A tensão que permeia há anos a relação entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte foi intensificada nas últimas semanas. Políticos e representantes dos dois países fizeram provocações e ameaças mútuas, deixando o resto do mundo apreensivo com a possibilidade de um confronto nuclear. Nesta matéria, explicamos os principais pontos do conflito entre os dois países e organizamos uma linha do tempo dos acontecimentos do último mês. Confira:
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Apresentando a Coreia do Norte
Para compreender o conflito entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, é fundamental saber um pouco mais sobre o país asiático.
A história da Coréia do Norte começa em 1945, após a rendição dos japoneses, quando os Estados Unidos e a União Soviética dividiram a então Coreia em duas zonas. O norte foi ocupado pelos soviéticos e o sul pelos estadounidenses. As tentativas de reunificação do país falharam e, em 1948, dois governos se formaram: a República Popular Democrática da Coreia (socialista, no norte) e a República da Coreia (capitalista, no sul).
Em 1950, a Coreia do Norte invadiu o país vizinho, no episódio que deu início à Guerra da Coreia (1950-1953). O conflito teve grandes proporções: estima-se que 1.600.000 norte-coreanos e chineses morreram na batalha. De acordo com a ONU, 70.000 sul-coreanos, 33.729 americanos e 4.786 pessoas de outras nacionalidades também foram mortos no confronto. Os dois países acordaram uma trégua em 1953, mas nunca assinaram um tratado de paz desde então.
Alguns anos após o fim da guerra, o então líder do país, Kim Il-Sung, introduziu uma filosofia chamada "Juche", palavra que significa uma posição de independência e um espírito de autossuficiência. (tradução livre: posição de independência/espírito de autossuficiência). Essa ideologia defende a autossuficiência industrial e de serviços, para preservar a dignidade e a soberania da nação. Em 1977, o Juche substituiu o marxismo-leninismo na constituição da Coreia do Norte, tornando-se assim a ideologia oficial do governo e do país.
A Coreia do Norte vive há décadas sob um rígido regime estatal, que causou a estagnação do país. Além disso, as lideranças norte-coreanas se sustentam sobre um culto de personalidades, que tem suas origens em Kim Il-Sung. O país sofre com desastres naturais e má-gestão econômica — organizações voluntárias estimam que dois milhões de coreanos morreram desde os anos 90 devido à escassez aguda de alimentos. O regime totalitário da Coreia do Norte também é acusado de praticar uma série de violações de direitos humanos, como detenção, tortura e execução de cidadãos.
A relação entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte
Os Estados Unidos e a Coreia do Norte são inimigos antigos. A relação de hostilidade entre os dois países teve início na Guerra da Coreia, quando a Força Aérea americana bombardeou e usou napalm em partes da Coreia do Norte, matando 20% da população do país.
Em 1948, Kim Il-Sung declarou a República Democrática Popular da Coreia e recebeu reconhecimento imediato da União Soviética. Os Estados Unidos, no entanto, jamais reconheceram diplomaticamente o país. Kim Il-Sung passou a utilizar uma retórica anti-americana, frequentemente apontando o país como um sucessor imperialista e capitalista do Japão.
Entre os anos de 1958 e 1991, os Estados Unidos, devido às suas influências diplomáticas e militares na Coreia do Sul, mantiveram armas nucleares destinadas a um possível uso contra a Coreia do Norte. O país asiático, por sua vez, havia assinado o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TPN) em 1985. Apesar disso, os serviços de inteligência norte-americanos fotografaram atividades suspeitas na Coreia do Norte, que foram investigadas pela IAEA (International Atomic Energy Agency). Em 1993, Kim Il-Sung anunciou que a Coreia se retiraria do TPN.
Durante a década de 90, a Coreia do Norte passou por uma crise econômica, que fez com que o país dependesse de ajuda financeira dos países "inimigos" (EUA, Japão e Coreia do Sul) — a União Soviética havia acabado em 1991. Nos anos 2000, potências ocidentais tentaram estimular negociações para a reunificação das Coreias.
