Assim como temos na língua portuguesa o fenômeno do dígrafo, onde duas letras representam um som, é natural que haja também sua contraparte, o dífono (combinação de di = dois e fono = som), onde um grafema expressa dois fonemas. São as duas dimensões da linguagem em evidência, a escrita, e no caso do dífono, a oral.
Assim, temos este fenômeno nos casos onde a boca pronuncia dois sons, mas no momento destes dois sons serem registrados no papel, eles são representados por um só letra.
Aparentemente, o fenômeno dífono não atrai muito interesse dos estudiosos da língua. Na verdade, o português está repleto de exemplos do caso diametralmente oposto, o dígrafo, o que, sob um certo aspecto demonstra a “burocracia ortográfica” que reina dentro da língua, que sempre manifestou a tendência de acumular letras em cima de simples fonemas. No que pese a forma como a língua surgiu, é notável a acumulação de letras para se representar sons simples do idioma. Exemplo típico pode ser encontrado, por exemplo em termos como “farmácia”, cuja grafia anterior era “pharmácia”. Ainda pior é o exemplo do substantivo “Niterói”, que, no início do século XX era grafado “Nichtheroy”.
Para se ter uma compreensão verdadeira do fenômeno do dífono, é sempre importante que a pessoa tenha ao menos um conhecimento relativo do funcionamento da fonética, o ramo da linguística que estuda a natureza física da produção e da percepção dos sons da fala humana, concentrando-se na parte significante do signo linguístico, sem levar em conta o seu conteúdo. Se assim não fosse, o leitor poderia imaginar que algumas dessas palavras estudadas mais adiante possam ser trífonos ou outra coisa qualquer.
No português atual, os casos de dífonos se resumem praticamente aos relacionados com a letra x, quando esta corresponde a fonema “ks”
Exemplos:
Foneticamente, teremos
- Sekso – e não sequisso ou sequiço
- Taksi – e não taquissi ou taquici
- Tóksico – e não tóchico, tóquicico ou tóquissico
O mesmo ocorre com algumas palavras que possuem “x” no final:
- Látex – foneticamente, temos láteks – portanto, dífono
- Sílex – foneticamente, temos síleks – portanto, dífono
- Tórax– foneticamente, temos tóraks – portanto, dífono
Não deixa de ser importante chamar a atenção para possíveis confusões que possam surgir, em relação a outras palavras, que também usam o “x”. Exemplos como mexer ou enxugar não são dífonos, pois o seu “x” não é uma substituição do fonema “ch”. Aqui, o “x” está representando a si próprio foneticamente. Aliás, a combinação “ch” é uma forma desenvolvida particularmente dentro da língua portuguesa.
Bibliografia:
Dífono. Disponível em: < http://virtualescola.wordpress.com/2011/09/05/difono/ >.
Dífonos. Disponível em: < http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/difonos >.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/portugues/difonos/