Além da Finlândia que pretende abolir as matérias escolares, instituições de ensino em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro estão buscando métodos de ensino inovadores, como o UniBH e o colégio Sagrado Coração de Jesus
Belo Horizonte, abril de 2016. As instituições educacionais do mundo inteiro estão buscando novas formas de ensino para atender às demandas do mundo contemporâneo. A Finlândia, por exemplo, país onde a educação é considerada uma das melhores do mundo, vai abolir as matérias escolares, porque considera que as necessidades não são mais as mesmas dos anos 90 e precisa de uma educação adequada ao Século XXI. As matérias serão substituídas pelo estudo de fenômenos, método que já é adotado por cerca de 70% dos professores das escolas de ensino médio da capital do país. A ideia é que cada fenômeno possa ser estudado com diferentes abordagens: a “Segunda Guerra”, por exemplo, poderia reunir professores de História, Geografia e Matemática.
Em Minas Gerais, o Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) pretende inovar e agregar ao projeto interdisciplinar uma formação mais ampla e mais pessoal, na qual projetos de vida serão materializados. Esse novo método de ensino chamado “Projeto de Vida” se define como a face prática e operacional das experiências de aprendizagem suportadas pelo apoio das novas tecnologias. “O objetivo é propiciar, uma formação mais humana, mais personalizada e mais contemporânea, que combina conteúdos com o desenvolvimento de habilidades sócio-emocionais, fundamentais para o indivíduo do século XXI. O projeto também vem com uma redefinição do papel do professor, que se torna mentor e contribui diretamente na formação integral do estudante”, define o professor do UniBH, Rafael Ávila.
O objetivo da instituição é formar um sujeito autoproposto, que segundo o professor Antônio Carlos Gomes “Quanto mais a pessoa for capaz de conhecer a si mesma e a sua circunstância, (...) mais será capaz de visualizar onde pretende ir e de traçar um caminho para chegar lá. (...) Um ser humano torna-se autoproposto, quando adquire um projeto de vida, quando traça um caminho claro entre seu ser e o seu querer-ser”. É formar um sujeito que trace um caminho autônomo de sua própria formação.
A ideia do projeto surgiu após os professores do UniBH perceberem que para formar profissionais competentes e cidadãos conscientes é necessário não deixar os sonhos dos jovens se perderem quando ingressam no ensino superior. Essa percepção foi baseada num estudo do grupo Tamboro Educacional que desenvolveu um projeto para uma escola da Rocinha, no Rio de Janeiro, visando estimular os sonhos de formação dos alunos com o objetivo de não abandonem a escola. Com isso, a taxa de evasão foi muito menor.
Durante o projeto, acontecem também jogos (games) de tomada de decisão, por meio de uma plataforma digital, no qual o aluno é apresentado a uma situação real de algo que está acontecendo e ele tem que decidir entre A ou B. Quando ele toma a decisão, tanto a certa quanto a errada, o jogo explica o porquê isso aconteceu. Pode ser jogado pelo celular, pelo tablete ou pelo computador. O objetivo é aprimorar o pensamento crítico, a colaboração, a comunicação, a criatividade e inovação, o planejamento e gestão, para contribuir na resolução de problemas. Essa atividade tem início em março deste ano, mas alguns alunos já participaram desses jogos em sala de aula no ano passado.
Ensino Médio também busca inovação
A orientação vocacional é uma prática comum nas escolas, há algum tempo. Por meio de testes, um profissional diz que suas características são mais próximas para a profissão X ou Y. Muitas vezes, o adolescente escolhe a profissão e, no meio do curso, desiste, porque “não era bem assim”. Diante desse cenário, especialistas em educação defendem que o trabalho vocacional com os adolescentes precisa ser duradouro e não pode se restringir apenas a uma bateria de testes.
A equipe pedagógica do colégio Sagrado Coração de Jesus, localizado em Belo Horizonte, tem utilizado as técnicas de coaching para acompanhar seus alunos durante os três anos do Ensino Médio. Em vez de um professor tradicional, eles buscaram um coach profissional, com 13 anos de experiência.
Logo na primeira aula, no 1o ano do Ensino Médio, os alunos são provocados sobre seus sonhos. O que eles querem fazer, onde querem estar em 10, 20, 30 anos. A partir daí, eles são estimulados a planejar a construção desse caminho, alinhando expectativas e possibilidades. É um trabalho que foca no empoderamento do jovem, estimulando o autoconhecimento.
A Stanford University School Of Education, dos Estados Unidos, divulgou um estudo do professor Eric Bettinger e da doutora Rachel Baker, que aponta que estudantes que passaram pelo processo de coaching, durante sua graduação superior, são mais propensos a permanecer até a conclusão de seus cursos e a fazer pós-graduação. O estudo aponta ainda que falta a esses estudantes mais informações sobre como ser bem-sucedido na profissão escolhida, e sobre como utilizar o que aprenderam, na prática. É ai que entra o Coaching.
Tão importante quanto qual profissão seguir é o reforço dos talentos dos jovens, cujos sinais começam a aparecer ainda na infância. Cabe à escola fomentar o diálogo e apontar caminhos.
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