Botulismo em bovinos

Por InfoEscola
Categorias: Doenças animais, Medicina Veterinária
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Por Debora Carvalho Meldau

O botulismo é definido como uma intoxicação, e não como uma infecção, causada pela ingestão ou absorção, por parte da mucosa intestinal, de toxina pré-formada da bactéria Clostridium botulinum, resultando em um quadro de paralisia motora progressiva.

C. botulinum é um bacilo gram-negativo, formador de esporos, que habita o solo e a água, matéria orgânica (de origem animal e vegetal) e trato gastrointestinal de animais. Os esporos dessa bactéria apresentam uma resistência exacerbada, podendo sobreviver um período muito longo em diferentes ambientes, multiplicando-se em carcaças ou vegetais que se encontram em decomposição, nos quais sintetiza uma neurotoxina que leva à doença quando ingerida.

Bactéria Clostridium botulinum. Foto: CDC

A partir de 1985, surgiu nos rebanhos brasileiros uma “nova” doença que ganhou grande expressão dentro dos rebanhos bovinos, especialmente da região Centro-Oeste. Apresenta grande importância econômico-sanitária, pois é uma importante causa de mortalidade bovina.

Nos bovinos, esta enfermidade é habitualmente descrita em animais criados extensivamente, que geralmente está relacionada com a falta de fósforo nas pastagens, assim como a uma suplementação mineral imprópria, que tem como conseqüência um quadro de depravação do apetite, levando à osteofagia nos animais. Nas carcaças, o esporo encontra um ambiente ideal para proliferar e produzir toxinas, contaminando, em especial, ossos, cartilagens, tendões e aponeuroses que apresentam uma maior resistência à decomposição. Deste modo, quando os bovinos ingerem os tecidos contaminados de carcaças encontradas no pasto, estes adquirem a toxina e esporos.

Animais confinados também podem estar expostos a riscos, principalmente quando estes recebem silagem, feno ou ração conservada inadequadamente, apresentando matéria orgânica em estado de decomposição, ou carcaças de pequenos mamíferos ou aves, sendo esta conhecida como “intoxicação da forragem”. Também existe a contaminação por veiculação hídrica, quando os reservatórios de água estão contaminados por cadáveres de animais.

Nos últimos anos, uma das principais fontes de contaminação relatada em confinamento, é a cama de frango utilizada na alimentação animal, em conseqüência da presença de restos de aves nesta.

Após ocorrida a ingestão de toxinas, estas são absorvidas pela mucosa do intestino e caem na circulação, ligando-se a receptores do sistema nervoso periférico, causando o bloqueio da síntese e liberação de acetilcolina, sendo esta medidora do impulso nervoso, determinando, deste modo, um quadro de paralisia flácida.

A severidade da sintomatologia esta diretamente relacionada à quantidade de toxina ingerida pelo animal. Esta doença pode ser dividida em quatro formas diferentes:

Inicialmente, os animais apresentam variados graus de incoordenação, anorexia e ataxia. Por conseguinte, inicia-se um quadro de paralisia muscular flácida progressiva, primeiramente nos membros posteriores, deixando os animais em decúbito esterno-abdominal, e quando estimulados a andar, o fazem de modo vagaroso e com dificuldade. Caso os animais fiquem estressados, podem morrer rapidamente.

Ao passo que a afecção evolui, a paralisia muscular torna-se mais acentuada, impossibilitando que o animal se mantenha em pé, permanecendo apenas em decúbito esternal, com a paralisia progredindo para os membros anteriores, pescoço e cabeça. A paralisia muscular acomete a deglutição e mastigação, o que resulta no acúmulo de alimentos na boca e sialorréia, além de protusão da língua; também há redução dos movimentos ruminais.

Por fim, há a acentuação do quadro prostático, passando o animal a ficar em decúbito lateral. O animal permanece consciente até o término do quadro, quando este entra em coma e morre.

Nos quadros agudos, o bovino caminha para o óbito dentro de um a dois dias, após surgirem os sintomas, sendo normalmente causada pela parada respiratória devido à paralisia dos músculos que coordenam os movimentos respiratórios.

Nos quadros subagudos, o animal sobrevive de três até sete dias, sendo este tipo o mais comumente observado a campo. Neste caso, os sintomas e sinais clínicos são mais evidentes, pois o período de desenvolvimento da doença é mais longo.

Quando se trata de um caso crônico, o bovino sobrevive por um tempo superior a sete dias, sendo que uma pequena parcela pode chegar a se recuperar após algumas semanas, já que as manifestações clínicas não são tão acentuadas quanto nas outras formas. Embora o bovino permaneça de decúbito esternal, ele continua alimentando-se, pois há a permanência do apetite.

O diagnóstico é feito com base nos sinais clínicos, dados epidemiológicos e pela identificação de toxinas e/ou esporos de C. botulinum no material mandado para análise. O material de eleição para essa análise é o conteúdo ruminal, conteúdo intestinal, fragmento hepático e soro sanguíneo, sendo que estes devem ser coletados em seguida à morte do animal ou mediante a eutanásia do bovino que está agonizando. O material coletado deve ser acondicionado em um frasco estéril e encaminhado imediatamente para o laboratório, sob refrigeração, juntamente com fontes suspeitas de intoxicação (cama de frango, silagem, feno, água, entre outras), quando houver.

Nos casos subagudos ou crônicos, pode ser realizado um tratamento sintomático, que objetiva oferecer condições para que o animal resista ao quadro clínica apresentado.

O controle do botulismo é feito por meio da adoção de medidas preventivas, uma vez que o tratamento normalmente não apresenta resultados positivos, além de ser economicamente inviável. Deste modo, se faz necessário a melhoria das condições do ambiente onde os animais vivem, eliminando fontes de contaminação nas pastagens, por meio da incineração de carcaças de animais; manejo nutricional adequado, como correção do nível de fósforo nas pastagens e suplementação mineral; vacinação do rebanho todo, que deve ser realizado anualmente, antes do período das chuvas, com a primeira dose seguida de reforço quatro a seis semanas depois de recebida a imunização.

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