Segundo a taxonomia clássica, podemos encontrar no reino Animalia, filo Platyhelminthes, a classe Trematoda que reúne dois grupos de vermes achatados parasitários. Estes organismos são parasitas internos de moluscos e também animais vertebrados. Seus ciclos de vida são complexos, envolvendo tipos diferentes de reprodução em cada hospedeiro. Comumente, nos moluscos (hospedeiros intermediários) os trematoda realizam reprodução assexuada. Já nos hospedeiros vertebrados ocorre a reprodução sexuada.
Filogeneticamente a classe Trematoda é evolutivamente próxima a outra classe de vermes parasitários, os Cestoda. Contudo, a classe Trematoda é mais diversa, agrupando mais de 20.000 espécies de vermes divididos nas subclasses Aspidogastrea e Digenea. A primeira é um grupo pequeno de cerca de 100 espécies que define parasitas obrigatórios de moluscos que também podem infectar peixes e tartarugas. Já a subclasse Digenea é muito grande e diversa, contendo a maioria das espécies de Trematoda. As espécies desta subclasse parasita moluscos e vertebrados e raramente são encontradas em peixes.
Anatomicamente, os Trematódeos (ou tremátodes) são muito mais diversos que outros vermes platelmintos, como os Cestoda. Sua variedade morfológica dificultou sua organização taxonômica no início dos estudos de sistemática da fauna no século 19. De modo geral, os Trematoda apresentam um corpo ovalado ou alongado sempre achatado, variando entre organismos muito pequenos (com tamanho corporal de milímetros) até algumas espécies maiores, medindo alguns centímetros. Uma característica definidora da classe, encontrada em todas as espécies, é a presença de duas ventosas, uma ventral e outra próxima a extremidade oral. A boca fica na porção terminal do corpo, possuindo agrupamentos musculares que formam uma faringe. Esta liga o meio externo a um ou dois cecos, que são estruturas terminais que ocupam quase toda a extensão corporal. Devido à ausência de anus, as excretas são expelidas pela boca. Seu tegumento é essencial para trocas gasosas e protonefrídeos formam um sistema excretor simples responsável pela osmoregulação do organismo. Seu sistema nervoso se resume a um par de gânglios na região próxima a boca e alguns nervos que percorrem o corpo. Quanto a reprodução, os Trematoda são hermafroditas, possuindo ambos aparelhos reprodutores masculino e feminino. Ainda assim, em seus ciclos de vida eles realizam reprodução sexuada e assexuada.
Em seus hospedeiros invertebrados, quase sempre os moluscos, os vermes Trematoda realizam reprodução assexual (com algumas exceções) e ao atingir seus hospedeiros definitivos eles se utilizam de reprodução sexuada para produzir seus ovos. Quando estes são expelidos para o meio externo através das fezes do hospedeiro, liberam larvas livre-nadantes que irão infectar moluscos, como os caracóis em muitos casos. A transmissão pode ocorrer de modo ativo ou passivo, com a diferença das adaptações da morfologia da larva (se ela é ou não capaz de perfurar e penetrar o corpo do hospedeiro intermediário). Nos moluscos, os Trematoda formam esporocistos que se alimentam por difusão em algumas espécies ou por uma faringe desenvolvida em outras. Depois de seu desenvolvimento e reprodução assexuada poli embrionária (na qual um organismo fertilizado gera diversos indivíduos), o esporocisto forma cercarias que são adaptadas para dispersão no ambiente até encontrarem seus hospedeiros secundários. Neles, elas se diferenciam em metacercarias, que são cistos dormentes de vida longa. A forma adulta do verme, que se reproduz sexuadamente, só é encontrada no hospedeiro definitivo.
Devido ao seu ciclo de vida, os Trematoda conseguem infectar humanos, causando doenças de gravidade variável. Sua ocorrência está sempre associada a condições sanitárias ruins, com saneamento básico precário ou técnicas agrícolas indevidas como o uso indiscriminado de dejetos como adubo vegetal. Algumas doenças causadas por vermes desta classe são a esquistossomose (parasita Schistossoma mansoni) e a fasciolíase hepática (parasita Fasciola hepatica) que ainda tem ocorrência significativa na África, sudeste da Ásia, Oriente Médio e América Latina.
Referências:
Jones, A., Bray, R.A. and Gibson, D.I. eds., 2005. Keys to the Trematoda (Vol. 2, p. 733). Wallingford, UK: CABI.
Olson, P.D., Cribb, T.H., Tkach, V.V., Bray, R.A. and Littlewood, D.T.J., 2003. Phylogeny and classification of the Digenea (Platyhelminthes: Trematoda). International journal for parasitology, 33(7), pp.733-755.