O scrapie, também conhecido como paraplexia enzoótica dos ovinos, é uma doença neurodegenerativa fatal que acomete o sistema nervoso de ruminantes, sendo mais comum em ovinos.
Há relatos de 250 anos atrás da ocorrência dessa afecção na Grã Bretanha e em outros países europeus. Atualmente tem sido descrita em quase todo o mundo, come exceção da Austrália e Nova Zelândia.
Esta doença pertence ao grupo de encefalopatias espongiformes transmissíveis (EET), que apresenta como agente etiológico uma partícula protéica infectante conhecida como príon. Este, por sua vez, é muito resistente à radiação ionizante e ultravioleta, bem como às influências físicas e químicas. Não é destruído pela fervura, congelamento e descongelamento rápidos, ou por exposição ao éter. Tratamentos de calor podem diminuir sua infectividade, mas para que o vírus seja totalmente destruído, é imprescindível a esterilização por vapor a 132°C. Inativação química pode ser alcançada com o uso de hipoclorito de sódio 2% por um período de 1 hora, ou com o hidróxido de sódio 4%.
Na década de 50 observou-se que o scrapie apresenta diferenças de ocorrência entre as distintas raças de ovinos, acometendo ambos os sexos igualmente. Costuma afetar animais entre 2 a 5 anos de idade, ocorrendo raras vezes em animais com menos de 18 meses de vida.
A morbidade gira em torno de 10 a 50% do rebanho afetado, apresentando 100% de mortalidade os animais que manifestam sintomas da doença.
O período de incubação do scrapie é longo, variando de 3 a 5 anos, o que conseqüentemente faz com que os ovinos infectados quando jovens não manifestem a doença precocemente. Esse longo período de incubação é relevante, pois as fêmeas infectadas com o príon apresentam ampla oportunidade de transmitir a afecção aos descendentes.
A transmissão pode ser do tipo horizontal e/ou vertical, por meio da introdução de animais infectados em rebanhos livres da doença. A via oral aparentemente é uma das mais implicadas. A placenta é conhecida como a maior fonte de infecção da mãe para o seu cordeiro e outros cordeiros que entrarem em contato com esta membrana.
Até o momento, não há relatos da existência do risco de transmissão direta dessa doença de ovinos para humanos. Todavia, existem evidências de que determinadas variantes da doença de Creutzfeldt-Jakob resultam da ingestão de produtos provenientes de animais contaminados com scrapie ou de agentes similares a este.
O scrapie possui preferência pelo sistema linforreticular, local onde se replica durante o período incubatório, subseqüentemente, migrando para o sistema nervoso central. Não se conhece o mecanismo pelo qual o agente alcança o cérebro. O que é conhecido é que a infecção primeiramente ocorre no diencéfalo e medula oblonga (bulbo raquidiano) com subseqüente disseminação e replicação em outras regiões do encéfalo.
Inicialmente, as manifestações clínicas englobam alterações comportamentais e dificuldade de ingerir alimentos. Ao passo que a doença evolui, os animais ficam descoordenados, em conseqüência da ataxia cerebelar. O quadro clínico varia muito de acordo com a região acometida do cérebro, desenvolvendo-se lentamente. Por conseguinte, o animal inicia o ato de se esfregar contra objetos rígidos, provavelmente com o intuito de aliviar o prurido. Outros sinais são polidipsia, perda de peso, mordedura das patas, bruxismo e anormalidade nos movimentos, juntamente com tremores e convulsões.
O diagnóstico é feito por meio do quadro clínico e confirmação através de exames histopatológicos do encéfalo do animal após sua morte. Exames imuno-histoquímicos são utilizados para detecção dos príons.
Esta doença não possui tratamento e nem vacina. Deste modo, é importante a adoção de algumas medidas para evitar o surgimento da doença no rebanho. Deve ser feita a seleção de fêmeas livres da doença para diminuir o número de cordeiros infectados, além de diminuir outras formas de contaminação, uma vez que as ovelhas positivas para scrapie apresentam a placenta infectada, sendo esta uma fonte direta e indireta de infecção para outros animais que entrarem em contato com ela. Outro método é o abate dos animais infectados, tendo suas carcaças incineradas.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Scrapie
http://www.revista.inf.br/veterinaria10/revisao/edic-vi-n10-RL81.pdf
https://web.archive.org/web/20140809024759/http://sheepembryo.com.br:80/files/artigos/54.pdf
https://web.archive.org/web/20120405194251/http://www.vallee.com.br:80/doencas.php/6/53
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/medicina-veterinaria/scrapie/