A alegoria é uma figura de linguagem de uso retórico que expande o significado do termo, transmitindo um ou mais sentidos além do literal. Uma alegoria não precisa necessariamente ser expressa no texto escrito, estando presente em outras formas de manifestação artística, como a pintura, o desenho, a escultura, etc.
Embora funcione de modo semelhante a outras figuras retóricas, a alegoria é bem mais abrangente, envolvendo a metáfora, a sátira, o símbolo, a fábula, o apólogo, a prosopopeia, o oximoro e a ironia.
Entre os gêneros textuais, a fábula é um nos quais a aplicação da alegoria torna-se mais patente, uma vez que acompanhada de uma moral que explicita claramente a relação entre os sentido literal (função denotativa) e figurado (função conotativa).
Entre os pesquisadores, João Adolfo Hansen publicou a obra Alegoria: construção e interpretação da metáfora, na qual distingue a alegoria greco-romana, essencialmente linguística, da alegoria cristã, na qual eventos, personagens, fatos históricos e iconografia também são interpretados alegoricamente.
Já o canadense Northrop Frye designa a categoria de “alegoria ingênua”. Segundo ele, os personagens desse tipo de alegoria não são inteiramente tridimensionais, uma vez que, para cada atributo de suas personalidades individuais, personificam alguma qualidade moral ou outra abstração genérica. Em primeiro lugar vem a alegoria, de modo que as características individuais se transformam em meros detalhes.
No século XIX, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, em suas considerações sobre Estética presentes em sua obra máxima O Mundo como Vontade e Representação, classifica a alegoria como uma forma “menor” de expressão artística, visto que coloca a ideia abstrata acima da própria expressão artística, que serviria tão somente como veículo para o símbolo alegórico.
Em que pesem as críticas, a alegoria tem sido uma usada na literatura de praticamente todas as nações. O Antigo Testamento hebreu, por exemplo, apresenta belos exemplares alegóricos, como no Salmo 80, que compara a evolução da história de Israel ao crescimento de uma vinha. Na tradição rabínica (Talmud, Zohar, Cabala), é bem comum uma interpretação alegórica dos textos. Os cristãos operam da mesma forma na interpretação dos Evangelhos e demais livros sagrados, fundamentando sua exegese na leitura alegórica.
Na filosofia clássica, observa-se o uso da alegoria nos textos platônicos, principalmente o Mito da Caverna, narrado no Livro VII da República (Livro VII). Tal como na filosofia, os símbolos alegóricos também estão presentes na poesia, cujo maior exemplar são as Metamorfoses de Ovídio, e nas fábulas de Esopo.
Entre os tipos mais recorrentes de alegoria, pode-se destacar, por exemplo, a que compara a vida a um tabuleiro de xadrez, bastante utilizada na poesia e na retórica. Na esfera iconográfica, observa-se, entre outras, a imagem de uma caveira em cima de dois ossos cruzados, que representa o símbolo da pirataria.
Referências bibliográficas:
HANSEN, J.A. Alegoria: construção e interpretação da metáfora. São Paulo: Hedra, 2006.
SCHOPENHAUER, A. O Mundo como Vontade e Representação. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/portugues/alegoria/