O homem, em sua evolução, passou por várias etapas. No princípio, quando ainda mantinha um estreito parentesco com os animais, nele predominavam os instintos. Mais tarde, as sensações e emoções se tornaram determinantes. Quando já se encontrava mais avançado em sua caminhada, o ser humano passou a valorizar os sentimentos. Isso não significa, claro, que o indivíduo tenha se despojado de todos os instintos, sensações e emoções, pois eles são extremamente necessários para a manutenção da vida humana. Cada uma destas fases existenciais tem sua função primordial para a sobrevivência da humanidade.
O instinto, do latim instinctu, é algo inato ao ser vivo, um tipo de inteligência no seu grau mais primitivo. Ele guia o homem e os animais que possuem um grau mais elevado em sua trajetória pela vida, nas suas ações, visando justamente a preservação do ser. Os instintos são adquiridos nas experiências vividas, no confronto com determinadas situações e nas respostas a elas, e então herdados pelas gerações posteriores. Eles se manifestam nos homens, na maior parte das vezes, através das reações a certas emoções.
É determinante para a conservação da raça humana a existência do instinto, pois ele nos motiva a agir quando necessário. Mas, certamente, o homem não deve mais, em sua etapa atual, se deixar dominar pelos instintos, do contrário ele se animaliza e pode cometer atos brutais. O instinto pode ser convertido em inteligência quando o indivíduo consegue agir movido pela vontade e pela decisão própria, não mais apenas por impulsos. Quando o sujeito age baseado primordialmente nestes, ele está atuando, segundo Sigmund Freud, no campo do princípio do prazer – aliás, esta concepção freudiana causou uma grande polêmica na época, pois a sociedade vitoriana não podia admitir que parte do seu ser era comandado, nos momentos de gozo e volúpia, por impulsos irresistíveis e repetitivos, independentes de sua vontade, e não por razões mais nobres.
Durante algum tempo, os terapeutas cognitivos colocaram a ideia freudiana do homem subjugado por instintos animais em plano secundário, mas atualmente neurocientistas como Donald W. Pfaff e Jaak Panksepp resgatam esse conceito, e mais, concebem o processo instintivo humano sobre nosso comportamento como algo ainda mais rudimentar do que foi imaginado por Freud. Segundo eles, somos mais parecidos com os primatas do que poderíamos supor. Na parte anatômica e química do que foi designado como ID, nosso cérebro é muito semelhante ao dos mamíferos que abrigamos em nossa morada como animais de estimação.
Há várias espécies de instintos, mas basicamente a psicanálise, fundada por Sigmund Freud, determina dois instintos principais, em luta constante dentro de cada um de nós – Eros, na esfera da vida, e Thanatos, na da morte. Eles governam nossas tendências naturais para a construção e a destruição. É essencial que eles estejam em equilíbrio, para que tenhamos um desenvolvimento mental e emocional saudável.
Costuma-se dizer que os instintos, quando se desviam de sua trajetória considerada normal, é convertido em pulsão – impulso do inconsciente que leva o indivíduo à ação com o objetivo de anular um estado de tensão. Diante de alguém que nos desperta uma atração sexual, a pulsão nos conduz a um ato concreto, caracterizado como objetivo sexual. Biologicamente, o instinto tem por fim a reprodução humana; psicanaliticamente, o foco na manutenção da espécie é substituído pela centralização na questão do prazer e, deste ângulo, os psicanalistas vêem o que se considera perversidade como mera pulsão, pois o que se realiza não é nada além da necessidade de relaxar uma tensão sexual. Assim, desse ponto de vista, essa forma sadia de união sexual não evidencia uma perversidade do instinto. Porém, isto não significa que não existam desvios sexuais, que extrapolam a conduta sexual normal e igualam o homem ao animal, ou melhor, muitas vezes o levam a um patamar inferior ao da maior parte dos seres considerados irracionais.