Figuras de sintaxe ou de construção

Mestre em Linguística, Letras e Artes (UERJ, 2014)
Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (UFBA, 2007)

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A língua é compreendida como um sistema gramatical, organizado, pertencente a um grupo social. Agrega-se a este conceito, a concepção de que língua é a expressão da subjetividade de um povo, de um grupo étnico, constituindo-se como a forma de pensar e criar o mundo, bem como de agir sobre ele. Desta forma, a língua não é apenas um código ou um conjunto de signos abstratos. Em outras palavras, a linguagem opera como lugar de construção de identidades, de representações no mundo, e de negociações de sentidos, fazendo-se constante na interação social, colocando a língua em processos contínuos de mudanças e transformações e manifestando-a como um organismo vivo.

Há três grandes áreas de estudo no campo linguístico que organizam a língua: a semântica, a sintaxe, e a pragmática. A semântica estuda as relações dos signos com os objetos; a sintaxe estuda as relações dos signos entre si; e a pragmática estuda a relação dos signos com os intérpretes.

Nesse todo organizado, a sintaxe analise a função que cada palavra exerce dentro de uma unidade oracional, considerando as regras de formação e combinação entre os signos. Por exemplo, a oração articula-se em torno de uma ação, expressa pelo verbo, e os termos essenciais que são o sujeito e o predicado.

Os alunos organizaram uma bela homenagem para a professora.

  • Sujeito: os alunos
  • Verbo: organizaram
  • Predicado: organizaram uma bela homenagem para a professora.

Essa estrutura encontra-se organizada, de maneira que o sentido da oração é facilmente apreendido. Contudo, para efeitos estilísticos; quando se trata da produção escrita, ou para efeitos lingüísticos; quando se trata da interação social entre os falantes; a língua é usada sob as mais diversas formas, elevando a expressividade humana, o que torna possível a realização de efeitos de inversão, substituição, transposição, ou alteração de um termo por outro. Em algumas construções o sentido se torna menos claro pela organização gramatical dos termos, e mais apreensível pela expressividade constituída pelas novas relações estabelecidas entre os signos.

Assim, as figuras de construção, figuras sintáticas ou figuras de sintaxe são fenômenos da língua que conferem expressividade à construção do enunciado, podendo ser empregadas como recursos estilísticos da linguagem, que no âmbito gramatical modificam as estruturas frásicas tidas por modelares. Nesse sentido, tem-se um conjunto de figuras de sintaxe, são elas: elipse, zeugma, pleonasmo, hipérbato, anástrofe, prolepse, assíndeto, polissíndeto, anacoluto, silepse. Observe alguns exemplos:

1) Uma professora em um momento de emoção, ao expressar o seu sentimento, torna o pronome “eu”, enunciado no início da oração como um sujeito, em um elemento sem função:

- Eu sinto-me lisonjeada com a homenagem dos meus queridos alunos.

Tem-se a necessidade de exaltar o sujeito, eu, expresso sob a forma de um anacoluto nessa construção. Logo, o anacoluto é a figura de sintaxe que desorganiza os papéis dos signos e pode mudá-los no meio da oração. Nesse caso o pronome perdeu a função.

2) Toda realização começa assim: sonhar, e andar, e seguir, e lutar, e acordar, e construir e continuar lutando, e continuar seguindo, e caminhando, e quando se dá conta já se realizou o que parecia impossível.

No segundo exemplo tem-se um longo período com polissíndeto, que se caracteriza pela repetição das conjunções coordenativas. Nesse texto o discurso imprime no leitor uma sensação de cansaço após a repetição de ações para alcançar o sonho impossível. É uma luta, uma caminhada constante, enfatizada pela presença repetida da conjunção aditiva, que dá a ideia de somatório de atitudes.

Para compreender as figuras de sintaxe, é importante a noção de que a língua é uma fonte de significações e os falantes intercambiam sentidos através da interação e do uso corrente dela. Além disso, a escrita literária explora os recursos que a língua oferece com o objetivo de imprimir sentimentos e provocar sensações.

Bibliografia:

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BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37. ed. rev., ampl. e atual. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica. – 16. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática – 1. ed. – São Paulo: Rideel, 2000.

Koch, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. 5 ed. – São Paulo: Contexto, 2000 – Coleção: Repensando a Língua Portuguesa

MARTELOTTA, Mário Eduardo. (org.) – Manual de Linguística. – 1ª ed., 2ª reimpressão.- São Paulo: Contexto, 2009.

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