Muitas vezes nos deparamos com comentários que bradam orgulhosamente sobre a riqueza e a importância de São Paulo, e o modo como este carrega feito uma locomotiva todo o país. Na verdade, São Paulo nasceu muito pobre. E além de pobre, era desimportante. Esses e outros detalhes sobre a história dos paulistas estão no livro de Ernani Silva Bruno, “Viagem ao país dos paulistas”. “País dos paulistas” era um termo muito usado no Brasil colônia para se referir à província, hoje estado.
O livro foi lançado pela mítica editora José Olympio em 1966, e ao que parece, encontra-se fora de catálogo. Silva Bruno recorreu a velhos testamentos, cartas, atas de câmaras, relatos de viajantes e obras anteriores, para compor um livro que se ocupa de todas as minúcias da colonização do estado de São Paulo, lidando ao mesmo tempo com a vida privada dos cidadãos e os principais assuntos políticos e econômicos.
No começo da colonização portuguesa, os primeiros europeus sobreviviam espremidos entre a Serra do Mar e o oceano Atlântico. Poucos eram os navios que desciam até o litoral sul para abastecer a então capitania de São Vicente, pois as atenções estavam concentrada no nordeste, que florescia com a cultura canavieira. Os colonos então resolvem subir a serra e conquistar o planalto. Ali nasceria a cidade de São Paulo, como mera redução de índios catequizados, mas que logo se torna a base dos bandeirantes, exploradores responsáveis pela escravidão de índios, descoberta de minas de ouro e diamantes, e principalmente, pela expansão do território brasileiro além da linha de Tordesilhas.
Com o início do século XVIII, devido à obra de conquista do sertão por esses mesmos bandeirantes, a província de São Paulo incluía territórios que hoje constituem os estados de Rondônia, Mato Grosso, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Paraná. Os paulistas haviam “limpado” imensas partes do interior brasileiro da presença indígena, fazendo-os escravos de suas fazendas e também descoberto as mais importantes jazidas de ouro de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais.
Em retrospectiva, a gente de São Paulo viveu entre períodos de pobreza e ostracismo e de riqueza e opulência. Muito de sua riqueza foi construída a custo do trabalho não das famílias “quatrocentonas”, mas dos índios, depois dos africanos que serviram nas minas e lavouras de café, e em épocas mais recentes, dos migrantes nordestinos que buscaram uma vida melhor no sul. Os detalhes que o livro traz da evolução de São Paulo e de sua gente são esclarecedores, apesar dos quase 50 anos de sua primeira edição.
Por Emerson Santiago Silva.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/livros/viagem-ao-pais-dos-paulistas/