Peregrinação

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Peregrinação é o título de um livro escrito por Fernão Mendes Pinto (Montemor-o-Velho, 1509-11 — Pragal, 8 de Julho de 1583 ) e que trata de suas experiências no continente asiático, no auge da expansão ultramarina portuguesa na região, do qual foi contemporâneo.


A Peregrinação é talvez o livro mais conhecido a ser produzido em Portugal, depois dos Lusíadas de Camões. Publicado trinta anos após a morte do autor, em 1614, a Peregrinação receberia em poucos anos traduções para o espanhol (1620), inglês (1625) e francês (1628).

Seu diferencial reside no modo como apresenta os mais diversos cenários e povos, inéditos ao europeu da época, e ao mesmo tempo, estabelece um diálogo e uma visão de igualdade com este personagem do outro lado do mundo, aquele que é diferente do europeu. Mergulhado em uma cultura bastante exclusivista e que se considerava superior, Pinto fará de seu livro uma janela que convida o leitor a abrir-se para outros mundos e outras perspectivas.

A obra é apresentada como a história da vida de seu autor enquanto europeu fixado na Ásia. Saindo da casa do pai em Montemor-o-Velho, vai trabalhar como criado em Lisboa. Logo acaba obtendo uma vaga em um navio, que ainda nas costas portuguesas é capturado por corsários franceses. Retornando aos empregos usuais em Lisboa, torna a embarcar em um navio rumo ao Oriente em 1537. A partir daí, sua peregrinação se inicia, passando por praticamente todos os entrepostos portugueses à época naquela parte do mundo, fazendo de tudo um pouco, como um legítimo aventureiro: torna-se soldado, marinheiro, embaixador, náufrago, é vendido como escravo, torna-se padre, conhece São Francisco Xavier no Japão, torna-se rico ao participar do lucrativo comércio português na área, sendo dono de escravos, presenciando ao mesmo tempo o desenrolar de muito da história de vários territórios asiáticos.

Assim como os relatos de Marco Polo, ironicamente apelidados de "Il Milione" (O Milhão, em referência aos exageros que acreditava-se povoarem a obra), a Peregrinação sofreu com a descrença de muitos de seus leitores, chegando até a dar origem a um famoso adágio português: "Fernão, mentes? - Minto!", também em referência aos exageros que acreditava-se estarem presentes no livro. No entanto, através da história comparada, chegou-se à conclusão de que muitos dos relatos eram verdadeiros e corretos. Há, é certo, alguma fantasia e relatos emprestados a outras fontes que povoam o livro, como acredita-se ser o caso dos relatos sobre a passagem do autor pelo interior da China.

Além das críticas abordando os exageros da obra, esta foi atacada também pelo modo como aborda o império constituído por Portugal na Ásia, de um modo realista e crítico, de certo maneira pragmático, ao contrário dos relatos ufanistas e fantasiosos dos Lusíadas. Por esse motivo, o livro permaneceu como uma obra menor entre os portugueses, melindrados pela análise consciente e pouco elogiosa que este trazia ao seu império ultramarino.

Fernão Mendes Pinto regressa a Portugal em 1558, e solicita ao rei português, mediante carta do governador da Índia, um abono para seu amparo em idade mais avançada. Após 21 anos de serviço, a Coroa cede pouco em relação ao que lhe foi prometido em carta. Refugia-se em Pragal, onde escreverá a Peregrinação, morrendo porém, em 1583, sem ver seu livro publicado. A Inquisição irá modificar várias passagens da obra para que esta se adapte à censura da época, sendo responsável por sua edição final o frei Belchior Faria, ficando a publicação a cargo de Pedro Craesbeeck. Ao contrário das expectativas, a Peregrinação torna-se um sucesso literário, sendo conhecida até os dias de hoje em praticamente toda a Europa, constituindo também um best-seller em sua época.

Bibliografia:
SARAIVA. Antonio José - Breve Introdução à "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto. Disponível em: <http://www.artmuseum.gov.mo/showcontent.asp?item_id=20051022010200&lc=2> . Acesso em: 01 set. 2011.

Grandes Livros - Episódio 2: "Peregrinação", Fernão Mendes Pinto . Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=j13OdLX0lew> . Acesso em: 01 set. 2011.

Arquivado em: Livros
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