O pâncreas é composto de duas partes, as porções endócrina e exócrina, com um estroma único. A secreção pancreática é composta de uma mistura de enzimas e substâncias diluídas em solução de água e bicarbonato. As enzimas são produzidas por células acinares, arranjadas em aglomerados ao redor dos ductos pancreáticos terminais. O fluido pancreático no cão possui um pH entre 8,0 e 8,3, isosmótico com o plasma. As células acinares secretam uma mistura de enzimas através dos ductos pancreáticos localizados na porção do duodeno inicial e estas enzimas estão envolvidas na digestão de proteínas, gorduras e carboidratos.
O controle hormonal da secreção pancreática é realizado principalmente pela secretina e colecistoquinina, liberadas pela mucosa duodenal mediante estímulo vagal do sistema parassimpático. As principais enzimas proteolíticas, que são secretadas como pró-enzimas inativas, são: tripsinogênio, quimiotripsina e procarboxipeptidase. A ativação destas enzimas ocorre na luz intestinal e sua ativação prematura pode ocorrer, causando destruição tecidual. A lipase pancreática é secretada na forma ativa, mas sua atividade é exacerbada pelos sais biliares.
A doença pancreática exócrina, em suas várias formas, não é incomum em cães e gatos, podendo ocorrer também nas demais espécies. O pâncreas exócrino pode ser afetado por processos agudos ou crônicos, que podem levar a problemas digestivos associados à insuficiência pancreática. A pancreatite aguda nas espécies pode ser de variável intensidade, causando desde discreto edema até necrose do tecido. As causas desta patologia ainda não são completamente conhecidas, e provavelmente sejam multifatoriais. Dentre os fatores incluem-se obesidade, dieta desbalanceada e rica em gorduras, isquemia tecidual, refluxo biliar, traumas abdominais, hipercalcemia e cálculos pancreáticos, hiperlipemia obstrutiva e agentes infecciosos.
A pancreatite crônica é resultado de repetidos ataques de pancreatite aguda com destruição progressiva do tecido acinar e reposição com tecido conectivo fibroso, e pode levar à insuficiência funcional do pâncreas, que se caracteriza por perda de peso, polifagia e esteatorréia. Estes sinais são decorrentes da insuficiência na produção de enzimas pancreáticas, devido à destruição do tecido secretório. A amilase e lipase séricas podem estar aumentadas numa exacerbação inflamatória do processo. No entanto, com a completa destruição do tecido acinar e consequente fibrose, provavelmente as enzimas estarão nos valores normais, ou mesmo reduzidas.
O exame das fezes constitui exame de triagem importante. O encontro de gorduras por meio de coloração de Sudam e visualização microscópica de fibras musculares mal digeridas são indícios de disfunção pancreática. Há teste de função pancreática de fácil realização que podem fornecer importantes informações a cerca deste órgão.
FONTE:
Lopes, Sonia Terezinha dos Anjos et al. Manual de Patologia Clínica Veterinária 3. ed. – Santa Maria: UFSM/Departamento de Clínica de Pequenos Animais, 2007. 107 p. : il
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/medicina-veterinaria/pancreas-exocrino-em-caes-e-gatos/