Fasciola hepatica

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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A Fasciola hepatica é um verme platelminto da classe Trematoda que infesta especificamente o fígado de diversos mamíferos, como ovelhas e também seres humanos. Sua transmissão geralmente ocorre através do consumo de verduras e legumes contaminados com o parasita, causando a infecção hepática conhecida como fasciolíase (ou fasciolose).

De tamanho reduzido, chegando a 30 mm, a F. hepatica possui formado de folha, com a parte anterior arredondada e a posterior pontiaguda. São dotados de ventosa oral e ventral, uma faringe musculosa, um esôfago e um grande ceco intestinal com ramificações. Como o ânus está ausente, a excreta de resíduos é feita através de ejeção oral. Adicionalmente, eles possuem pequenos tubos com protonefrídeos conectados a um canal excretor, que carreia resíduos até o poro excretor. A função central dessas estruturas é osmoregular o volume corporal do verme. Seu tegumento externo também pode atuar na absorção de nutrientes, mas ele tem uma importante função protetora, evitando que enzimas digestivas do hospedeiro lhe causem danos. Os vermes adultos não apresentam sistema respiratório, realizando respiração celular anaeróbia através de processos de fermentação (sobrevivendo sem necessidade de oxigênio) utilizando como base energética o glicogênio extraído do hospedeiro. Contudo, suas formas de vida livre são capazes de respirar de modo aeróbico.

Fasciola hepatica. Foto: CDC

Com relação ao sistema nervoso, a F. hepatica possui um par de gânglios localizados ao lado do esôfago, ligados através de um anel nervoso. Nervos originados neste anel percorrem toda a extensão do corpo do verme, com destaque para um par de maior calibre, conhecidos como nervos laterais. Cada indivíduo adulto apresenta órgãos sexuais masculinos e femininos (hermafroditas). Todos estes aparelhos reprodutores se conectam há uma mesma câmara corporal, o átrio genital. Este átrio possui uma abertura para o meio externo, denominada poro genital. O esperma é produzido em dois sistemas testiculares tubulares na porção posterior do corpo. Ele é transportado para a vesícula seminal e depois para o duto ejaculatório, que o libera no átrio genital. Ovários tubulares, útero e duto vitelino são todos conectados, também se abrindo no átrio genital. Deste modo, os adultos são capazes de reprodução assexuada e sexuada. As formas larvais da Fasciola hepatica se reproduzem majoritariamente assexuadamente.

O ciclo de vida deste parasita se inicia com os ovos presente nas fezes de animais ou pessoas infectadas. Quando atingem o ambiente aquático, os ovos terminam seu desenvolvimento embrionário, liberando miracídeos livre nadantes. Esta forma larval possui o corpo ciliado e realiza respiração aeróbica para produzir a grande quantidade de energia gasta no deslocamento para encontrar seu hospedeiro intermediário, que são caramujos de diversos gêneros, como Radix, Lymnaea e Galba. No tecido do molusco, o miracídio passa por diversos estágios de modificação morfológica, tornando-se um esporócito, depois uma rédia até se tornar uma cercaria. Nesta forma, a larva cercaria está pronta para sair do caramujo e nadar pelo ambiente com eficiência graças a sua longa cauda. As cercarias se associam a vegetação aquática ou de borda e encistam, entrando no estágio de metacercária. Se a água contaminada for utilizada para irrigar hortas e jardins, as metacercárias se formam nas folhas de verduras e legumes. Deste modo, elas são ingeridas por animais (ovelhas, gado) e pelo ser humano, seus hospedeiros definitivos. Quando as metacercarias atingem o duodeno, elas rompem os cistos e maturam na forma adulta, migrando para os dutos biliares hepáticos, seu local de vida. Lá, elas começam a reproduzir e liberar ovos (cerca de 25.000 por dia) que serão levados ao ambiente pela excreção do hospedeiro.

Este verme parasítico pode ser encontrado em todo o mundo, tendo maior prevalência em países como Turquia, Egito, Bolívia e Peru. O diagnóstico da fasciolíase é feito com a identificação de ovos nas fezes. Esta infecção causa anemia e sintomas leves em humanos, mas pode ser fatal em ovelhas e gado. Sua prevenção envolve o controle do local de pastagem dos animais, medidas de higienização de alimentos, uso de água tratada na irrigação de plantações e controle da população de caramujos. Seu tratamento é feito com o uso de medicamentos específicos com função vermífuga.

Referências:

Caldas, I.R., Campi-Azevedo, A.C., Oliveira, L.F.A., Silveira, A.M.S., Oliveira, R.C. and Gazzinelli, G., 2008. Human schistosomiasis mansoni: immune responses during acute and chronic phases of the infection. Acta tropica108(2-3), pp.109-117.

Souza, C.P.D., Magalhães, K.G., Passos, L.K.J., Santos, G.C.P.D., Ribeiro, F. and Katz, N., 2002. Aspects of the maintenance of the life cycle of Fasciola hepatica in Lymnaea columella in Minas Gerais, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz97(3), pp.407-410.

Thorsell, W. and Björkman, N., 1965. Morphological and biochemical studies on absorption and secretion in the alimentary tract of Fasciola hepatica L. The Journal of Parasitology, pp.217-223.

Arquivado em: Platelmintos
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