A música carnavalesca instaurou-se no Brasil por inspiração numa peça teatral francesa chamada “Les Pombiers de Nanterre”. Em 1869, no Rio de Janeiro, foi apresentado no Teatro Fênix o dramático espetáculo “Zé Pereira Carnavalesco”. Nesta peça, o comediante Francisco Correia canta uma versão feita por si mesmo da peça francesa.
A letra da música em nada se parecia com o original, pois exaltava o Zé Pereira, personagem ainda desconhecido do carnaval carioca. Feito em melodia importada, a música do Zé Pereira representava a primeira tentativa, ainda que por acaso, de canção do carnaval carioca.
No século XIX havia carnaval, mas a música dançada nos bailes carnavalescos eram polcas, maxixes. Não havia letra a ser cantada. O carnaval de rua era animado por instrumentos de percussão e algumas músicas que não ultrapassavam os limites dos cordões e ranchos onde eram cantados.
Foi Chiquinha Gonzaga quem compôs, sob encomenda dos dirigentes do cordão Rosa de Ouro, em 1899, uma música especificamente para o fim carnavalesco. Compositora e musicista já consagrada, registrou assim a primeira e a mais antiga marcha-rancho do carnaval brasileiro. “Ó abre alas” tem uma estrutura idêntica às músicas criadas pelos ranchos carnavalescos:
Ó abre alas
Que eu quero passar
Eu sou da Lira
Não posso negar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Rosa de Ouro
É que vai ganhar
Mesmo com o sucesso, a marcha “Ó abre alas” não foi suficiente para se dar início à produção anual de canções carnavalescas, destinadas justamente para esse fim. O que acontecia era que, as músicas que se destacavam durante o ano eram tocadas no carnaval. Foi o que aconteceu em 1904: a música “Rato, rato”, inspirada na cantilena dos compradores do roedor durante a campanha de combate à proliferação dos ratos no Rio, foi cantada pelos foliões em ritmo de polca.
A música carnavalesca brasileira de fato veio aparecer em novembro de 1916, quando o cantor Baiano lançou a música “Pelo telefone”, primeiro samba gravado em disco. Essa música foi completamente absorvida pelo público e, em 1917, foi uma das musicas mais tocadas nos bailes de carnaval.
Os anos 30, 40 e 50 foram marcados pela melhor fase da música carnavalesca, com a composição de marchas como “Dá nela”, de Ari Barroso e “Taí”, de Joubert de Carvalho e o samba “Na Pavuna”, de Almirante. Muitas dessas músicas foram imortalizadas, como “Mamãe eu quero”, de Vicente Paiva e Jararaca, “O teu cabelo não nega”, de Lamartine Babo e Irmão Valença, “Jardineira”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, dentre tantos outros sucessos.
O ano de 1971 entrou para a história do carnaval quando a Escola de Samba Acadêmicos da Salgueiro apresentou o samba-enredo que foi um grande sucesso no carnaval: “Festa para um rei negro”, conhecido também como “Pega no ganzê” (Zuzuca). Desde então, os sambas-enredo e músicas lançadas no meio do ano (adaptadas para o carnaval) passaram a ocupar o espaço deixado pela decadência da canção carnavalesca tradicional.
A partir do final do século XX e início do século atual, Salvador e Recife vêm substituindo o Rio de Janeiro no lançamento das principais canções carnavalescas do país. Recife permanece fiel ao frevo. Salvador inventou o trio elétrico e seus artistas se preparam todos os anos não só para lançar novas músicas, como também novos ritmos e danças. As duas cidades do Nordeste mobilizam multidões não só de baianos e pernambucanos, mas de pessoas de todo o país e do mundo. O Rio de Janeiro também continua atraindo turistas, mas sua grande atração é o pomposo espetáculo proporcionado pelas escolas de samba.
Fontes
CABRAL, Sérgio. A música de carnaval. IN: DREYFUS, Dominique e outros. Raízes Musicais do Brasil. Rio de Janeiro, Sesc-RJ, 2005, p. 42-50.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/musica/ritmos-do-carnaval-brasileiro/