Cestoda

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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Na classificação taxonômica dos seres vivos existe uma classe chamada Cestoda que engloba vermes de habito parasitário do filo Platelminto. A maior parte dos organismos agrupados por esta classe possuem o corpo achatado e longo, similar a uma fita, composto por centenas de subunidades (proglotes) que tem função reprodutora. Através da partição desses segmentos corporais contendo ovos, esses vermes conseguem ser librados no ambiente para infectar outros hospedeiros.

Os cestoda também possuem em comum seu modo de vida parasitário. Os seus ciclos de vida são similares, podendo variar em complexidade, mas de modo geral eles utilizam um ou mais hospedeiros intermediários (animais vertebrados ou invertebrados) para o desenvolvimento de suas larvas até que passem a habitar o sistema digestório de seu hospedeiro definitivo (algum animal vertebrado terrestre ou aquático), onde maturam para a fase adulta e começam a se reproduzir. Dependendo da espécie de cestoda, os hospedeiros podem ser específicos, ou seja, cada parasita infecta apenas uma espécie, ou genéricos. Nós últimos levantamentos taxonômicos da literatura científica, já se sabe que existem ao menos 6.000 espécies de vermes parasitas da classe Cestoda.

Quanto a anatomia geral dos cestoda, podemos descreve-los como animais sem trato digestório (boca, anus ausentes), dotados de um tegumento que reveste todo o corpo e atua na absorção de nutrientes e na proteção do corpo do verme. Os adultos majoritariamente possuem alguma forma de órgão de fixação (chamado escólex) que pode ser dotado de ventosas, ganchos, probóscides ou uma combinação destes elementos. Seus sistemas excretores são bem simplificados, com trocas gasosas ocorrendo na superfície do tegumento e células protonefrídiais drenando seus corpos. Além disso, apresentam um gânglio cerebral na região do escólex e dois nervos transversais percorrendo toda a extensão do corpo, ou estróbilo. Isto lhes permite apresentar tato percepção e quimiorrecepção por todo o tegumento.

Sua reprodução ocorre através do crescimento mitótico dos segmentos corporais, sempre na direção do escólex (proglotes jovens) para o fim do estróbilo (proglotes maduras). Cada segmento possui independentemente um sistema reprodutor completo, sendo todos os membros da classe Cestoda hermafroditas (dotados de órgãos masculinos e femininos). Isso permite que ocorra duas formas de reprodução, a autofertilização ou a fertilização cruzada, facilitando a fecundação dos ovos e aumentando sua capacidade de infectar mais hospedeiros.

Devido aos seus corpos sem estruturas rígidas, o registro fóssil desta classe é extremamente escasso. Ainda assim, é possível reconhecer a presença de ovos de cestodas em coprólitos (fósseis de fezes) de outros animais, datando sua presença no planeta desde o período Permiano. Quanto às suas relações filogenéticas, a classe Cestoda forma um clado juntamente com outra classe de vermes parasíticos, os Trematoda. Juntas, elas formam um grupo monofilético, ou seja, que possui um ancestral em comum.

As espécies de Cestoda que utilizam seres humanos como hospedeiros são amplamente estudadas pois causam problemas de saúde pública. Podemos citar a Taenia saginata, Taenia solium, Diphyllobothrium latum e Hymenolepis nana. As tênias causam a teníase, uma infecção intestinal que na maior parte das vezes é assintomática, e são contraídas através da ingestão da carne bovina (T. saginata) ou suína (T. solium) malcozida. A T. solium pode causar também a cisticercose, um quadro potencialmente perigoso uma vez que larvas podem se instalar no sistema nervoso. H. nana, conhecida popularmente como tênia anã, infecta normalmente crianças e é contraída do ambiente (sem hospedeiros intermediários) ou das excretas de roedores. D. latum é um verme parasitário de peixes e pode infectar humanos através do consumo de carne crua ou malcozida de salmão e outras espécies de peixe. Em humanos, ela causa a difilobotríase, uma infecção intestinal similar a teníase. Todas essas verminoses podem ser tratadas com remédios específicos que matam os vermes adultos, como o praziquantel. Investimentos em saneamento básico, educação sanitária e hábitos alimentares que evitem o consumo de carnes cruas são as melhores medidas de prevenção das infecções de Cestodas em humanos.

Referências:

Littlewood, D., Waeschenbach, A. and Nikolov, P., 2008. In search of mitochondrial markers for resolving the phylogeny of cyclophyllidean tapeworms (Platyhelminthes, Cestoda)—a test study with Davaineidae. Acta Parasitologica53(2), pp.133-144.

Olson, P.D., Littlewood, D.T.J., Bray, R.A. and Mariaux, J., 2001. Interrelationships and evolution of the tapeworms (Platyhelminthes: Cestoda). Molecular Phylogenetics and Evolution19(3), pp.443-467.

Santos, F.L.N. and De Faro, L.B., 2005. The first confirmed case of Diphyllobothrium latum in Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz100(6), pp.585-586.

Arquivado em: Platelmintos
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