A diálise peritoneal consiste em um processo de depuração sanguínea, desempenhando o papel dos rins. Neste procedimento, o peritônio, a membrana semipermeável que reveste a cavidade abdominal, é utilizado como um filtro, permitindo a transferência de massa entre a cavidade abdominal e o capilar peritoneal, local este no qual se encontram substâncias tóxicas ao organismo.
Para que este procedimento seja realizado, introduz-se, através de um cateter, uma solução de diálise no interior da cavidade abdominal (processo denominado infusão), sendo que aquela permanece tempo suficiente nesta para a ocorrência de troca entre a solução e o sangue, processo conhecido como permanência. Desta forma, substâncias nitrogenadas e líquidos migram do sangue para a solução de diálise, realizando-se, por conseguinte, a terceira etapa da qual a diálise peritoneal é composta, que é a drenagem. No ciclo seguinte de diálise, o mesmo procedimento é novamente realizado.
A transferência de massa do sangue para a solução de diálise ocorre da seguinte forma:
- Difusão: solutos urêmicos e potássio passam do sangue do capilar peritoneal para a solução de diálise, de acordo com um gradiente de concentração. Também há difusão de cálcio, glicose e lactato da cavidade para o sangue, porém em quantidade pequena.
- Ultrafiltração: uma ultrafiltração de água e solutos do sangue para a cavidade abdominal é resultante da maior osmolaridade da solução de diálise, através da membrana peritoneal.
- Absorção: ocorre constante absorção de soluto e água da cavidade abdominal através dos vasos linfáticos e do peritônio.
Existem diferentes tipos de técnicas que podem ser utilizadas na realização da diálise peritoneal, como:
- Diálise peritoneal intermitente (DPI): neste caso, a solução de diálise, que é aquecida à temperatura corporal, pode ser infundida manualmente ou por cicladora, devendo ser realizada em ambiente hospitalar, demorando entre 24 a 48 horas, devendo ser trocada dentro de 1 a 2 horas, com frequência de 2 vezes por semana. Indica-se este procedimento para pacientes com alta permeabilidade, função renal residual significativa e alguns casos de insuficiência renal aguda.
- Diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPD): neste tipo de diálise peritoneal, a cavidade abdominal fica permanentemente repleta de solução de diálise, sendo, habitualmente, realizadas quatro trocas por dia, sendo o tipo mais adequado para a maioria dos pacientes.
- Diálise peritoneal noturna (NIPD): a diálise é realizada durante a noite pela cicladora, por um período de 8 a 10 horas, permanecendo a cavidade abdominal sem solução de diálise durante o dia.
- Diálise peritoneal contínua por cicladora (CCPD): durante a noite ocorre a diálise, que é realizada pela cicladora e, durante o dia, a cavidade abdominal fica repleta de solução.
Como outras técnicas de terapia, a diálise peritoneal pode levar a complicações. Pode ocorrer hemorragia no local onde o cateter sai do corpo ou no interior da cavidade abdominal, além de poder ocorrer perfuração de algum órgão na introdução do mesmo. No entanto, a complicação mais preocupante é a possibilidade de infecção, que pode situar-se no peritônio ou na região cutânea circunvizinha ao cateter. Esta complicação comumente ocorre por erro ou falta de cuidados na esterilização do cateter e da pele, carreando bactérias para o interior do abdômen.
Além dessas complicações, também ocorrer:
- Hipoalbuminemia;
- Esclerose peritoneal;
- Obstrução parcial do intestino;
- Hipotireoidismo;
- Ataques epilépticos;
- Hiperglicemia;
- Hérnias abdominais ou inguinais;
- Obstipação.
Fontes:
http://www.manualmerck.net/?