Por Débora Carvalho Meldau
Casos de envenenamento de cães e gatos são rotineiros nas clínicas veterinárias do Brasil. Este é a principal causa de morte brusca de animais de pequeno porte.
Embora os gatos sejam as maiores vítimas de todos os tipos de violência, a maior quantidade de casos de envenenamento atendidos em clínicas veterinárias é em cães, pois os gatos costumam andar sozinhos pelas ruas, levando o mesmo a ingerir veneno fora de casa e, consequentemente, morrendo sem socorro.
A maioria dos casos de envenenamento é por rodenticidas anticoagulantes (raticidas) e estricnina. Os primeiros são tão atraentes para cães e gatos, quanto é para os ratos, pois as pessoas costumam misturar o veneno com comidas ou iscas para atrair os ratos e, quando em locais acessíveis aos pets, os mesmos acabam consumindo-os.
Além de intoxicações acidentais, também é, infelizmente, muito comum a intoxicação criminosa, feita por pessoas que não gostam de animais. Outro tipo de envenenamento é o premeditado de cães de guardas de casas e empresas, objetivando assaltar esses locais após a morte do cão.
O principio ativo do veneno é absorvido pelo intestino rapidamente, alcançando seu pico plasmático dentro de 1 a 12 horas, sendo que a sua meia vida pode varia de horas até semanas. O quadro hemorrágico habitualmente surge dentro de 2 a 3 dias após a ingestão do veneno.
Pela ação anticoagulante dos raticidas, o animal acaba morrendo por hemorragia generalizada, em decorrência da inibição da ativação da vitamina K, imprescindível para a produção dos fatores de coagulação.
Os sinais clínicos e sintomas estão ligados à hemorragia e incluem:
- Fraqueza;
- Mucosas pálidas;
- Aumento do volume abdominal, devido à hemorragia interna;
- Petéquias;
- Epistaxe;
- Hematemese;
- Diarreia sanguinolenta;
- Uremia, em decorrência do sangramento abdominal;
- Dor muscular e derrame de sangue nas articulações;
- Aborto em fêmeas gestantes e hemorragias uterinas.
Também pode haver febre, além de hemorragia pulmonar que resulta em dispneia, e hemorragia no sistema nervoso, levando à ataxia, paralisia, convulsões, dentro outros sintomas neurológicos.
O diagnóstico é estabelecido por meio da história clínica, exame clínico e por exames auxiliares, como ultrassonografia, radiografias do tórax, hemograma, contagem de plaquetas e testes de fatores de coagulação.
O tratamento deve incluir primeiramente a indução ao vômito ou lavagem gástrica, caso a ingestão do veneno tenha ocorrido há pouco tempo. Por conseguinte, deve ser feita a transfusão sanguínea com fatores de coagulação frescos e administração de vitamina K1.