História da Psiquiatria

Graduada em História (USP, 2011)

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Desde a Antiguidade clássica há relato de doenças que acometiam a mente, obviamente não era dessa forma que os gregos e os romanos as descreviam, mas percebiam que esses indivíduos que destoavam do resto da sociedade tinham algo de diferente.

Os Antigos não tinham classificações cientificas tão ramificadas como temos nos dias de hoje, as fragmentações e especificidades das ciências começam a ocorrer apenas, em maior volume e velocidade, a partir do século XIX. Então os pensadores, ou filósofos, como eram chamados genericamente aqueles que se dedicavam aos estudos eram os responsáveis também pelas análises que abarcavam essa que podemos chamar hoje de área médica e psiquiátrica.

A loucura não é o único mal tratado pela psiquiatra, mas é um dos seus grandes estigmas, tanto que 1961, o filósofo Michel de Foucault publica um livro chamado “História da Loucura” em que faz uma investigação do ponto de vista histórico, filosófico e praticamente arqueológico da loucura ao longo dos tempos desde a Idade Média à contemporaneidade.

Retomando aos Antigos, Hipócrates, pensador grego, por muitos considerado como um dos “pais da medicina”, estabelece uma teoria dos humores. Considerando que a Terra é constituída por quatro elementos essenciais: água, fogo, ar e terra; assim também deve ser o corpo humano. Analogamente, o corpo humano seria formado pela fleuma, o sangue, a bile amarela e bile negra: “O corpo do homem contém sangue, fleuma, bile amarela e bile negra – esta é a natureza do corpo, através da qual adoece e tem saúde. Tem saúde, precisamente, quando estes humores são harmônicos em proporção, em propriedade e em quantidade, e sobretudo quando são misturados. O homem adoece quando há falta ou excesso de um desses humores, ou quando ele se separa no corpo e não se une aos demais” (Da Natureza do Homem, Apud: Joffre Marcondes de Rezende, 2009).

Já na Idade Média, uma sociedade em que o cristianismo era a ideologia religiosa predominante, era conveniente considerar a loucura com um mal àqueles que eram pobres de espírito, ou seja, não seguiam a doutrina cristã da maneira ortodoxa. Não era difícil que estes indivíduos e era o caso principalmente das mulheres serem consideradas bruxas e terminarem na fogueira.

Nesse sentido, o medo do inferno, pregado pela Igreja, fazia com que muitas famílias abandonassem os seus entes queridos, conviver com uma pessoa que não se encaixava dentro dos parâmetros do estamento medieval eram uma tênue linha entre o céu e a danação eterna. Os leprosários medievais, que em primeira instância deveriam abrigar aqueles que padeciam de hanseníase não tardaram a também se tornar o refúgio dessas pessoas que estavam “fora da curva”, de acordo com os preceitos morais da sociedade medieval.

Na Idade Moderna, com o advento do capitalismo, mudam-se as regras, mas a dinâmica é a mesma. “O louco, deste ponto de vista moral e burguês, é alguém que vive dentro da razão errada. É alguém que desrespeita as normas de comportamento porque vive no erro. Sua avaliação das regras morais não é boa. (Alan Indio Serrano: 1982, 19).

Há uma expressão pejorativa que era muito utilizada antigamente, quando alguém queria dizer que uma pessoa não está “bem das ideias”, não estava na plenitude de suas faculdades mentais ou simplesmente queria dizer que tal individuo estava louco, costumava-se dizer que esteva “pinel” ou “pinel das ideias”.

A expressão surgiu em referência ao médico dos séculos XVIII e XIX Philippe Pinel, considerado o pioneiro da psiquiatria moderna. Psiquiatra e neuropsiquiatra, depois de muitos estudos e observações, baniu tratamentos que considerava agressivos, era comum submeter os doentes mentais a sessões de vômitos induzidos, sangrias, purgações e ventosas. No lugar, Pinel aplicava um tratamento que considerava mais “amigável”, como atividades ocupacionais.

Do ponto de vista histórico, as atitudes de Pinel casam com o período do Iluminismo, ou seja, o século em que a razão se sobrepõe às práticas absolutistas e ao obscurantismo clericalista.

A psiquiatria no Brasil

Desde 2001 foi promulgada uma lei no país que dispõe sobre a humanização da assistência aos pacientes de saúde mental e a gradativa desativação dos antigos manicômios, trata-se da Lei Antimanicomial n.º 10.216, de 6/4/2001, que também criou os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). O intuito é reinserção desses indivíduos na sociedade.

Uma das figuras emblemáticas da humanização do atendimento psiquiátrico no Brasil foi Nise da Silveira. Médica psiquiatra alagoana, ainda década de 1940, opunha-se freneticamente às terapias de eletrochoque muito em voga na época, para tanto, ela funda uma clínica que ficará conhecida como Centro Psiquiátrico Pedro II, em que o foco eram as terapias ocupacionais.

Bibliografia:

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva: Subsecretaria de Assuntos Administrativos. Memória da Loucura. Apostila de monitoria. Brasília: 2018. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/memoria_loucura_apostila_monitoria.pdf, acesso em 15 nov. 2021.

JONES, David W. Moral insanity and psychological disorder: the hybrid roots of psychiatry. Reuni Unido: Open University, 2017. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/0957154X17702316, acesso em 15 nov. 2021.

REZENDE, JM. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina [online]. São Paulo: Editora Unifesp, 2009. Dos quatro humores às quatro bases. pp. 49-53. Disponível em: https://books.scielo.org/id/8kf92/pdf/rezende-9788561673635-05.pdf, acesso em 15 nov. 2021.

SERRANO, Indio Alan. O que é psiquiatria alternativa. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982.

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