Temendo uma possível intervenção americana nos assuntos políticos internos da Coreia, o governo asiático deu início a um programa nuclear. O desenvolvimento dessas armas também teria outra função: daria ao país um poder maior de negociação a nível internacional. A primeira bomba atômica norte-coreana foi testada com sucesso em 2006 e, desde, então, o país realizou mais quatro testes nucleares, que resultaram em uma relação de tensão com os países do Ocidente — principalmente com os Estados Unidos. A ONU impôs diversas sanções à Coreia do Norte devido aos testes atômicos.
Linha do tempo
8 de abril: Após um teste de míssil (frustrado) realizado pela Coreia do Norte, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declara ter enviado "uma arma muito poderosa" para a península coreana. O presidente se referia ao porta-aviões USS Carl Vinson e a um grupo tático.
9 de abril: Washington envia o grupo naval de ataque comandado pelo porta-aviões Carl Vinson à costa da Coreia do Norte.
11 de abril: O governo da Coreia do Norte afirma que as provocações dos Estados Unidos terão "consequências catastróficas" se continuarem acontecendo.
14 de abril: Os Estados Unidos lançam a MOAB GBU-43, conhecida como a "mãe de todas as bombas", contra o Afeganistão. A bomba é a segunda bomba não-nuclear mais potente do armamento dos Estados Unidos e nunca havia sido usada em conflito. Alguns especialistas acreditam que a utilização da MOAB GBU-43 pode também ter servido como uma demonstração de força para países inimigos, como a Coreia do Norte.
17 de abril: António Guterres, secretário-geral da ONU, pede que as autoridades da Coreia do Norte reduzam a tensão causada pelo seu último teste de mísseis.
18 de abril: O vice-presidente americano, Mike Pence, tenta reduzir a tensão entre EUA e Coreia. Em visita diplomática ao Japão, o americano afirma que os EUA estão dispostos a trabalhar com o Japão, a Coreia do Sul e a China para interromper pacificamente o programa nuclear da Coreia do Norte. O vice-presidente, no entanto, também declara que a "era da paciência estratégica" com a Coreia do Norte acabou.
O país asiático responde através de um alto diplomata, que declara: "Se os Estados Unidos planejam uma ofensiva militar, vamos reagir com um ataque nuclear preventivo".
19 de abril: O vice-presidente americano, Mike Pence, promete "uma resposta esmagadora em caso de ataque" da Coreia do Norte.
23 de abril: A Coreia do Norte declara que está pronta para atacar um porta-aviões dos Estados Unidos para demonstrar seu poderio militar.
24 de abril: O site oficial norte-coreano Uriminzokkiri declara que os Estados Unidos serão "varridos da face da Terra" se desencadearem uma guerra na península.
Fontes:
http://www.bbc.com/news/world-asia-pacific-15278612
http://www.bbc.com/news/world-asia-pacific-15256929
https://en.wikipedia.org/wiki/North_Korea%E2%80%93United_States_relations
http://guiadoestudante.abril.com.br/blog/atualidades-vestibular/5-passos-para-entender-a-crise-na-coreia-do-norte/
http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/09/internacional/1491724934_034701.html
http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/11/internacional/1491873589_023487.html
http://exame.abril.com.br/mundo/onu-pede-que-coreia-do-norte-reduza-tensao-apos-teste-de-missil/
https://noticias.terra.com.br/retorica-de-guerra-se-acirra-entre-eua-e-coreia-do-norte,f346668d2f756ae8cb6d19f2bcf2f620j307px3q.html
http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/6369048/coreia-norte-exibe-video-com-simulacao-ataque-misseis-aos-estados
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1876820-ameaca-de-trump-contra-a-coreia-do-norte-navegou-para-direcao-oposta.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1876803-vice-dos-eua-promete-resposta-esmagadora-a-coreia-do-norte.shtml
http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/mundo/internacional/noticia/2017/04/19/eua-dizem-que-nao-pretendem-iniciar-guerra-contra-a-coreia-do-norte-279200.php