O exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) tem sido utilizado como aliado no diagnóstico de patologias neurológicas desde o final do século XIX. Além de auxiliar no diagnóstico, a análise deste fluído possibilita o estadiamento e o acompanhamento de afecções vasculares, infecções, inflamações e neoplasias que atingem, tanto de forma direta quanto indireta, o sistema nervoso.
A coleta do LCR deve ser feita por meio de uma punção, em ambiente hospitalar, que pode ser suboccipital (logo abaixo do crânio) ou lombar (entre a terceira, a quarta e a quinta vértebras lombares). É imprescindível que o procedimento seja totalmente estéril e realizado por um profissional treinado. Por conseguinte a coleta, o paciente deve permanecer em repouso por, no mínimo, 12 horas e hidratação forçada.
Habitualmente, coleta-se o líquido cefalorraquidiano por meio de gotejamento em três tubos estéreis devidamente identificados. Um dos tubos é destinado para análises bioquímicas e sorológicas, outro é destinado à microbiologia e o terceiro, à citologia. Existe a opção também de coletar um quarto tubo destinado à análise microbiológica. Recomenda-se também coletar sangue concomitantemente, para que seja feito um estudo comparativo dos níveis de proteína (globulinas) e glicose.
A análise clínica do LCR já é iniciada com a coleta, sendo que neste ponto do processo verifica-se se o fluído corre sob pressão (o que indica hipertensão intracraniana) ou simplesmente em gotejamento vagaroso (considerado normal). Outro ponto que deve ser analisado é se o LCR está incolor (normal) ou com aparência alterada, podendo apresentar-se cristalino ou turvo, leitoso, xantocrômico (coloração rosada, alaranjada ou amarelada) ou sanguinolento (hemorrágico). Neste último caso, deve-se distinguir o acidente de punção, da hemorragia intracraniana, sendo que no primeiro caso, os tubos vão ficando gradativamente mais claros, enquanto que no segundo caso, os tubos mantêm a mesma coloração. A xantocromia pode ter etiologia na presença de produtos que degradam eritrócitos, na presença de bilirrubina, de caroteno, de quantidade exacerbada de proteínas, ou na presença de pigmento de melanoma.
O procedimento citológico deve ser iniciado em sequência à coleta do LCR, uma vez que as células suspensas no LCR sofrem degradação rapidamente quando in vitro. Habitualmente as células são contadas por milímetro cúbico, com o auxílio da câmara de Fuchs-Rosental, sendo necessária diluição somente em casos de elevada celularidade. Uma quantidade de líquor deve ser reservada para análise de uma lâmina fixada e corada, para que seja feita a distinção entre as células encontradas. O comum é que haja predomínio de linfócitos, com presença de alguns monócitos e quase nenhum neutrófilo. O aumento demasiado de linfócitos sugere a presença de infecções, sendo que o predomínio de neutrófilos indica infecção bacteriana, e o predomínio de linfócitos relaciona-se com infecções virais e tuberculosas. A observação de eosinófilos, em qualquer quantidade, é um forte indicativo de presença de parasitas no sistema nervoso. Ocasionalmente podem ser observadas células ependimárias.
Já que o LCR não é formado somente pelo processo de filtração, alguns componentes são diferentes quanto à sua concentração, quando comparado ao plasma sanguíneo. A concentração de proteínas encontra-se muito abaixo da observada no plasma, sendo assim, aumento deste componente está ligado à lesão da barreira hematoencefálica ou à síntese intratecal de imunoglobulinas. Para que este fluído seja estudado com maiores detalhes, o LCR pode ser submetido ao procedimento de eletroforese de proteínas. A concentração de glicose varia de acordo com a concentração plasmática, sendo que a sua elevação indica que houve uma elevação deste componente no plasma sanguíneo, enquanto que sua redução sugere a presença de meningite bacteriana. Outros componentes que podem ser dosados no LCR são: lactato, cloretos, glutamina, desidrogenase láctica e isoenzimas da creatino-quinase.
A análise microbiológica consiste na coloração de Gram e a cultura para bactérias piogênicas e, caso haja a suspeita de meningite tuberculosa, a coloração de Ziehl-Nielsen e cultura em meio específico.
Fontes:
http://www.fleury.com.br/Medicos/SaudeEmDia/ManualNeuro/pages/L%C3%ADquidocefalorraquidiano.aspx
http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADquido_cefalorraquidiano
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-24442008000200006
http://esclerosemultipla.wordpress.com/2006/07/04/exame-lcr/
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/medicina/exame-do-liquido-cefalorraquidiano/