor, o amante das letras, assim como os demais membros do grupo, são desenvolvidos com maestria pelo autor, que aprofunda sem hesitar o perfil de cada um.
Dora é a única personagem feminina que se sobressai, pois é o ponto de contato deste universo masculino com a esfera feminina; por uns, é vista como irmã, por outros, é a imagem maternal. Para Pedro Bala ela é a mulher ideal, sua amada. Percorrendo as ruas da cidade e o caminho do mar, os Capitães da Areia estão sempre ocultos aos olhos dos poderosos. Eles encontraram seu próprio caminho no desafio à ordem constituída.
Cada um destes garotos terá a rua como educadora, a vida como mestre, a exclusão como metodologia de formação, e assim vão crescer, e se tornar homens, na prática de atividades ilícitas e no amadurecimento afetivo, seja ao lado de mulheres ou de outros rapazes. Pedro Bala, em sua trajetória existencial, passará de jovem marginal a líder comunista.
Embora desafiem constantemente a lei, os meninos se integram na cultura e na religião locais, reverenciando tanto o catolicismo, culto oficial, ao interagirem sem problemas com o padre José Pedro, quanto com o candomblé, rito alternativo e tradicional na Bahia, ao se relacionarem tranquilamente com a Mãe de Santo Aninha.
Paradoxalmente, nem as autoridades, nem o clero se dispõem a confrontá-los e persegui-los, a não ser quando atingem personalidades significativas. Os meios de comunicação, ocasionalmente, disseminam suas necessidades, mas preferem, a maior parte das vezes, culpá-los pela situação em que se encontram.
Fontes:
https://web.archive.org/web/20100306175231/http://www.algosobre.com.br:80/resumos-literarios/capitaes-de-areia.html
Jorge Amado. Capitães da Areia. Cia das Letras, São Paulo, 2008, 283 pp.