A melancolia – em grego ‘bílis negro’ – caracteriza-se por ser um estado mental depressivo sem uma causa definida. Assim como a depressão, ela também apresenta sintomas como a falta de ânimo e de energia para realizar determinadas ações. Freud, em seu clássico texto Luto e Melancolia, já previa uma certa dificuldade para definir esta condição emocional. Segundo o psicanalista, ela se assemelha ao luto, mas sem o contexto da perda. O problema na identificação da melancolia é que ela se manifesta de diversas formas, dificultando seu enquadramento em um bloco único.
Assim, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, definia a melancolia como um árduo estado de desânimo, de desinteresse pelas coisas do mundo, incapacidade de amar, contenção na realização de qualquer tarefa, baixa gradual da auto-estima, até alcançar um patamar de desejo de uma punição. Estes mesmos sinais estão presentes, segundo ele, no luto, exceto o desequilíbrio da auto-estima. Há muitos séculos, porém, Hipócrates já considerava a melancolia como uma doença. Através da sua teoria dos quatro humores do corpo – sangue, fleugma ou pituíta, bílis amarela e bílis negra -, ele detectava a presença do desequilíbrio do baço, influenciado por Saturno, associado por muitos, até hoje, a esta disfunção emocional. Segundo o médico, o astro induzia este órgão a expelir um excesso de bílis negra, que assim provocava a melancolia. Era comum na Idade Moderna atribuir a fatores astrológicos a capacidade de responder pelos caminhos do homem na Terra. Como as concepções mudam ao longo do tempo, na Renascença e no Romantismo estar melancólico representava um certo glamour, um status de aprimoramento da alma.
Nos dias atuais, a melancolia é considerada uma doença, e diagnosticada através de seus sintomas. O principal ponto de definição é a falta de motivação para este estado da alma, o que a diferencia do luto. Mas nem a psiquiatria moderna conseguiu definir exatamente esse mal emocional. Aliás, o próprio Freud, em sua obra, refere-se a ela como melancolia, depressão, depressão melancólica, como se fossem sinônimos, sem muita distinção entre os vários termos usados. Nesta época, a psiquiatria alemã substituía aos poucos a palavra melancolia pelo vocábulo depressão.
Alguns vêem a melancolia não só como uma doença, mas como um estado de espírito, algo passageiro. O sucesso desse tema, de qualquer forma, revela uma grande identidade do público com ele, tanto nos séculos passados, quanto nos tempos atuais. Ele é igualmente objeto de divagações filosóficas, e um assunto muito caro ao filósofo Walter Benjamin. Recentemente, o escritor Moacyr Scliar escreveu o livro Saturno nos Trópicos, no qual também explora esse filão. Para o autor, o que mais se aproxima do estado de melancolia é o sono, porque ambos conduzem a um certo entorpecimento, à falta de ação, a uma carência de iniciativa própria. A literatura brasileira está repleta de protagonistas que tendem para o humor melancólico – o médico de O Alienista, de Machado de Assis, e o mais conhecido, o Jeca Tatu, de Monteiro Lobato.
O tratamento convencional da melancolia baseia-se antes de tudo em antidepressivos triciclicos, nos inibidores do condutor da serotonina e da enzima MAO ou, nos casos mais radicais, a terapia convulsiva. Muitas vezes, porém, terapias tradicionais podem ajudar o paciente a encontrar a razão de seus sentimentos, e assim auxiliá-lo a encontrar a cura.