Os egípcios antigos acreditavam que após a morte de um indivíduo suas ações terrenas seriam ponderadas em uma balança, literalmente, em que seu coração – receptáculo daquilo que acreditavam guardar a essência da vida, ou alma, como comumente alguns chamam – era pesado no chamado Tribunal de Osíris. Talvez, esse pensamento antigo, tenha sido o mote para algumas pesquisas médicas no final do século XIX e início do século XX, que acabaram por criar um mito acerca do peso da alma.
O médico Duncan MacDougall construiu uma balança calibrada com imensa sensibilidade, ao ponto de medir pequeníssimas variações de peso. Este conduziu um experimento em que repousava sobre ela doentes em fase terminal e monitorava seu peso, na conclusão de seu estudou afirmou que após o último suspiro, a balança abruptamente indicava uma alteração no corpo do moribundo. Em sua medição o peso do corpo reduzia, então surgiu o mito moderno sobre o peso da alma: 21 gramas. Mito, pois o estudo científico não respeitou uma metodologia plenamente científica e sua amostragem era de um universo de 6 pessoas apenas, número muito reduzido para qualquer consideração.
E qual a relação sobre a história da alma e a história da psicologia? Muita coisa. Para tanto, basta dissecar a palavra em si, de origem grega, psychés significa alma e o sufixo logos, remente à razão, estudo de algo. A psicologia antes de obter o status de ciência, era algo que intrigava os filósofos, desde a Antiguidade. O filosofo grego, Aristóteles, possui um importante escrito como Da alma, em que reflete sobre aquilo que considera a essência dos seres, quanto a sua natureza, do que se alimenta e sua influência no intelecto dos seres humanos, por exemplo.
“Partindo do princípio de que o saber é uma das coisas belas e estimáveis, e que alguns saberes são superiores a outros quer pelo seu rigor, quer por tratarem de objectos mais nobres e admiráveis, por estes dois motivos poderemos com boa razão colocar a investigação sobre a alma entre os mais importantes. Ora o conhecimento 3 sobre a alma parece contribuir também largamente para o da verdade no seu todo [...]” (Aristóteles, 2010).
Ao longo dos tempos seguintes, diversos outros pensadores dedicaram-se em algum momento a refletir sobre tal questão que acreditavam estar intrinsicamente associada às faculdades mentais e a consciência do indivíduo. Até então, o termo em si, psicologia, sequer havia sido cunhado, mas tais reflexões incidem sobre um dos principais objetos de estudo da psicologia enquanto ciência: os processos mentais e o comportamento humano.
Saltando no tempo, é apenas no século final do século XIX que a psicologia passa a ser considerada uma ciência, especialmente, em razão dos trabalhos da psicologia experimental, conduzidos na Alemanha, inicialmente por Wilhelm Wundt, que em 1879 criou o primeiro laboratório de estudos psicológicos. A partir de então surgem variações que se estabeleceram com maior ou menor consistência e a aplicação, entre elas estão: o estruturalismo, o funcionalismo, o associacionismo, o behaviorismo, a gestalt e a psicanálise.
Brevemente, o estruturalismo propõe-se a estudar a “estrutura da consciência”, a partir de um determinado estímulo induzido no indivíduo e analisando e descrevendo o seu estado. O funcionalismo, por sua vez, tende a observar mentais, utilizando-se de análises fisiológicas e do comportamento. O associacionismo, muito utilizado nos estudos de psicologia dos animais, leva em conta as respostas, conexões e ações feitas a partir de um estímulo inicial. O behaviorismo está diretamente ligado ao estudo do comportamental. A palavra behavior, do inglês, significa justamente comportamento. A gestalt, termo alemão de difícil tradução para o português, mas que em linha gerais significa algo como forma, tenta analisar o todo, a totalidade dos indivíduos a partir de suas percepções do mundo que o cerca. Por fim, a psicanálise tenta compreender os distúrbios psicológicos a partir do inconsciente.
Dessas principais linhas de pensamento, especialmente a partir da segunda metade do século XX, deram a base para o desenvolvimento de outras linhas variantes, como neurociência (mais próxima da psiquiatria, mas não tão distante da psicologia moderna), a psicologia cognitiva e outras.
Bibliografia:
ARISTÓTELES. Sobre a alma. Lisboa, Portugal: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2010.
MIRANDA, Rodrigo Lopes. Resenha: História da Psicologia: (re)pensando objetos, métodos e discursos. Rio de Janeiro: Estudos e Pesquisas em Psicologia, vol. 13, nº 2, 2013. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812013000200019, acesso em 02 fev. 2022.
PALUDO, Simone. Construção histórica da Psicologia como ciência. Disponível em: http://sabercom.furg.br/bitstream/123456789/134/3/M_dulo_2_Constru_o_hist_rica_da_Psicologia_como_ci_ncia.pdf, acesso em 02 fev. 2022.
TELES, Antônio de Xavier. Psicologia moderna. São Paulo: Editora Ática, 1974.
VENTURA, Dalia. A curiosa origem do mito de que a alma humana pesa 21 gramas. BBC News Mundo, 25 ago. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53913485#:~:text=A%20ideia%20de%20que%20a,experimento%20de%20MacDougall%2C%20continua%20viva, acesso em 02 fev. 2022.