Um dos maiores desafios enfrentados pelos profissionais da educação é evitar que os alunos desistam do aprendizado. Frequentemente, estudantes abandonam cursos e disciplinas que consideram difíceis e/ou desnecessárias, na maioria das vezes desestimulados pela dificuldade em entender o que está sendo ensinado. Em áreas consideradas “mais difíceis”, como a programação, este problema é ainda mais recorrente.
Foi para combater este fenômeno que o catarinense Antonio Carlos Nicolodi desenvolveu um método de ensino e um aplicativo que facilitam o aprendizado da programação. Profissional da área de informática desde 1980 e professor, ele percebeu em sala de aula que havia um problema. “Ao longo do tempo, eu notei que todos os alunos, mesmo os mais interessados, tinham os mesmos problemas de entender os conceitos básicos, e apesar de eu explicar várias vezes o mesmo assunto, eles não entendiam”, conta. Os estudantes tinham duas principais dificuldades: entender as linguagens de programação, que até então eram baseadas no inglês, e aprender a partir do método de ensino utilizado pela maioria dos professores, que era ultrapassado.
Parceria
A história do aplicativo desenvolvido por Nicolodi começa em 1996, quando o professor Claudio Morgado de Souza criou o Visualg (Visual Algoritmo) para um curso de graduação. O Visualg podia ser utilizado para interpretar os algoritmos mostrando também as variáveis e utilizava o método Portugol (um pseudocódigo escrito em português), desenvolvido por Nicolodi. Ambos os professores eram programadores da mesma linguagem e se conheceram, o que acabou resultando em uma parceria.
Morgado convidou Nicolodi para participar do seu projeto e lhe passou os códigos fonte da versão 2.0 do programa, para que fossem aprimorados. Algum tempo depois, Morgado precisou abandonar o projeto por motivos pessoais e pediu para que Nicolodi o substituísse no desenvolvimento e aperfeiçoamento do aplicativo. Nicolodi lançou a versão 2.6 do Visualg, afastou-se um pouco do projeto por alguns anos e, em 2014, quando voltou a lecionar a disciplina de Lógica em algumas instituições, decidiu lançar a versão 3.0 do programa. O sucesso foi estrondoso: o aplicativo Visualg 3.0 já tem mais de 30 milhões de cópias em mais de 95 países e é utilizado por mais de 50 mil escolas como ferramenta de ensino/aprendizagem.
Mas qual é o diferencial que justifica tantos downloads? “O fato de ser em português é o principal, mas existem vários outros recursos adotados, como a exibição do conteúdo das variáveis de memória durante a sua execução, ou o fato de ser um programa fácil e simples de se usar, que não precisa ser instalado, conta com ajuda online em português, e está sempre sendo atualizado”, explica o professor.
Portugol
“A disciplina conhecida como Lógica era e ainda é a vilã dos cursos de programação de computadores”, conta Nicolodi. “Esta disciplina gera uma grande evasão de alunos, que trocam de curso ou apenas desistem”.
De acordo com o professor, um problema recorrente na disciplina de Lógica de Programação é que a maioria dos professores ensinam a disciplina para os seus alunos iniciantes usando fluxogramas (diagramas gráficos) e logo em seguida introduzem uma linguagem de programação, como Pascal, C ou Java. Eles reproduzem métodos de ensino antigos, "pois aprenderam dessa forma na sua época", explica. "O problema é que antigamente a lógica era fundamentada em cima da estrutura de máquinas de grande porte e em cima de conceitos puramente matemáticos. Muitos alunos iniciantes ainda aprendem nesse método antigo, diretamente na própria linguagem de programação, mas poucos absorvem, e quando esbarram em um problema de lógica, se apavoram e desistem de programar ou perdem muito tempo em cima de um só problema", conta o professor.
A outra barreira no ensino de Lógica de Programação é o idioma. A maioria das linguagens de programação são desenvolvidas a partir do inglês, e, segundo o professor, muitos estudantes brasileiros encontram dificuldade com o idioma. "Os estudantes se assustam quando precisam montar o próprio algoritmo ou um programa de computador todo em inglês, e além disso a maioria das documentações, exemplos e exercícios que acompanham essas linguagens também estão registrados em inglês ou mal traduzidos", explica.
É daí que surge o Portugol, criado pelo professor entre 1980 e 1983. "Meu objetivo era ajudar os meus alunos de cursinhos de informática que encaravam esse dilema de não entender inglês e que também não conheciam muito matemática, eletrônica e física", conta.
O Portugol, ou português estruturado, é um pseudocódigo escrito em português. Como o nome indica (port, de português, + algol, nome de linguagem de programação), ele é um algoritmo escrito em português, mas interpretado em um computador. Com o tempo, o Portugol se tornou uma ferramenta popular para o ensino de lógica de programação, e hoje é bastante utilizado em diversas escolas e apostilas.
Visualg
O Visualg é um programa que permite criar, editar, interpretar e que também executa os algoritmos em português estruturado como se fosse um programa normal de computador. O software é utilizado em escolas e universidades no Brasil e no Exterior. Apesar de ter sido criado para ajudar os alunos iniciantes em programação, ele também pode ser utilizado por professores e auto-didatas. O programa está atualmente na versão 3.0 e pode ser baixado neste link.