A mediação entre o homem e a realidade objetiva ocorre pela linguagem. Diversos tipos de linguagem podem mediar essa relação, contudo é a linguagem verbal a mais potente no que se refere à interpretação e compreensão da realidade a nossa volta. É através da palavra que damos sentidos ao mundo, ao que vemos e presenciamos, bem como é com a palavra que construímos a realidade para fora do pensamento. De outra maneira, entre o homem e a realidade, entre o sujeito e o objeto há uma força que o impulsiona a perceber essa realidade de um determinado modo. E a raiz dessa força é a palavra. Conforme o livro “Palavra e discurso História e Literatura”, “o fato de podermos construir o novo é uma possibilidade que também nos é dada, sobretudo pela palavra” (BACCEGA, 2003, p. 28)
Há uma dinâmica em torno da palavra, desde a formulação de significados originais até novos sentidos atribuídos a mesma palavra, perpassando muitos caminhos da cultura com o uso da linguagem ao longo do tempo. Isso significa que a palavra é também um instrumento das sociedades em função da história, sendo o principal artifício usado para construir as narrativas humanas, e dessa maneira, manter tradições e elaborar símbolos culturais.
A palavra pode ter muitas aplicações em contextos diversos, por isso ela é múltipla em significados, sentidos e usos, possibilitando aos interlocutores o uso da mesma palavra para designar significados diferentes. Em todas as maneiras que a língua se manifesta, seja um diálogo, uma poesia, uma música, pode-se subverter as relações de sentido das palavras. Essa subversão da linguagem também é conhecida como figura retórica, ou figuras de palavras. As figuras de palavras são recursos da língua que permite mudar o sentido real de uma expressão, passando-a para um sentido figurado. São importantes ferramentas linguísticas na garantia da atenção do receptor durante a comunicação, seja ela escrita ou oral.
Nesse sentido, as figuras de palavras cumprem a função de redefinir um determinado campo de informação, criando efeitos novos e inesperados para o receptor. São expressões figurativas que conseguem quebrar a significação própria e esperada daquele campo de palavras.
As figuras de palavras são bastante usadas e entre as mais comuns estão: a metáfora e a metonímia. Segundo o linguista Roman Jakobson, a metáfora e a metonímia são espécie de matrizes presentes, ora com dominância de uma, ora com a da outra, na imensa maioria dos textos. Dentre as outras figuras conhece-se: antonomásia, também conhecida por perífrase, catacrese, comparação e sinestesia. Para alguns autores, essas figuras não são independentes, mas ligadas à metáfora, cada figura é um tipo de metáfora, diferenciando-se apenas por especificidades na aplicação da metáfora.
Vejamos alguns exemplos de figuras de palavras:
Comparação:
Ao comparar dois objetos por suas qualidades: Esta madeira é firme como uma rocha.
Ao comparar duas realidades: A terra queimava como fogo.
Antonomásia ou Perífrase:
Ao substituir um nome próprio por um nome comum:
O rei do futebol é um símbolo da nação brasileira. (Se refere ao Pelé)
Substituição de conteúdo pelo continente: Comeu uma panela de feijoada.
Substituição da obra pelo autor:
Adoro ler Rubem Alves.
Vamos assistir ao Walt Disney?
Bibliografia:
ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. – São Paulo: Parábola Editorial, 2009. (Estratégias de Ensino; 10)
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37. ed. rev., ampl. e atual. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. – 1. Ed., 4ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2016
CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 15. Ed., 4° reimpressão – São Paulo: Ática, 2002.
CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática – 1. ed. – São Paulo: Rideel, 2000.