*Por Pe. Javier García Martínez, Diretor do Colégio Agostiniano São José (CASJ)
Todos nós temos lembranças dos tempos de escola. Não importa em que época vivemos, a escola sempre foi lugar de desafios e descobertas. O primeiro dia de aula, a cada ano letivo, traz um "frio na barriga" e uma mescla de indagações aos estudantes: será que vou ficar na mesma sala dos meus amigos? Quem serão os meus novos colegas? E os professores? Darei conta da carga de atividades? As pessoas vão gostar de mim? Entre outras questões.
O primeiro dia de aula também é abordado pelo cinema. Há diversos comentários na mídia e redes sociais sobre o filme “Extraordinário”. A história gira em torno de Auggie Pullman, uma criança que nasceu com uma deformidade na face e, após anos sendo alfabetizado e educado pela mãe em casa, decide, em comum acordo com a família, ir à escola a partir do 5° ano escolar.
Várias cenas tornam a película especial e merecedora de elogios. Chamo a atenção especialmente à parte em que Auggie é recebido por três alunos selecionados pelo diretor para apresentação da escola. Esse cuidado com o novato serve de exemplo para nós, educadores, e deveria ser levado em conta não apenas com os que têm alguma necessidade especial, mas com todos, principalmente, na época em que começamos mais um período letivo.
Aos gestores da escola vale considerar cada início de ano como um momento especial. Trabalhar o acolhimento é imprescindível para que todos os alunos se sintam parte do grupo, levando em conta a faixa etária, a necessidade de pessoas com deficiência e a familiaridade com o ambiente escolar. Passada a receptividade dos primeiros dias, o trabalho de acolhimento deve permanecer a fim de que o aluno sinta motivação pelos estudos nos meses que seguem.
Vale lembrar também que os alunos de uma mesma sala de aula precisam cultivar a boa convivência ao longo do ano. Para isso, a equipe pedagógica do colégio necessita manter-se atenta, assegurando-se de que nenhum estudante foi colocado à margem pelo grupo. Observar o comportamento dos estudantes na hora do recreio ou intervalos é um excelente caminho para posse dessas percepções.
Ao longo do ano, as atividades físicas e recreativas, momento em que os alunos se encontram mais à vontade, representam um ótimo meio de promover a integração e conhecer melhor a personalidade de cada um. Ao sentir resistência fora do comum, por parte de algum deles em se enturmar, vale investir um pouco mais de atenção no caso, envolvendo inclusive a família, com o objetivo de ajudar na adaptação da criança ao ambiente escolar e favorecer assim o seu desenvolvimento social e intelectual.
Por isso, a aproximação da escola com a família deve ser uma constante no decorrer do ano. Tanto os pais como os educadores precisam trabalhar em prol do futuro dos estudantes, alinhando as perspectivas. A família necessita reconhecer na instituição os mesmos valores morais presentes em casa, e vice-versa, de modo que ambas se completem na educação do discente. Essa similaridade de valores contribui para o equilíbrio emocional do aluno.
Assim como no filme Extraordinário, é o acolhimento de colegas e professores que fazem a escola singular para o aluno e manifesta nele o desejo de seguir em frente, mesmo em meio às dificuldades que possam surgir. E é dever da gestão escolar garantir que todos, alunos e pais, sintam-se acolhidos pelo ambiente educacional, criando mecanismos que ajudem o aluno a superar os desafios, sejam eles emocionais ou de desenvolvimento cognitivo.