Toda compulsão oculta um impulso que não se pode controlar. Há vários tipos – compulsão alimentar, para roubar e até a sexual. A compulsão alimentar vem sendo pesquisada pelos médicos desde 1959. Ela é considerada uma perturbação psiquiátrica, ao lado da bulimia e da anorexia nervosa.
Este distúrbio pode revelar maior ou menor seriedade em suas expressões e pode ser um efeito colateral dos transtornos acima citados, ou também fazer parte do quadro da compulsão alimentar periódica – TCAP -, como oficialmente é conhecido este desequilíbrio na alimentação. Sua manifestação mais grave é expressa em inglês como ‘binge eating’, termo que não tem ainda uma tradução adequada para nossa língua.
Ela pode ser descrita como uma fase na qual o sujeito ingere uma quantia abundante de comida, em um mínimo espaço de tempo, sem conseguir controlar seus atos. Logo depois, ele passa por momentos de tristeza, arrependimento e condenação de si mesmo. Segundo dados de especialistas, algumas pessoas alcançam o patamar de dez mil calorias em um único ataque de ‘binge’.
O diagnóstico do ‘binge’ ou TCAP é baseado na presença de incidentes cada vez mais constantes de compulsão alimentar. Esta, para ser assim caracterizada, deve apresentar a deglutição de uma alta quantidade de alimentos em um dado lapso de tempo, o mais curto possível; e uma sensação de carência completa de controle sobre esta atitude, de não conseguir mesmo deter este processo.
A pessoa, durante esta crise, se alimenta mais rápido que em qualquer circunstância normal; come até causar incômodo ao seu organismo; devora uma alta cota de alimentos mesmo quando não está com fome; sente que não é normal seu comportamento, então se isola dos outros para comer; passa por momentos de auto-rejeição, culpa e até depressão, depois de se alimentar desta maneira. Quando a compulsão se transforma em ‘binge’, o paciente atravessa este período de perturbação pelo menos dois dias semanalmente, ao longo de seis meses.
A categoria de Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica foi criada em 1991. Nem toda compulsão alimentar se enquadra nesta forma mais séria. Uma pessoa pode, por algum tempo, se alimentar em excesso, por ansiedade, carência, como uma compensação em caso de dietas, sem apresentar as características acima descritas. Ao contrário dos pacientes que apresentam esse problema, ela não vai recorrer a purgantes, a um jejum extensivo, a exercícios físicos em demasia, ou a outros expedientes compensatórios. É preciso que ocorram principalmente a perda de controle – uma sensação de não poder escolher - e o sofrimento intenso depois da crise. Muitos indivíduos comem tanto, sem conseguir parar, que chegam a vomitar, porque o estômago não suporta tanto alimento.
Durante o tratamento, o paciente necessita realizar um intenso aprendizado, o de interagir normalmente com todos os tipos de alimentos. Uma boa terapia pode também ser necessária, porque muitas vezes o ‘binge’ está associado a alguns fatores psíquicos e orgânicos. Alguém, por exemplo, que está realizando uma dieta, pode ceder ao impulso de comer algo que para ela é, neste momento, um tabu. Somado a outras causas, esta atitude pode conduzir a pessoa à perda do controle alimentar. Hoje, as prescrições alimentares evitam a proibição de certos alimentos, para não provocar este tipo de tentação.
Quanto aos fatores orgânicos, a serotonina – veículo de transmissão de mensagens entre as células nervosas cerebrais – atua decisivamente em nossas atitudes alimentares. Os carboidratos, por exemplo, excitam naturalmente a produção destes neurotransmissores. Quando há uma drástica redução desta substância, por carência duradoura de carboidratos, a pessoa perde suas mais importantes rédeas do ato alimentar, abrindo assim espaço para a invasão da compulsão.