A contracepção em cadelas pode ser de dois tipos:
- Contracepção permanente ou cirúrgica, onde é realizada a ovário-histerectomia (OSH), também conhecida como castração;
- Contracepção temporária ou farmacológica, que previne ou retarda o estro, sem prejudicar a fertilidade futura.
A esterilização cirúrgica é o método mais recomendado para as cadelas. É um procedimento com vantagens sobre a laqueadura ou histerectomia, na qual a permanência dos ovários permite a continuidade do cio, além de que os ovários podem ser sedes de neoplasias e torções. Existem algumas conseqüências da ovário-histerectomia que devem ser reconhecidas, como:
- Lactação Pós-OSH: é uma resposta fisiológica do organismo perante a queda abrupta de progesterona plasmática, devido à retirada dos ovários durante o período de diestro;
- Obesidade Pós-OSH: animais castrados tendem a apresentar uma ingestão aumentada de alimentos e ganhar peso. No entanto, este problema pode ser controlado com atividade física e alimentação controlada.
A administração de progesterona durante o anestro previne o retorno da atividade cíclica e, se administrado durante o proestro, pode inibir o processo da ovulação. A progesterona endógena suprime a atividade do miométrio, estimula o crescimento do endométrio e exerce um mecanismo de feedback sobre o hipotálamo e a hipófise, prevenindo a secreção de gonadotrofina; os progestágenos também exercem um feedback negativo sobre a liberação de prolactina e podem reduzir as concentrações circulantes de estrógenos e testosterona.
Nos Estados Unidos, apenas o acetato de megestrol é aprovado para utilização como contraceptivos em cadelas. Sua dosagem depende do estágio do ciclo estral que se inicia o tratamento; no final do estro a dosagem é de 0,55 mg/kg/dia, via oral, por 32 dias; no início do proestro a dosagem recomendada é de 2,2 mg/kg/dia, via oral, durante 8 dias.
O acetato de megestrol pode ser usado até o 3° dia do proestro. Caso o tratamento tiver inicio após esse período, a efetividade do medicamento diminui muito.
O acetato de medroxiprogesterona também é utilizado para contracepção em cadelas, no entanto não é considerado seguro, pois induz a hiperplasia cística do endométrio e piometra. Os efeitos adversos são provavelmente conseqüência de dosagens excessivas e/ou administração durante estágios do ciclo estral que não o anestro. A dose recomendada é de 2 mg/kg a cada 3 meses ou 3 mg/kg a cada 4 meses.
O proligestone é licenciado para uso contraceptivo em cadelas na Europa. Está disponível na forma de suspensão injetável e deve ser administrada na dose de 10 a 30 mg/kg, via subcutânea, a cada 3 meses, depois, a cada 4 meses e, finalmente, a cada 5 meses.
Compostos andrógenos também podem ser administrados em cadelas no período de anestro, para prevenção da atividade ovariana. O mecanismo de ação dos andrógenos é similar ao da progesterona, exercendo um feedback negativo sobre o eixo hipotálamo/hipófise e influenciando a liberação de gonadotrofina e prolactina. As principais apresentações de compostos andrógenos são:
- Mibolerone: está disponível na forma líquida, sendo que sua administração deve ser iniciada 30 dias antes do início do cio. O retorno da atividade ovariana após o término da medicação se dá geralmente entre um a sete meses. As doses recomendadas são:
Peso (kg) Dose diária (ml) 0,5 a 12 0,3 13 a 23 0,6 24 a 45 1,2 >45 1,8
- Proprionato de Testosterona: é encontrado na forma injetável e como droga contraceptiva pode ser utilizada na dose de 110 mg/kg, via intramuscular, semanalmente.
- Metiltestosterona: 25 mg, via intramuscular, uma vez por semana, por 5 a 6 semanas.
Assim como outras drogas, os compostos andrógenos também possuem efeitos colaterais, como:
- Hipertrofia do clitóris;
- Comportamento de monta;
- Seborréia;
- Não devem ser administrados em fêmeas com doenças prévias hepáticas ou renais, pois são metabolizados no fígado e excretados pelos rins e fezes;
- Não devem ser administrados em animais jovens (com menos de 7 meses de vida), devido a possibilidade de fechamento das epífises ósseas;
- Não devem ser administrados em fêmeas gestantes ou com adenoma perianal ou adenocarcinoma perianal ou outras condições neoplásicas andrógenos-dependentes.
Como as medicações não são tão seguras, podendo vir a resultar em efeitos colaterais indesejados, o uso de drogas não é recomendado pelos médicos veterinários, sendo a castração a melhor e mais segura alternativa existente atualmente.
Fontes:
Manual de Terapêutica Veterinária – Silvia Franco Andrade. Editora Roca. 2° edição, 2002.
http://www.petvale.com.br/caes-cachorros/saude-anticoncepcional-para-cadelas.asp
http://seratual.blogspot.com/2008/10/mtodos-contraceptivos-em-cadelas-e.html
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/medicina-veterinaria/contracepcao-em-cadelas/