Obra de leitura obrigatória na FUVEST de 2012, o livro de Drummond de Andrade, Sentimento do Mundo, é uma obra poética que foi publicada em 1940. Esse é um dos trabalhos de Drummond mais aclamado pelos críticos e foi escrito após o livro de 1930, Alguma Poesia e Brejo das Almas, publicado em 1934. Em comparação a estas obras, encontra-se uma visão mais madura do poeta nas poesias que compõe o livro, um olhar que contempla as fragilidades da alma humana e das angústias que as perseguem durante a vida.
Nos anos 40 o mundo passava pelo intervalo entre o primeiro e o segundo conflito mundial e ideologias nazistas dominavam países, incluindo o Brasil. Isso influenciou os poemas de Sentimento do Mundo, revelando a preocupação de Drummond com as transformações que o mundo viria a sofrer, tanto com a campanha nazista de Adolf Hitler, como com a ditadura que Getúlio Vargas aplicava em terras brasileiras.
Dentro deste panorama, o poeta aborda temáticas políticas e sociais, assuntos considerados novos em sua poesia naquela época, que se consolidariam na obra de 1945, A Rosa do Povo. Entre estas leituras que Drummond faz sobre o contexto social da época pré Segunda Guerra, aparece em sua poesia uma acidez que o revela como um poeta irrequieto. Apesar disso, a delicadeza e a sua visão lúcida e subjetiva da realidade ainda continuam a fazer parte de seu estilo.
Encontra-se nas linhas de Sentimento do Mundo um traço corrosivo e preciso. Uma característica da poesia de Carlos Drummond que, nesta obra, encontra a apreensão quanto aos caminhos escolhidos pelos seres humanos. Apesar das preocupações, a obra apresenta o poeta individualista, que aparecia em Alguma Poesia, tornando-se mais consciente do mundo, mas sem esquecer a emoção:
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre. ("Mundo grande", Sentimento do mundo)
Em vários trechos dos poemas de Sentimento do Mundo encontramos o “nós”. Este “nós” seria a esperança sublimada em um futuro, mas que nunca aparece no presente. Esta esperança aparece em partes como o sorriso de um operário, ("Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido"), a alvorada, ("Aurora, / entretanto eu te diviso, ainda tímida, / inexperiente das luzes que vais acender"), entre outras.
Seguem os títulos dos poemas:
- Sentimento do mundo
- Confidência do itabirano
- Poema da necessidade
- Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte
- Tristeza do Império
- O operário no mar
- Menino chorando na noite
- Morro da Babilônia
- Congresso Internacional do Medo
- Os mortos de sobrecasaca
- Brinde no juízo final
- Privilégio do mar
- Inocentes do Leblon
- Canção de berço
- Indecisão do Méier
- Bolero de Ravel
- La possession du monde
- Ode no cinquentenário do poeta brasileiro
- Os ombros suportam o mundo
- Mãos dadas
- Dentaduras duplas
- Revelação do subúrbio
- A noite dissolve os homens
- Madrigal lúgubre
- Lembrança do mundo antigo
- Elegia 1938
- Mundo grande
- Noturno à janela do apartamento