O amor, no mundo moderno, envolve sempre emoções intensas, mesmo quando se manifesta de uma forma mais calma e equilibrada, nos momentos de generosidade, de afeto carinhoso, ou quando se está saudoso de alguém. De qualquer forma ele possui hoje, na língua portuguesa, inúmeros sentidos, tais como amizade, piedade, comiseração, desejo, paixão, encanto, entre outros.
Mas, ao estudarmos as origens desta expressão, percebemos que em tempos remotos, na Antiguidade Clássica, não se via o amor como um afeto mais forte; sua vertente romântica ainda não era conhecida, e esse conceito de uma emoção poética e veemente deixaria os gregos e romanos antigos transtornados. Apesar disso, não se deve imaginar que eles fossem frios e indiferentes; apenas esta modalidade sentimental, ao ser experimentada, deveria ser eliminada.
Este sentimento passou a existir junto com o ser humano, mas seu significado se modificou ao longo do tempo e através de incontáveis culturas, conquistando historicamente um status cultural, conforme a época e a civilização em questão. Atualmente seu sentido mais comum está relacionado ao estabelecimento de uma ligação afetiva com o outro ou um determinado artefato que tenha a propriedade de acolher esta sensação, e de retribuí-la emitindo impulsos sensoriais e psíquicos indispensáveis a sua preservação.
Os romanos da Antiguidade, porém, conferiam ao amor um sentido passivo, o qual levava os cidadãos de Roma a conceberem esta expressão com a conotação ‘ser amado’, não amar. Em algum momento indefinido da história desta civilização, possivelmente por pressão dos germanos, este termo conquistou um significado ativo; agora o ser não apenas recebia o afeto, mas também o concedia a outrem.
Já os gregos utilizavam quatro verbos para se referirem ao amor, e somente um deles se referia ao sentimento predominante entre casais. ‘Filéo’ é o amor fraterno; ‘Agapeu’ está relacionado ao prazer e ao desejo, ao sentimento cultivado na relação marido/ esposa; Stergo tem o sentido de afeto protetor, estabelecido entre familiares; e Eros é o sentimento envolvido na relação homem/ mulher.
Platão revela, no seu diálogo Fedro, a concepção de Sócrates sobre as origens do sentimento voluptuoso; a Humanidade o via como Eros, o ser provido de asas, enquanto as divindades o definiam como algo menos singelo: ptérôs, aquele que doa asas.
Esta conotação sagrada revela que o amor é não só autônomo, mas, não cabendo em si mesmo, deseja partilhar com alguém este sentimento. Alguns estudiosos acreditam que seu real sentido reside na intersecção destas duas significações, Eros e Ptérôs. Ou seja, o ser ama o outro e, ao mesmo tempo, percebe que ama a si mesmo.
Fala-se em amor platônico como um sentimento utópico, indiferente a qualquer conveniência ou prazer, o protótipo do afeto não concretizado, proibido, completamente puro. Mas esta é uma visão idealizada, fruto de uma compreensão equivocada da obra de Platão, uma vez que ele situa este sentimento no mundo das ideias, mas não se pode esquecer que este universo das verdades eternas é bem concreto e palpável para o filósofo.
Assim, segundo Platão, o amor é carência; quem ama procura no alvo de seu sentimento a Ideia que um dia contemplou enquanto sua alma estava desligada do corpo, a qual ele não encontra no plano material, pois sua reprodução sensível não lhe basta. Mas ele preenche este vácuo e ganha plenitude em uma relação correspondida.
Com a passagem dos séculos o amor e a paixão se libertam do sentido passivo e conquistam a conotação ativa; várias expressões têm seus significados transformados, pois a língua é um instrumento totalmente seletivo; assim, ela realiza suas opções e destaca o que é mais importante, segundo as preferências de cada sociedade.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Amor
Língua Portuguesa Especial. Etimologia. As origens do cotidiano. Ano I/ Janeiro de 2006.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/psicologia/o-sentido-da-palavra-amor/