O princípio dos estudos da anatomia humana deu-se no Egito, documentos comprovam que algumas das primeiras descrições anatômicas foram registradas em papiros aproximadamente entre 3000 e 2500 a.C. Desde esta época já havia no Egito o domínio de técnicas de mumificação, e havia no território Chinês o desenvolvimento de técnicas de acupuntura.
Considera-se que formalmente os estudos de anatomia iniciaram-se em 500 a.C por conta dos trabalhos de Aristóteles e Hipócrates. Ambos trouxeram contribuições importantes para o desenvolvimento da medicina, tendo sido Aristóteles o primeiro a utilizar a palavra Anatome, que significa cortar em pedaços ou separar, remetendo à ideia de se estudar separadamente cada parte do corpo humano. Hipócrates foi o responsável pelo ensino de medicina na escola grega. Tendo escrito diversos livros sobre anatomia, é considerado o fundador da ciência anatômica e pai da medicina.
Por volta de 300 a.C, na região do Egito passou-se a praticar a técnica de vivissecção, que consistia na realização de corte de alguns órgãos com o indivíduo ainda vivo. Mais ou menos nesta mesma época houve a proibição, por parte da Igreja Católica, da dissecação de cadáveres, com o argumento de que tal prática feriria princípios éticos e religiosos.
Na Grécia, em 200 d.C, o médico e filósofo Claudius Galeno dedicava-se a ensinar anatomia nas escolas de medicina grega. Por conta da proibição ocorrida também na Grécia, ele dissecava animais em vez de humanos, e estabelecia comparações entre estes organismos. Sabe-se que evidentemente equívocos foram vinculados na produção de conhecimento médico deste contexto, dada a diferenciação das anatomias humana e animal.
Houve uma longa pausa de 12 séculos no desenvolvimento da anatomia humana, muito por conta das proibições e perseguições religiosas. Até que nos séculos XV e XVI a Europa passou pelo contexto da invenção da prensa móvel, que fez circular diversos saberes artísticos, culturais e científicos. Muitas obras de escritores antigos voltaram à cena.
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi uma figura importante no avanço científico da época renascentista. Realizou pesquisas e escreveu estudos sobre anatomia humana, dentre eles os Cadernos anatômicos. O famoso esboço do Homem vitruviano apresenta estudos realizados por Da Vinci acerca das proporções do corpo humano.
Outro expoente no desenvolvimento da ciência anatômica foi Andrea Vesalius (1514-1564), médico e anatomista que realizou diversas dissecações no corpo humano, e reproduziu perfeitamente desenhos dos órgãos em seu livro. Vesalius foi o responsável por escrever e publicar o primeiro Atlas de Anatomia Humana, em 1543, denominado De humanos corpoli fábrica. William Harvey (1578-1657) foi outro nome importante na história da anatomia, por ter sido aquele que descobriu a circulação do sangue nas artérias e veias.
Entre fins do século XVI e início do século XVII, viu-se, na Europa, a popularização da prática de dissecação; nesta época, passou a ser disseminada noção de preservação e reunião de peças anatômicas em locais próprios. Foram criados verdadeiros museus de anatomia. Já os séculos XVIII e XIX viram o surgimento de muitas obras, atlas e compêndios voltadas para o estudo da anatomia.
Nos séculos XVIII e XIX também houve o problema da escassez de cadáveres para estudo de anatomia. Sabe-se que desde o início do desenvolvimento da ciência médica, os cadáveres utilizados para dissecação tendiam a ser cadáveres de indigentes. Por conta da ausência de materiais humanos para estudo, surgiram ladrões profissionais de cemitérios; estes roubavam corpos para serem vendidos para escolas de medicina. Nesta época, diversos estudantes e professores envolveram-se em casos ilícitos. A comoção pública em relação à violação de túmulos fez com que leis fossem criadas a fim de delimitar quais corpos e em quais condições seriam submetidos para estudos em escolas de anatomia e medicina.
Referências:
KRUSE, Maria Henriqueta Luce. Anatomia: a ordem do corpo. Rev Bras Enferm, Brasília (DF) 2004 jan/fev;57(1):79-84.
LACERDA, Carlos Alberto Mandarim de. Breve história da Anatomia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2010.