O samba, assim como o futebol, é uma das manifestações mais representativas e simbólicas da cultura do Brasil. O gênero musical é mais identificado com o Rio de Janeiro, que, com a Radio Nacional inaugurada em 1936, teve a primeira emissora de alcance nacional projetando nomes, nascidos ou radicados, na capital fluminense, tais como Linda Batista, Donga, Orlando Silva e Carmen Miranda entre outros. Antes da popularização nacional do samba urbano carioca, o samba já aparecia, início do século XX, em São Paulo produzindo um samba regional que refletia influências diversas.
As primeiras manifestações do samba em São Paulo tiveram lugar no interior do estado. De acordo com o sambista Geraldo Filme, a origem do samba paulista teria acontecido em 1908 em rodas de samba de negros na cidade de Pirapora do Bom Jesus. Há, porém, registros anteriores de festas com batucadas em senzalas localizadas em Piracicaba e Capivari que datam de 1722, segundo o pesquisador musical Tadeu Augusto Matheus, o T-Kaçula.
A História da cidade de Pirapora do Bom Jesus confunde-se com história do samba paulista já na sua fundação, ainda como vilarejo pertencente à cidade de Santana do Parnaíba em 1725, ano em que se espalha a crença de que uma imagem de madeira do Senhor Bom Jesus, encontrada às margens do Rio Tietê, teria realizado um milagre ao devolver a fala a um mudo. Famílias de fazendeiros começaram a frequentar as festas do Bom Jesus no mês de agosto levando para a localidade seus escravos, que mantidos a distância, organizavam seus batuques. Após a abolição da escravatura, ex-escravos e seus descendentes continuaram o hábito de deslocar-se para Pirapora na época de romaria. Dois barracões foram construídos no início do século XX para romeiros que não podiam se hospedar em hotéis. Negros vindos de Capivari, Piracicaba, São Paulo, Sorocaba, Tatuí e Tietê se reunião nos barracões realizando rodas de samba. A mistura de sambas provenientes de cada uma dessas localidades tinha forte presença da zabumba (bumbo) usado como marcador do compasso da dança. Foi então que a música criada nos barracões de Pirapora ficou conhecida como Samba de Bumbo.
Em estudos sobre a cultura popular, Mario de Andrade descreve o Samba Rural Paulista ou o Samba de Bumbo: "Enfileirados os instrumentistas, com o bumbo ao centro, todos se aglomeram em torno deste, no geral inclinados pra frente como que escutando uma consulta feita em segredo. É pois a coletividade que decide do texto-melodia com que vai sambar. No grupo em consulta, um solista propõe um texto-melodia. Não há rito especial nesta proposta. O solista canta, canta no geral bastante incerto, improvisando. O seu canto, na infinita maioria das vezes, é uma quadra ou um dístico. O coro responde. O solista canta de novo. O coro torna a responder. E assim, aos poucos, desta dialogação, vai se fixando um texto-melodia qualquer. O bumbo está bem atento. Quando percebe que a coisa pegou e o grupo, memorizando com facilidade o que lhe propôs o solista, responde unânime e com entusiasmo, dá uma batida forte e entra no ritmo em que estão cantando. Imediatamente à batida mandona do bumbo, os outros instrumentos começam tocando também, e a dança principia”.
Muitos dos frequentadores dos barracões tornaram-se líderes dos cordões -grupos carnavalescos precursores das escolas de samba paulistanas. Um deles foi Dionísio Barbosa, fundador, em 1914, do Cordão da Barra Funda, primeiro grupo carnavalesco da cidade de São Paulo. A música dos cordões possuía elementos dos sambas rurais paulistas mesclados com a marcha recebendo a denominação de marcha-sambada. O declínio do samba regional de São Paulo que teve início com a hegemonia do samba carioca nas rádios de todo o país, e teve seu golpe de misericórdia com o fim dos cordões que perderiam seu lugar no Carnaval de São Paulo quando, a partir de 1968, transformaram-se em escolas de samba para participar do desfile oficial de Carnaval da Cidade de São Paulo que seguia o modelo e regras do Carnaval do Rio de Janeiro.
Apesar da forte tradição regionalista que deu ao samba paulista características distintas do resto do país, nomes como Adoniran Barbosa, Geraldo Filme, Paulo Vanzolini, Germano Mathias, Caco Velho, Jorge Costa, Hélio Sindô e Henricão são reconhecidos como clássicos do samba.
Fontes:
http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao40/materia06/
http://musica.uol.com.br/ultnot/2006/02/09/ult89u6252.jhtm
http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?edicao_id=237&Artigo_ID=3716&IDCategoria=4073&reftype=2