Escrito em 1938, a obra Olhai os lírios do campo torna-se um marco na obra de Érico Veríssimo.
É um romance urbano e narra a história de Eugênio, um rapaz de origem humilde que sente vergonha de sua família por ser pobre, mas mesmo com muito esforço dá ao rapaz a oportunidade de estudar em ótimos colégios, levando o jovem a formar-se em Medicina.
No dia de sua formatura, conhece Olívia, uma jovem simples, de extrema sensibilidade, bom-senso, equilíbrio e de um excelente coração que se aproxima de Eugênio e torna-se para ele um porto seguro em seus conflitos e juntos vão trabalhar no Hospital do Coração.
Olívia tenta mostrar a Eugênio que a felicidade não depende do dinheiro ou do sucesso, mas da paz que advém da boa consciência, de fazer as coisas certas e de servir o próximo.
Os jovens se envolvem amorosamente, mas Eugênio nunca a assume verdadeiramente.
Olívia vai trabalhar numa cidade do interior, e depois da partida da moça, Eugênio noiva com Eunice, uma jovem rica filha de um empresário, apenas por interesse e casa-se com ela.
A história é dividida em duas partes, sendo a primeira narrada em estilo flash-back, onde as memórias de Eugênio vem à tona durante uma viagem que ele faz de uma cidadezinha no interior até Porto Alegre.
Eugênio vai à Porto Alegre a pedido de Olívia que está doente em um hospital. Neste caminho, lembra-se dos dias de casamento infeliz com Eunice, como agora trabalha para o sogro e não dedicava-se mais à Medicina. E sobretudo, lembra da filha que tivera com Olívia, Anamaria, que estava sendo criada pela mãe desde que esta fora embora de Porto Alegre. Ao chegar ao hospital, Olívia morre e Eugênio decide abandonar Eunice e dedicar-se à criação de Anamaria.
Ele volta a ser médico, trabalhando com os pobres junto com o dr. Seixas, e em meio a esta mudança de Eugênio, ele encontra verdadeiramente a paz interior.
O título da obra é retirado do Sermão da Montanha, onde Cristo fala aos seus apóstolos, em uma analogia, que a verdadeira felicidade está em cuidarmos das coisas simples e não nos preocuparmos com as coisas complexas.
Nas palavras de Olívia: "Estive pensando muito na fúria com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles?
Quero que abras os olhos, Eugênio, que acordes enquanto é tempo. Peço-te que pegues a minha Bíblia que está na estante de livros, perto do rádio, leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a página está marcada com urna tira de papel. Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo, que não trabalham nem fiam, e no entanto nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles.
Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.”
O autor mostra os processos de transformação de Eugênio: da condição de indivíduo guiado mais pela expectativa dos outros do que por si mesmo, para a condição de indivíduo autônomo e consciente de si, sujeito de suas próprias decisões.
Fontes:
http://minerva.ufpel.edu.br/~felipezs/html/olhai2.htmlhttp://www.jodorecantodasletras.prosaeverso.net/visualizar.php?idt=3265692