Morfologia

Por Leticia Gomes Montenegro

Mestre em Linguística, Letras e Artes (UERJ, 2014)
Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (UFBA, 2007)

Categorias: Linguística, Português
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A gramática descritiva é o estudo dos mecanismos referentes ao funcionamento de uma língua em um contexto, observando-se o tempo e a interação entre os falantes. Dessa maneira, a gramática analisa e descreve, de acordo com a definição de uso padrão e culto, as normas de funcionamento, a estrutura e a configuração formal que caracterizam uma língua.

Dentro deste estudo, a morfologia é considerada como a primeira articulação da gramática, na qual o vocábulo formal é o objeto de análise.

Com isso, a morfologia é a primeira articulação gramatical que estuda os segmentos fônicos associados a uma significação léxica (ou seja; a palavra) e suas formas. Assim, a morfologia sistematiza em classes as unidades mínimas dotadas de sentido de acordo com características e funções comuns entre elas.

As classes gramaticais descritas são:

O primeiro critério de classificação está relacionado as variações que a palavra pode apresentar. Logo, as classes estão separadas em palavras variáveis e invariáveis.

Palavras variáveis podem mudar de acordo com os seguintes critérios; gênero e número (algumas em grau); e são elas:

As palavras invariáveis não apresentam modificações de acordo com o gênero ou com o número, elas se mantêm sob o mesmo formato, independentes do contexto a que estão inseridas, ou às palavras as quais se ligam no arranjo textual. São elas:

Numerais: constituem uma classe de palavras com a peculiaridade de subclassificações variáveis e invariáveis.

Observe os exemplos:

A militante filósofa ficou muito indignada
Artigo feminino singular Substantivo sem marca de gênero singular Adjetivo feminino singular Verbo feminino singular Advérbio invariável Feminino singular

Todas as palavras nesta frase concordam em gênero e número, por isso foram registradas no feminino e no singular. Com exceção do advérbio, que por pertencer a uma classe invariável, não compromete o sentido ou a concordância dos vocábulos na frase.

Os verbos apresentam outras variações específicas: tempo, pessoa, modo e voz.

Os filósofos militantes caminhavam rapidamente com bandeiras partidárias.

De acordo com a análise realizada no exemplo anterior, tem-se uma estrutura concordando com o gênero masculino e o número no plural.

Palavras de classes invariáveis:

No exemplo anterior “militantes” é substantivo, enquanto neste exemplo “militantes” apresenta-se como adjetivo. A mesma inversão ocorre com a palavra filósofo.

No estudo da língua portuguesa, toda análise se refere às combinações de formas; assim, cada classe possui uma nomenclatura e é analisada de acordo com a função que exerce dentro de determinado contexto, na relação com as outras palavras. O que se trata de um outro plano gramatical; sintaxe.

Morfologia: aprofundando o conhecimento gramatical

De acordo com Joaquim Matoso Camara Júnior no livro “Estrutura da Língua Portuguesa” o segmento fônico se associa a uma significação gramatical situando-se na primeira articulação da língua (a morfológica), gerando o vocábulo formal. O que se denomina de vocábulo é a palavra ou ainda a unidade mórfica por si só. Ao estudar morfologia, analisa-se, então, os morfemas. Os morfemas constituem-se por serem unidades de som e conteúdos menores do que a palavra. São unidades significativas mínimas, porque possuem significado, mas nem sempre funcionam de forma independente, precisam estar conectadas a outras. Exemplo: o “s” que marca o plural é uma unidade com significado de número, mas não faz sentido livremente. O vocábulo carro/s/ pode gerar outros, como carroça, carruagem, carreta. Enquanto o morfema /s/ que marca o plural na palavra só funciona ligado a outros morfemas com sentido completo.

Assim, a gramática identifica dois tipos de morfemas:

Formas livres constituem uma sequência funcionando isoladamente.

Exemplo: As flores nasceram hoje pela manhã.

Formas presas funcionam ligadas a outras.

Exemplo: “pro” – do vocábulo “proscrever”

Desta maneira, o vocábulo formal caracteriza-se por:

OBSERVAÇÃO: Esses mesmos critérios aplicam-se às partículas proclíticas enclíticas, introduzindo um terceiro conceito na língua portuguesa; o de forma dependente.

O critério mórfico estabelece a separação dos vocábulos por espaços em branco, registrando na ortografia as formas independentes. As palavras constituem-se por unidades menores (morfemas), ao passo que a frase se compõe por palavras, e estas são graficamente separadas. Leia o período e observe esta descrição em funcionamento no texto:

A primeira vez que viajamos juntos meus pais ainda eram felizes. Todos muito esperançosos e cheios de planos de um retorno que prometia ser a reconstituição de fragmentos de vidas. A viagem era de carro, o percurso foi previamente mapeado. Compartilhávamos uma profunda sensação de felicidade. Era como uma segunda via de identidade, com direito a uma reparação histórica. Nossa família refazia-se no caminho por um emaranhado de contos. Agradava-me ouvir vovó. Suas memórias misturavam-se à memória coletiva de um povo. E nesse processo vovó já nem mais sabia separar a realidade dela da de seus antepassados.

(Leticia Gomes Montenegro; Ensaios de Contos I. Textos não publicados; 2018)

A análise morfológica identifica a classe de cada palavra e verifica suas combinações dentro do texto. Algumas classes podem ocupar o papel de outra em determinada construção frasal. Por exemplo, a classe dos nomes (os substantivos e os adjetivos) podem se intercambiar.

No termo destacado o substantivo “memória” é caracterizado pelo adjetivo “coletiva”.

Observe como o adjetivo torna-se substantivo neste exemplo: “A coletiva (substantivo) em torno dos familiares trazia-os as tristes memórias.

Bibliografia:

CAMARA JR, Joaquim Mattoso. Estrutura da Língua Portuguesa. – 8. ed., – Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1977

CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. – 1. Ed., 4ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2016

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

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