#InfoAtualidades Homens-bomba: O que são e como surgiram?

Por Thaís Ferraz
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Nesta semana, a cidade de Manchester, na Inglaterra, foi alvo de um terrível ataque terrorista protagonizado por um homem-bomba. Na segunda-feira (22), Salman Abedi se explodiu na Manchester Arena, onde a cantora estadunidense Ariana Grande fazia uma apresentação para seu público, majoritariamente composto por crianças e adolescentes. A explosão matou 22 pessoas e feriu mais 59, no que se tornou o ataque mais fatal contra a Inglaterra dos últimos dez anos.

O caso chama atenção novamente para a figura dos homens-bomba, frequentemente utilizados em ataques terroristas. Neste post, iremos explicar quem eles são e como surgiram. Confira:

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O que são os homens-bomba?

O Dicionário de Oxford, um dos mais respeitados do mundo, define “homem-bomba” (suicide bomber, em inglês) como “uma pessoa, especialmente um terrorista, que executa um ataque com bombas tendo intenção ou expectativa de matar outras pessoas e a si mesmo”. Os ataques perpetrados por homens-bomba são sempre suicidas.

Salman Abed, o homem-bomba de Manchester

O termo “ataque suicida” é utilizado para definir operações bélicas. Nestes processos, o indivíduo que ataca deseja morrer e considera sua morte crucial para o sucesso da missão. Mas atenção: ataques suicidas são diferentes de missões suicidas — no segundo caso, o participante da missão não deseja morrer; apenas sabe que irá perder a vida pela impossibilidade de escapar após cumprir seu objetivo, mas, como julga que não há outra forma de fazê-lo, age mesmo assim.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o uso de homens-bomba por organizações terroristas não é uma invenção recente e nem está restrito ao contexto político do Oriente Médio.

Motivações

Homens-bomba não perpetram ataques por motivações individuais e/ou pessoais. Eles também não são mártires: ambos os termos carregam a ideia de auto-sacrifício por uma causa, mas mártires não têm a intenção principal de causar danos a outras pessoas. No entanto, a ideia de martírio é bastante utilizada pelas comunidades e organizações às quais os homens-bomba pertencem como uma forma de incentivar e justificar moralmente suas ações.

Este processo, no entanto, não é exatamente uma “lavagem cerebral”, mas uma troca recíproca: os homens-bomba recebem glórias em troca do sacrifício de suas vidas pelo “bem maior” de suas comunidades. Nas palavras de Jeffrey William Lewis, professor na Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, “nem exatamente martírio nem exatamente suicídio, o ataque suicida com uso de bombas é algo diferente — uma manipulação humana do auto-sacrifício humano”.

Para as organizações terroristas, o uso de homens-bomba é extremamente efetivo, já que elas transformam humanos em armas que são ao mesmo tempo “baratas” e extremamente inteligentes.

Homens-bomba: origens e história

Os primeiros registros de terroristas que explodiam os próprios corpos datam do final da Idade Média e do início da Idade Moderna, época em que o Império Turco-Otomano empregava o uso de bashi-bazouks (soldados suicidas) em seus exércitos. A origem dos homens-bomba contemporâneos, no entanto, remete à Rússia do século XIX.

A organização russa Narodnaya Volya (“Vontade do Povo”, em português) tinha como um dos seus objetivos o assassinato do Imperador Alexandre II. O grupo fez uma série de tentativas de ataque entre os anos de 1879 e 1881, todas sem sucesso. Em um destes ataques, realizado em 1881, um dos membros da Narodnaya Volya, Ignaty Grinevitsky Alexander, conseguiu enfim matar o imperador: ele se aproximou de Alexandre II e atirou uma pequena bomba no chão, fazendo com que o explosivo detonasse. A ação custou a vida de Grinevitsky, que tornou-se o primeiro homem-bomba oficial da História.

Representação do assassinato de Alexander II em 13 de março de 1881

Armas militares

A utilização de homens-bomba, no entanto, não está restrita a organizações terroristas. No século XX, o exército japonês também empregou este tipo de arma de guerra, treinando “kamikazes”: pilotos que dirigiam aviões carregados de explosivos com a missão de realizar ataques suicidas contra os navios dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Estes homens eram voluntários, que, estimulados pela cultura militar que rondava o Japão na época, acreditavam em um ideal de morte honrada.

Entre o fim da segunda guerra mundial e a década de 80, nenhum incidente com homens-bomba foi registrado. 

Kamikazes japoneses na Segunda Guerra Mundial

Em 1983, durante a ocupação israelita do Líbano, um caminhão carregado de bombas foi atirado contra uma base da marinha americana, matando 241 militares. Segundos depois, um segundo caminhão atacou um centro de operações de pára-quedistas franceses e matou 58 pessoas. Estes ataques foram perpetrados por militantes xiitas apoiados pelo Irã, que mais tarde se tornaram o grupo Hezbollah. Só na década de 80, este grupo causou 20 ataques suicidas contra os exércitos do Líbano e de Israel.

Até este ponto da história, no entanto, os ataques suicidas eram direcionados apenas a alvos militares e não tinham a intenção de atingir civis.

Década de 90: o alvo muda

Em 1994, grupos palestinos como o Hamas começaram a utilizar homens-bomba contra Israel. Estes ataques eram deliberadamente planejados para atingir civis. A Universidade de Chicago estima que pelo menos 742 civis foram mortos e 4.899 ficaram feridos nos territórios de Israel e da Palestina neste período. Durante a Segunda Intifada, a Palestina viveu um surto de atentados suicidas com utilização de bombas - foram 103 ataques.

Os civis se tornaram definitivamente alvos dos ataques suicidas, que começaram a ser utilizados como ferramentas para transmitir medo para toda a população.

Nos últimos anos, o “jihad global” transformou os atentados suicidas em sua melhor arma. Grandes organizações terroristas com a Al-Qaeda e o Estado Islâmico ficaram conhecidas por utilizar homens-bomba em suas missões.

O país mais atingido por estes ataques é o Iraque. Um estudo promovido pelo Lancet levantou que, entre 2004 e 2010, ao menos 1.003 ataques suicidas causaram a morte de 12 mil civis no país. Entre os anos de 2011 e 2015, a AOAV registrou 350 ataques suicidas no Iraque. Só em 2016, 3 mil pessoas foram feridas ou mortas por homens-bomba no país.

Um paradoxo fica claro: embora a maioria dos ataques terroristas seja feita em nome do Islã, a maioria das pessoas feridas e mortas por estes ataques é muçulmana.

Fontes

http://origins.osu.edu/article/human-use-human-beings-brief-history-suicide-bombing

https://www.theguardian.com/uk-news/2017/may/22/manchester-arena-police-explosion-ariana-grande-concert-england

"A short history of Suicide Bombing", disponível em: https://aoav.org.uk/

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