Desde que os primeiros curiosos iniciaram a busca pelo conhecimento científico, a proposição de mecanismos lógicos para explicar fenômenos é uma constante. De físicos a geólogos, passando pelos teóricos da conspiração e entremeando-se nas ciências sociais e seus modelos explicativos, diversos procedimentos são propostos na tentativa de analisar os fenômenos.
A Química, como área do conhecimento solidamente constituída no decorrer dos séculos, também lançou mão de procedimentos analíticos na observação de seus fenômenos. Através dos conhecimentos herdados de alquimistas, os primeiros químicos iniciaram uma longa jornada de interpretação desta ciência que acabaria por culminar com a criação da química analítica. O desenvolvimento de procedimentos ainda continua sendo realizado por químicos de todas as áreas, mas atualmente se concentram procedimentos e técnicas nesta macroárea e os químicos que a ela se dedicam são responsáveis pela atualização, desenvolvimento e consolidação de novos processos de análise química, além da elucidação dos preceitos teóricos destes processos. Alinhados com o desenvolvimento tecnológico atual, os procedimentos analíticos da química encontram aplicabilidade em praticamente todo o setor produtivo da sociedade.
A análise química qualitativa ou química analítica qualitativa, subdivisão da química analítica, é responsável pelo desenvolvimento de procedimentos que visam à identificação dos constituintes de uma determinada amostra, podendo estes constituintes ser elementos químicos, íons ou moléculas. Trata-se de evidenciar a presença de determinado constituinte na amostra, demonstrando esta presença através de transformações químicas que alteram algum tipo de qualidade do sistema. As mudanças no sistema reacional podem ser várias: da formação de material insolúvel (que pode precipitar-se ao fundo do recipiente, daí o termo “formação de precipitado”) à mudança de cor no sistema. A tabela a seguir traz alguns dos aspectos qualitativos que podem ser modificados e/ou observados em uma transformação química.
Aspecto qualitativo alterado | Interpretação mínima possível |
Mudança de cor | O produto formado altera as propriedades do meio. |
Formação de precipitado insolúvel | O produto, insolúvel no meio úmido em questão, é formado e pode ser separado do sistema. |
Desprendimento de gás | O produto formado é gasoso, e após a purificação é possível qualificá-lo através de outros testes. (teste de chama, por exemplo). |
Tabela 1. Alguns aspectos qualitativos das transformações químicas
Embora pareçam parâmetros “óbvios”, para os químicos estas informações fornecem pistas da identidade da substância. Para comprovar este raciocínio, utilizemo-nos do exemplo a seguir, oriundo de observações feitas por personalidades da história da química, no século XIX.
No início da química orgânica discutiam-se os procedimentos necessários à identificação dos compostos que continham carbono. Buscava-se identificar através da combustão os gases CO2 e H2O, que seriam indicadores qualitativos da presença dos elementos carbono e hidrogênio nos compostos estudados. Para evidenciar tal presença, diversos procedimentos foram pensados e na tabela a seguir encontram-se dois deles.
Procedimento | Justificativa de escolha |
Borbulhar os gases da combustão em hidróxido de bário | Há reação entre o gás carbônico e o hidróxido de bário, formando carbonato de bário que é insolúvel e precipita. |
Passagem dos gases em sulfato de cobre anidro | A água formada na combustão ao passar pelo sulfato de cobre anidro (CuSO4 – pó branco), hidrata-o, formando o sulfato de cobre penta-hidratado (CuSO4.5H2O) de cor azul. |
Tabela 2. Procedimento qualitativo de identificação de carbono e hidrogênio
Este fato demonstra como a análise química qualitativa foi e é importante no desenvolvimento das ciências, ofertando soluções e métodos novos frente a novos desafios.
Referências bibliográficas:
Fundamentos de Química orgânica / coord. Marcello de Moura Campos; autores Luciano Francisco Pacheco do Amaral [et al.] – São Paulo: Edgard Blücher, 1980. p. 11 – 38; p. 1 a 3.
VOGEL, A. I. Química analítica qualitativa. {tradução por Antonio Gimeno} 5. ed. rev. Por G. Svehla – São Paulo: Mestre Jou, 1981.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/quimica/analise-qualitativa/