Por Ana Lucia Santana
As pessoas com transtorno de personalidade não têm o que se considera um padrão normal de vida – do ponto de vista estatístico, ou seja, comparado ao modo de viver das outras pessoas. Esta perturbação atinge todos os pontos da personalidade de uma pessoa que causam uma ação nos que a cercam e sobre o contexto em que habita – na forma de demonstrar seus sentimentos, nas atitudes sociais.
O portador deste transtorno provoca danos a si mesmo e aos que com ele convivem. Quando as mutações na personalidade se tornam persistentes, embora não caracterizem nenhuma mudança patológica, elas compõem então o Transtorno de Personalidade, conhecido também como Ego Patológico.
É preciso compreender, primeiro, o que é um traço de personalidade. Este é a tendência de cada um, seu modo de ser permanente. Por exemplo, alguém tem inclinação para ser teimoso, então se pode afirmar que a teimosia é um traço de sua personalidade, depois que esta atitude se enraizou em sua maneira de agir. Assim sendo, o comportamento de um indivíduo é a soma de todos os seus traços de personalidade. Como então distinguir uma pessoa da outra? Pela forma como cada um vivencia estes traços – com maior ou menor força e amplitude.
Quando certos contextos com os quais as pessoas estão familiarizadas subitamente se transformam, algumas delas não conseguem adaptar seus traços de personalidade às novas circunstâncias. É como se elas fossem prisioneiras do seu modo de ser e, não sendo capazes de se adaptar ao novo, ao desconhecido, seus traços de personalidade passam a lhes perturbar, bem como aos seus parentes e amigos.
Muitas vezes o comportamento de alguém passa a não corresponder a determinadas expectativas dos padrões culturais atualmente em vigor, tanto na área da impressão de si mesmo, das outras pessoas ou de alguns acontecimentos, quanto no campo afetivo, envolvendo a vantagem ou não das réplicas emocionais; no andamento das relações entre as pessoas, bem como no freio dos impulsos. Outras vezes, suas atitudes tornam-se intransigentes, com sérias conseqüências.
Outra característica deste transtorno é a ausência de bem-estar nas interações sociais e profissionais. Este processo tem início, geralmente, na fase da adolescência ou, no máximo, assim que o sujeito se torna adulto. É necessário ter certeza, antes de se valer deste diagnóstico, que não há a ocorrência de nenhuma outra patologia, o uso excessivo de determinadas substâncias químicas, nem mesmo a incidência de problemas orgânicos ou de lesões cerebrais. Certas perturbações desta natureza não devem ser analisadas como transtorno de personalidade em menores de 18 anos.
Deve-se distinguir o transtorno de personalidade, como caracterizado acima, dos Transtornos de Alteração da Personalidade, que ocorrem a partir de um certo momento, desencadeados normalmente por um evento traumático ou um estresse grave. Para se definir melhor este fenômeno, os pesquisadores costumam subdividi-lo em várias categorias.
Classe A – Transtornos excêntricos ou estranhos:
- Transtorno de personalidade esquizóide: embaraços na hora de interagir socialmente e de revelar os sentimentos. Pessoas indiferentes e solitárias.
- Transtorno de personalidade esquizotípica: forma mais suave de esquizofrenia. Presença de pensamentos nada comuns.
- Transtorno de personalidade paranóide: desconfiança constante em relação às pessoas.
Classe B - Transtornos dramáticos, imprevisíveis ou irregulares:
- Transtorno de personalidade anti-social: pessoas insensíveis aos sentimentos dos outros. Não desejam se adaptar às leis vigentes.
- Transtorno de personalidade histriônica: seus portadores estão sempre se desdobrando para ser o centro das atenções.
- Transtorno de personalidade limítrofe: interações afetivas intensas, porém caóticas e carentes de organização; instáveis e impulsivas.
- Transtorno de personalidade narcisista: caracteriza os apaixonados por sua própria imagem.
Classe C – Transtornos ansiosos ou receosos:
- Transtorno de personalidade dependente: pessoas muito dependentes afetiva e fisicamente de outros.
- Transtorno de personalidade esquiva: aqueles que são portadores de uma timidez exagerada.
- Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva: não confundir com o TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo). Indivíduos que têm uma tendência para serem perfeccionistas, severos, impertinentes com eles mesmos e com os outros; são muito frios e submetidos constantemente a uma intensa disciplina.