Pode-se falar sobre o déjà vu – ‘já visto’, em francês - sob o aspecto espiritual e também sob o ângulo da neurologia e da psicologia. Normalmente, porém, este sentimento está associado à estranheza. Ou seja, a pessoa vivencia a sensação de algo já ter ocorrido, ou de já ter estado em um determinado lugar, consegue prever o que ocorrerá no roteiro que está experimentando aparentemente pela primeira vez, mas que sente ser familiar, mesmo que pareça impossível já ter vivido esta experiência anteriormente.
Esta expressão tem extrapolado os manuais de neurologia e de psicologia, esvaindo para o senso comum e adquirindo, assim, conotações diversas, principalmente em filmes, músicas, na literatura e na cultura em geral. Nestes contextos, ela indica algo que parece familiar, qualquer experiência sem estranheza nenhuma, apenas guiada pelo seu sentido literal, algo ‘já visto antes’. Nos anais da psicologia, não se leva em conta qualquer fator de natureza espiritual, mas apenas processos químicos que envolvem o funcionamento do cérebro e dos mecanismos da memória. Alguns pesquisadores acreditam que esta impressão está conectada a uma vivência não concluída, não completada. Assim, algo na conjuntura atual leva á eclosão de uma fração das experiências passadas reais, mas das quais não se preservou senão uma tênue recordação. Segundo estes estudiosos, essa sensação pode ser conturbada, tanto mais quanto maior for a fragmentação mnemônica, que pode romper a ligação entre a realidade presente e a memória subentendida.
Isso pode ocorrer quando um fato foi vivenciado sem que se tivesse uma consciência muito clara dele, algo que passou despercebido, mas do qual restam vestígios na memória. Estes são despertados assim que alguma coisa vivida no presente se associa de alguma forma a este acontecimento passado. Mas este fenômeno também é relacionado a acontecimentos marcantes que se conservaram extremamente vivos em algum recanto das nossas lembranças. De repente, por um motivo qualquer, estas ocorrências passam a se manifestar e são então confundidas com eventos de uma existência anterior. Além dessas possibilidades, aventa-se também a alternativa da ocorrência de atividades neuroquímicas no cérebro, que se traduzem justamente por uma atitude de estranheza.
Do ponto de vista espiritual, pode-se afirmar que esta manifestação se expressa mesmo entre pessoas que não são ligadas a nenhuma religião, assim não é necessário nem que se acredite em reencarnação para se viver uma experiência desta natureza. Subitamente, o indivíduo sente uma comoção sem explicação despertar dentro de si, sob o impulso de um acontecimento determinado. É como se algum processo interior, de teor psíquico ou relativo à alma, levasse a pessoa a acreditar que já viveu aquela situação, causando em seu íntimo uma extrema emoção. Isto pode acontecer quando se conhece alguém e se sente imediatamente uma intimidade sem igual e um choque energético potente. Estas sensações podem acordar na alma lembranças de outras vidas, gravadas nos arquivos do espírito. Neste caso, a sintonia pode ser positiva ou negativa, provocando respectivamente sentimentos de atração ou de rejeição. Muitas histórias de amor à primeira vista, excluídos os casos que envolvem paixões e atitudes precipitadas, nascem desta forma.
Emile Boirac (1851-1917), um curioso pesquisador das faculdades psíquicas, foi o primeiro a utilizar a expressão ‘déjà vu’ para estes acontecimentos. Embora esta expressão se refira ao passado, na realidade é algo no presente que nos desperta para lembranças do que já passou, o que gera o sentimento de estranheza, fator que efetivamente distingue e define este fenômeno – esteja o fato pretensamente vivido no passado desta vida, ou em outras existências.