Em determinadas situações, ao fazer o uso de determinados fármacos acabam por surgir efeitos que não eram os esperados, ou seja, que não decorrem de sua ação farmacológica, ou ainda, esses efeitos podem vir de substâncias que nem sequer apresentam propriedades farmacológicas, sendo substâncias inertes. Esses efeitos são conhecidos como placebo, e com todo o avanço da medicina ainda permanecem como um mistério.
Placebo, do latim placere, significa “agradarei”, e segundo o dicionário médico Hooper, significa “um fármaco ou procedimento inerte (sem princípios ativos) que produz efeito benéfico ou maléfico à saúde de um indivíduo”. Desta forma, ao ingerir uma pílula contendo açúcar ou amido, por exemplo, a pessoa sentiria melhoras de determinada enfermidade, sendo atribuído a essas substâncias as propriedades de cura. O placebo também pode existir em outras formas, além de pílulas, como em cirurgias espirituais, certos tipos de terapias alternativas, como os florais e cristais, e até em fármacos que apresentam efeitos não decorrentes de sua ação.
Tem sua aplicação na indústria farmacêutica, para comprovar a efetividade de fármacos, em estudo conhecido como duplo-cego. Nesta situação, grupos de indivíduos são randomizados, onde um grupo receberá o medicamento em estudo e, o outro, o placebo. Espera-se que somente o grupo que recebeu o fármaco apresente os sintomas desejados, porém, uma porcentagem do grupo placebo tende a apresentar as mesmas respostas.
Esse efeito foi observado inicialmente no século XVIII, pelo médico Elisha Perkins (1796), que tratava seus pacientes com um aparelho composto por duas varetas de metal, que ele patenteou como “Tractor Perkins”, onde as agitava em torno do paciente para eliminar o fluído elétrico que acreditava lhes causar o mal. Os efeitos despertaram o interesse do médico John Haygarth, que fez uma réplica do aparelho, porém em madeira, e conseguiu provar em um estudo controlado que, embora os efeitos produzidos pelo “Tractor Perkins” fossem verdadeiros, os mesmos poderiam ser atingidos com a sua réplica. Desta forma, conseguiu demonstrar que o uso de procedimentos embora tidos como inertes na terapêutica, podem acarretar em resultados positivos aos pacientes.
Desta forma, essa questão gera muita discussão na comunidade médica, que vai além das comprovações científicas. Muitos acreditam que este efeito seja puramente psicológico, decorrente da crença no tratamento, porém, o percentual de efetividade desperta a curiosidade dos pesquisadores, que pode chegar de 20% a 100% de respostas positivas nos indivíduos que fazem seu uso. Como mencionado, não há uma explicação objetiva para o efeito placebo, porém existem algumas teorias:
- Condicionamento clássico ou Pavloviano: através de uma resposta inconsciente, gradativamente há uma melhora nas condições fisiológicas do indivíduo, que passa a se adaptar com o uso da substância. Com isto, a pessoa que faz o uso da substância inerte várias vezes apresentará respostas cada vez maiores. Também, pessoas que recebem o tratamento inicial com um fármaco, e depois passam a receber o placebo, podem apresentar os mesmos efeitos, com o organismo respondendo da mesma forma.
- Mecanismo consciente de duas partes: nesse sentido ocorre a expectativa de recompensa, onde a crença ativa a rede de recompensas no cérebro, motivando o paciente e refletindo na sua recuperação; e a modulação da ansiedade, onde o paciente ao ouvir do psicólogo, por exemplo, que a dor reduzirá, apresentará redução da ansiedade devido à libertação de neurotransmissores. Em ambos os casos, ao saber que estava fazendo o uso de um placebo, o tratamento perderá seu efeito.
Contudo, vale ressaltar que os estudos científicos são essenciais para a comprovação da eficácia farmacológica dos medicamentos, a fim de evitar o surgimento de fármacos ineficazes no mercado.
Referências bibliográficas:
O placebo e seus efeitos. Disponível em <http://www.boasaude.com.br/artigos-de-saude/3861/-1/o-placebo-e-seus-efeitos.html>.
O efeito placebo. Disponível em <https://psicologado.com/psicologia-geral/o-efeito-placebo>.